Divagar divagarinho

Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!
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27 de fevereiro de 2007

 

Coisas sem título

Eu sobrevivo. Tem uma música que tem uma letra assim, mas eu não entendo inglês. Mas estou cantando ela, assim mesmo.

26 de fevereiro de 2007

 

Agora sim...

...acho que ficaram as cores que eu queria.

 

Romance no deserto.

(No meu caso, é menos romance e mais deserto,

mas eu adoro essa música)


Eu tenho a boca que arde como o sol
O rosto e a cabeça quente
Com Madalena vou-me embora
Agora ninguém vai pegar a gente

Dei minha viola num pedaço de pão
Num esconderijo e uma aguardente
Mas um dia eu arranjo outra viola
E na viagem vou cantar pra Madalena

Não chora não querida que este deserto finda
Tudo aconteceu e eu nem me lembro
Me abraça minha vida, me leva em teu cavalo
Que logo no paraíso chegaremos

Vejo cidades, fantasmas e ruínas
A noite escuto o seu lamento
São pesadelos e aves de rapina
No sol vermelho do meu pensamento

Será que eu dei um tiro no cara da cantina
Será que eu mesmo acertei seu peito
Vem, vamos voando minha Madalena
O que passou, passou, não tem mais jeito

Naquela sombra vou armar a minha rede
E olhar os solitários viajantes
Beber, cantar e matar a minha sede
Lá longe onde tudo é verdejante

Não chore não querida que este deserto finda
Tudo aconteceu e eu nem me lembro
Me abraça minha vida, me leva em teu cavalo
Que logo no paraíso estaremos

O padre vai rezar uma prece tão antiga
Domingo na capela da fazenda
Brinco de ouro e botas coloridas
Nós dois aprisionados nesta lenda

Ouço um trovão e penso que é um tiro
A noite escura me condena
Não sei se vivo, morro ou deliro
Depressa pegue a arma, Madalena

Tem uma luz por traz daquela serra
Mira, mas não erra minha pequena
A noite é longa e é tanta terra
Poderemos estar mortos noutra cena

Não chora não querida que este deserto finda
Tudo aconteceu e eu nem me lembro
Me abraça minha vida, me leva em teu cavalo
Que logo no paraíso dançaremos


 

Punhal de prata

Geralmente, escrevo por ter vontade, quase necessidade de escrever. Claro que a escrita possui muitas vantagens, como seu efeito terapêutico, o exercício da escrita, o exercício da articulação das idéias... Mas todas estas vantagens são secundárias comparadas à vontade que sinto de escrever. Se escrever não trouxesse vantagens, ou, mesmo, trouxesse desvantagens, eu seria uma pessoa doente, se acabando por causa da escrita, como qualquer dependente químico.

Assuntos surgem: alguns eu considero importantes, se não escrevesse sobre eles, falaria, faria música, desenharia, qualquer coisa; outros são apenas ocasiões para se escrever; e existem aqueles que não precisariam ser escritos, mas escrevo na falta de outros assuntos. Certas coisas, porém, eu não gostaria de escrever. Simplesmente porque nõ gostaria de ter acesso a essas coisas. Quer dizer, por mais inútil que seja um assunto, se eu escrevo sobre ele é porque tenho acesso a ele. Você somente escreve sobre algo que, de alguma maneira, aconteceu com você. O tipo de experiência que você teve pouco importa para a escrita. Talvez importe para a sua credibilidade, ou para a maneira como você escreva. Mas não para a escrita - se não fosse assim, não teríamos A Terra das Mulheres ou Admirável Mundo Novo.

Bom, quero apenas dizer que desta vez não sei se escrevo devido a minha necessidade de escrever, se tendo em vista os fins terapêuticos da escrita, ou se escrevo apenas porque, no momento, é o que me resta. Ainda por cima tenho que escrever sem citar nomes de pessoas ou de instituições, nem de cidades, nem de nada, porque esse blog é para ser anônimo (se bem que as pessoas envolvidas naquilo que já escrevi aqui, se lerem, dificilmente não saberão quem eu sou, mas, enfim, não sirvo muito para viver em esconderijos - se bem que este aqui está durando).

A questão é que trabalho com funcionários públicos. Ganho mal e trabalho muito, embora eu ganhe mais e trabalhe menos do que alguém que exerça a mesma função em uma empresa privada.
No funcionalismo público você encontra gente de todos os tipos: desde gente muito boa até gente muito ruim. Mas mesmo as pessoas ruins são, não sei como dizer, aproveitáveis: conheci gente desgraçada, mas de quem eu pude aprender alguma coisa. E tem as pessoas doentes. Gente invejosa.
Se uma pessoa me disser que sente inveja da Gisele Bündchen, ou do Bill Gates, por exemplo, eu acharia idiota, mas compreensível: se o seu sonho é o dinheiro do Bill Gates, ou, em caso de maior ambição, a beleze e o dinheiro como o que tem a Gisele, terá inveja. Não atenua a paspalhice d inveja, mas compreende-se. Agora, ter inveja de gente ralé como você, ter inveja de um colega que ganha praticamente o mesmo, é sinal de que você é uma pessoa muito podre e medíocre. Mais podre do que medíocre, se é que é possível. Pessoas assim são frieiras, cheiram como carne podre mas ainda viva, pois carne podre e morta, mais cedo ou mais tarde, pára de cheirar mal; se o mau cheiro vem da sujeira, basta lavar. Mas uma carne podre ainda viva, cheira mal enquanto o sangue correr por aquela podridão toda, e não há como lavar, o cheiro, a podridão é inerente àquela carne.
Uma das pessoas que trabalham comigo é assim. A outra é quase, mas sabe aquele tipo de vilão do qual você tem pena, afinal de contas? Como o cangaceiro do Auto da Compadecida: gente desgraçada por força das circunstâncias.

Mas não é dessas pessoas que quero falar. É de gente limpinha, bonita, simpática, que nunca lhe prejudicou, e o que está fazendo, você sabe que está fazendo honestamente com o coração na mão.

O que mais me incomoda são várias pessoas sorrindo para você, sendo simpáticas, amáveis, fazendo você até pensar "puxa, estou sendo agradável".
Eu às vezes acho muito pesada a minha lucidez. Mas não a troco pela ilusão de pensar que sou agradável quando não sou. Prefiro que uma pessoa aponte o dedo para mim e diga que não gosta de mim do que... enfim.
Não gosto que as pessoas armem para cima de mim pelas minhas costas. Prefiro que me chutem diretamente. Não gosto de armadilhas. Não gosto de, de repente, ver levantarem a cortina e dizerem "tchãrãããn!!". Não gosto de surpresas premeditadas pelas outras pessoas. Evito a paranóia, e não gosto quando a estimulam.
Sinto que talvez essa seja a única maneira de me estimular a ser filha-da-puta. E eu odeio filhadaputice - ainda mais quando me obrigam a agir assim.

Acho que estou escrevendo demais sobre nada.

Mas eu só queria deixar registrado que, cada vez mais, minha tendência a não confiar nas pessoas, em ninguém, ou talvez somente um pouco em pouquíssimas pessoas, cada vez mais essa tendência se reforça. Cada vez mais eu sinto que eu devo evitar ao máximo ter uma relação de proximidade, ou de convivência, com quem quer que seja, porque quanto mais você conhece uma pessoa, mais você descobre algo nocivo. Cada vez mais me convencem que essa conversa de ter uma relação saudável com os outros é papo-furado, e você deve ser como o príncipe de Maquiavel: dissimular ternura, e disseminar seu poder sobre as pessoas, dominá-las, para que ninguém venha lhe derrubar. Cada vez mais eu percebo que ficar no meu canto não basta, e que eu preciso realmente começar a atacar, viver em estado de guerra permanente, não baixar a guarda nunca. Já vivi assim e é difícil, cansativo e muito solitário. As pessoas não têm a obrigação de serem legais só porque eu acho que as pessoas têm de ser legais. Mas eu também não tenho a obrigação de esperar sempre que me ataquem, e cada dia mais eu vejo que eu é quem devo começar a atacar antes que me façam qualquer coisa, como se qualquer pessoa na rua fosse minha arqui-inimiga.
Me parece, cada dia mais, que a frase "o homem é lobo do homem" não é uma triste constatação, mas um aviso, um dos melhores avisos que alguém pode ouvir.

25 de fevereiro de 2007

 

Lamentações e muxoxos

Eu gostaria de não ser uma pessoa essencialmente ridícula. Não patética. Ridícula.
Não gostaria que o meu corpo tivesse um formato mais engraçado do que qualquer outra coisa. Aliás, eu gostaria de ter um corpo que me permitisse vestir qualquer coisa sem ficar com cara de piada. Não que eu ficasse bem vestino qualquer coisa. Mas que eu não precisasse escolher minhas roupas com a meticulosidade de quem escolhe uma casa a cada vez que vai sair.

Eu gostaria que as pessoas respeitassem "dor de cabeça", "mau-humor sem motivo", "vontade de não falar nada" quando fosse comigo, da mesma maneira que eu respeito quando é com os outros. Tudo bem que a minha natureza não me serve como desculpa para ações incompreensíveis, mas me colocar em um grupo de pessoas e não me respeitar simplesmente porque querem que eu faça parte desse grupo - e assim me tratarem como se eu fizesse - é um tormento diário.

Eu gostaria de saber porque quando eu ando na rua homens me olham com um interesse que, dependendo do meu humor, oscila entre o repugnante e o intrigante para mim. E gostaria de saber porque que quem eu quero que me olhe não me veja, ou me olhe como se eu fosse um pequeno espetáculo grotesco e curioso. Acho que também gostaria de ser menos um pequeno espetáculo grotesco e curioso - mas eu também me acho assim muitas vezes.

Eu gostaria de me tornar imperceptível, caso não haja saída. Se algum dia isso acontecesse, tudo bem, mas não desejo ser uma pessoa radiante e bela que desperta um olhar agradável de todas as pessoas na rua. Gostaria apenas que, se for para me perceberem de uma maneira que me cause repugnância ou vergonha, então que não percebam que estou ali. Se eu for em um supermercado, espero que a caixa me perceba; se eu fizer "ei, psiu!", espero que me percebam, também. Mas falo de quando se está andando na rua, e você sente os olhares das pessoas sobre você. Preferia que eles simplesmente não se dirigissem a mim se forem para ser como são. E gostaria de ter dinheiro para comprar roupas menos esmaecidas e acinzentadas. Acho que vou começar a me vestir somente de preto e branco.

Eu gostaria de não ser uma pessoa com um humor tão oscilante. Às vezes saio na rua com uma segurança incrível, e em outros dias, saio como se fosse um gato, com medo, sem jeito, como se tivesse aprendido a andar ontem. Gostaria de ter essa constância de humor que vejo nas outras pessoas, que, por mais que sejam algumas delas pessoas com as quais eu absolutamente não concorde, admiro essa capacidade de serem ordinariamente previsíveis - quer dizer, sei lá que reações teriam em situações inusitadas, mas no dia a dia, mantêm sempre um comportamento medianamente igual ao de sempre.

Eu gostaria de não questionar tanto tudo. Eu questiono e, como ainda não cheguei a nenhuma resposta, não tenho certeza de nada. Isso faz com que eu sempre esteja em cima de uma corda bamba, pois não consigo acreditar no hábito. Isso às vezes é difícil.

Acho até que às vezes eu gostaria de ser uma pesoa um pouco mais conservadora, um pouco mais tradicional, que eu tivesse um pouco mais de respeito pelas leis, pela tradição, pelas coisas respeitáveis que todo mundo respeita. Deve ser confortador para uma pessoa ajoelhar-se em uma igreja e ter a certeza de que alguém a conforta, ou pensar na Ciência e acreditar nela. Isso deve ajudar as pessoas a dormirem melhor de noite e serem mais produtivas.

Eu sei que nem mesmo eu confio em mim. Mas a verdade é que é um pouco ao contrário: eu desconfio tanto de tudo que nem em mim eu confio. Eu sei que as coisas não são estáveis, mas, por um lado, eu vejo tantas coisas estáveis à minha volta, e, por outro, vejo pessoas que têm algum tipo de estabilidade na vida: militares, padres, esposas, filhos, pais, essas coisas assim. Eu não consigo acreditar na estabilidade, estou sempre esperando o momento em que tudo acabará e recomeçará. Gosto de recomeçar sempre e sempre, mas hoje em dia minhas costas dóem, meus dentes dóem, minha cabeça dói, fumar só me dá falta de ar, beber só me causa dor de barriga e um gosto ruim na boca no outro dia, filmes são a maioria previsíveis (eu não sei o que farei quando terminar de ver todos os filmes antigos clássicos que ainda não vi), livros são raros os que valem a pena comprar (Lado B - Histórias de Mulheres é uma excessão e eu não posso passar o resto da vida comprando os livros dessa autora), e nem pizza mais é tão gostosa como era. Tudo muda, tudo passa... mas - e eu até gosto disso - mas eu às vezes canso um pouco e não consigo, sei lá, descansar.

Eu sei também que é o maior clichê-chavão-lugarcomum ficar escrevendo "eu gostaria que..." e "eu só gostaria de um pouco de paz". Mas acho que os clichês, no fim das contas, não são clichês por acaso.

24 de fevereiro de 2007

 

Y dale alegria, alegria a mi corazon

Te amo. Sempre que se ama, se espera que seja recíproco. Que o amor cause amor, como uma reação em cadeia. Amor que cause amor.
Mas o amor não funciona segundo as convenções que criamos para as coisas que conseguimos colocar sob o domínio das convenções. A paixão não tem sentido, e isso não quer dizer que amar seja uma coisa porra-louca, maluca, chapada. Quer dizer, simplesmente, que o amor nunca é convencional.
Uma das atividades mais desnecessárias do mundo é querer descobrir as causas da homossexualidade. As causas da homossexualidade são as mesmas causas da heterossexualidade, e as causas de ambas as coisas são a paixão. E a paixão não está no domínio das convenções.
A paixão, o amor, são coisas que estão na ordem do desejo, do gosto, do querer, do sentir. E desejo, gosto, sentimento, paixão, querer, amor, nunca são coisas convencionáveis.
Acho mesmo uma violência que algum cientista queira explicar porque uma pessoa ame outra. "Qual é a diferença entre uma pessoa homossexual e outra heterossexual?" "Qual é o gene que causa a homossexualidade?" As razões do amor não seguem as convenções. As convenções estão em um domínio, e a paixão em outro. Explicar uma coisa é torná-la convencional, e toda explicação que explique o amor já estão, por definição, errada.

Por isso é tão magnífico que duas pessoas se amem. Uma pessoa ama outra. A outra ama uma. Mas o amor de outra pela uma não acontece porque uma ama outra. E nem o amor de uma pela outra acontece porque outra ama uma. Essa é simplesmente a coincidência mais feliz do mundo.

Por isso que eu te amo mesmo sabendo que isso só pode me machucar. Porque o amor não tem explicação. Azar da minha parte que eu acabei te amando. Não é azar que eu ame, e sim que seja você quem eu amo. A paixão não tem a obrigação de deixar ninguém feliz. Quando duas pessoas se amam, ficam felizes e viva o amor. Quando somente uma pessoa ama, azar de quem ama e viva o amor.

Você não tem obrigação de me amar porque eu te amo. Nem a obrigação de merecer minha confiança. Quem deveria ter ouvido a própria intuição era eu. Erro meu, portanto. Não posso nem dizer que estou sofrendo, porque ninguém fez nada para mim. Eu não ouvi minha intuição. Só me resta desistir de todas as coisas, ou viver assim, sabendo que isso de amar, por mais que seja magnífico, não é para mim. Não por sua causa, mas você foi apenas mais uma evidência disto.

Existem pessoas que são amadas, e existem pessoas que não são amadas. Paciência. A mim ninguém me ama, e nem toda a piedade do mundo poderá resolver isso, o que é mais um motivo para que eu rejeite qualquer piedade. Aliás, esta é a única reclamação que eu poderia fazer de você: sua piedade. Se você foi capaz de trair minha confiança, foi porque não se tratava - como achei que fosse - de amizade, e sim de pena. Piedade é o sentimento mais falso e egoísta que existe, e disso você sabe muito bem. E não foi a traição da minha confiança que lhe tornou uma pessoa insuportável para mim. Foi a sua piedade.

Não posso dizer que não te amo mais, sei o quanto ainda vou sofrer por isso. Mas sei que você tem piedade por mim, e é isso que me manterá distante de você, por mais que isso doa - prefiro essa dor do que sua piedade, do que qualquer piedade, aliás.

Da minha parte,

Y dale alegria, alegria a mi corazon
Es lo unico que te pido al menos hoy.
Y dale alegria, alegria a mi corazon
Y que se enciendan las luces de este amor.

Y ya veras
Como se transforma el aire del lugar,
Y ya veras que no necesitaré nada mas.

Y dale alegria, alegria a mi corazon
Que ayer no tuve un buen dia, por favor.
Y dale alegria, alegria a mi corazon
Que si me das alegria estoy mejor.

Y ya veras
Las sombras que aqui estuvieron no estaran
Y ya veras que no necesitaré nada mas.

Y dale alegria, alegria a mi corazon
Es lo unico que te pido al menos hoy.
Y dale alegria, alegria a mi corazon
Afuera se iran la pena y el dolor.

Y ya veras
Las sombras que aqui estuvieron no estaran
Y ya veras que no necesitaré nada mas.

23 de fevereiro de 2007

 

Fuga das galinhas

É um comentário totalmente fora de contexto (como quando eu estava falando com um amigo meu sobre o gosto que temos pelos trailers dos filmes, e eu disse que eu deixo tocar os trailers como se fosse uma fita VHS - agora vem o comentário fora de contexto - e quando o DVD tranca, eu até digo "ih, rasgou a fita!!"...), mas é que enquanto eu estou vegetando na frente do computador, estou assistindo o noticiário da globo: é impressão minha ou as simulações que a globo faz são com bonecos de massinha??
Por outro lado, o que não é programa de ficção na globo? Acho que antes de todos os programas (inclusive os noticiários) deveriam colocar aquela frase: "qualquer semelhança com fatos ou pessoas reais é mera coincidência".

 

Música do dia

Je ne t'aime plus
Mon amour
Je ne t'aime plus
Tous les jours

Segundo o Babel Fish, a tradução é:

Eu não te amo mais
Meu amor
Eu não te amo mais
Todos os dias

Acho muito bom, ótimo, lindo, é o meu sonho dizer "eu te amo".
Mas às vezes é libertador poder dizer "eu não te amo" sem bater na madeira.

Bom, je me t'aime - em português: eu não te amo. Só para ficar claro. Sei lá, vai que se perde alguma coisa na tradução.

 

Os mitos e sua influência no mundo moderno

Este título é de um texto muito mais relevante e interessante (outras qualidades do texto que tem, originalmente, este título: foi feito por uma causa melhor - passar no vestibular; o assunto deste texto é muito mais pertinente ao mundo em que vivemos, quero dizer, vou falar também de um assunto pertinente ao mundo em que vivemos, mas o texto de onde roubei o título fala de um problema maior do que o meu; além do mais, falando em estilo, o texto que teve seu título roubado por mim tem um estilo muito melhor do que o que escreverei). Roubei-o porque também vou falar de mitos. De uma maneira mais tosca, é verdade. Como eu não posso copiar o texto e dizer que é meu, nem teria graça copiá-lo aqui, roubo o título, fazendo ao mesmo tempo uma homenagem ao texto original e fazendo referência a um texto melhor do que o meu, na esperança de que, de maneira meio subliminar, as pessoas achem meu texto legal, no mínimo, por ter um título legal que não é porque foi roubado que perde seu valor. Claro que, se eu não tivesse roubado o título, eu não teria que gastar tanto fôlego apenas para me explicar. Mas, tudo bem, eu gosto de escrever.

Em 13 de abril de 2029, um asteróide vai passar de raspão pela Terra, na mesma altura em que ficam os satélites, só para ter uma idéia do quão perto o asteróide vai ficar.
No site do jornal El País, de onde eu tirei essa informação, colocaram um vídeo junto com a reportagem. O vídeo, pouco criativo, mescla cenas de Armagedom e falas de físicos explicando como será o futuro (não todo o futuro, só o do asteróide).
No vídeo, o físico deixa bem claro que não precisamos nos preocupar, existe uma chance entre 50.000 de que o asteróide bata na Terra e, se der a zebra, ainda assim a União Européia tem um plano para nos salvar.
Mas não foi o asteróide, a União Européia, nem o que o físico falou para acalmar o restante dos terráqueos. Foi como ele falou.

Sabe como você falaria com sua mãe se tivesse se acidentado de carro e, depois de sair do hospital, fosse contar para ela? "Oi mãe, assim, não te assusta, está tudo bem, mas eu me acidentei de carro, mas já me medicaram e eu estou ok."
Não sei se isso está claro. Você fala com toda a calma, para não alarmar, não assustar o coração da sua pobre mãe, fala com jeito, com calma, sorrindo, como se não fosse nada, até sorri enquanto fala, parece até que está falando da novela ou contando um causo sem importância.
Bom, não sei se deu para entender o que eu disse, mas era dessa maneira que o físico dizia "mas existe somente uma chance em 50.000 de que o asteróide nos acerte, e temos um plano para evitar que isso aconteça, caso corramos esse risco".
Porque ele falou desse jeito? Porque a população pode se alarmar, pessoas podem se matar, seitas tomarão veneno para encontrar o senhor antes do juízo final, as lojas serão saqueadas, o caos tomará conta do mundo e não haverá mais nada para o asteróide destruir já que a população já terá toda morrido devido ao pânico que se formou.
Mas, com exceção do filme Armagedom e outros do gênero, e da imaginação dos físicos, alguma vez já se viu acontecer isso?
A mesma coisa sobre o suicídio. Não se divulga notícias sobre suicídio porque as pessoas tem medo que algum maluco se anime a se matar, já que leu no jornal que o vizinho fez isso.
Claro, ao que me conste, ninguém se mata porque o vizinho se matou. Mas quem se preocupa com isso? Ninguém parou para pensar que, se for assim, homicídios não deveriam ser noticiados porque alguém pode ficar com vontade de matar os outros porque viu o comando vermelho dando tiros no Rio de Janeiro? Não se poderia falar de países árabes na TV, pois se correria o risco de que todo mundo quisesse virar muçulmano.
Claro que, eu também acho, dependendo de como se notícia um suicídio, é bem capaz mesmo de aparecer uma carta de despedida dizendo que a criatura se matou porque leu no jornal. Mas é só falar com jeito.
Tenho uma professora (não tenho mais aulas com ela, nem a vi nunca mais, mas ainda a considero minha professora porque até hoje ainda aprendo com ela) que dizia que vocÊ pode falar qualquer coisa, para qualquer pessoa, em qualquer momento, basta você falar da maneira certa.
Quer dizer, são mitos: o mito de que o mundo entrará em pânico se disserem que tem um asteróide vindo em direção À terra, e o mito de que as pessoas se matam porque leram no jornal.

Não é nada, talvez seja implicância minha. Mas se continuarem tratando as pessoas, o populacho, o povão como criança, continuaremos tendo uma população com o mesmo nível mental das crianças do prezinho.

 

Rockxixe

Uma análise um pouco mais criteriosa e apenas um pouco menos passional dos fatos (se você, como eu, não tem a menor paciência de ouvir chororô de gente descornada e outros afins, visite meus links, que são muito interessantes, e não perca seu tempo lendo este post).

Eu sei quando uma pessoa, mesmo convivendo comigo, pode ser nociva. Não que essa pessoa seja o fel em si (eu não sei bem o que é fel, mas boa coisa não deve ser), mas o que não faz mal a uma pessoa pode até ser fatal para outra (um exemplo disso é aquele meninnho do filme Meu Primeiro Amor, que morreu de picada de abelha) (aliás, fizeram uma continuação desse filme - um contrasenso chamado Meu Primeiro Amor 2 - muito ruim, que parece com os novos mutantes, os quais podem muito bem ser novos, mas não têm nada de Os Mutantes).

Mesmo sabendo que uma pessoa pode ser nociva... O problema é que eu fiz exatamente aquilo que eu critico nas outras pessoas: achei que poderia mudar alguém. Não que eu pense que uma pessoa pode mudar outra. Mas pensei que eu pudesse mostrar que existem coisas legais em não se viver uma vida de verme - não que a vida que eu leve seja gloriosa, esplendorosa, e que eu não tenha meus dramas, meus traumas e meus contrasensos absurdos, mas não levo uma vida de verme.

Falando bem por cima e superficialmente, viver uma vida de verme é fazer da condição de parasita um modo de vida. Não que seja possível não ser nunca parasita: você sempre parasita aquilo do que você gosta. Parasitar, neste caso, não é algo degradante. É só mais uma dentre tantas maneiras pelas quais se estabelece uma relação com uma pessoa ou com outra coisa - e nunca se tem apenas uma relação com uma pessoa. Mas fazer do parasitismo um modo de vida é depender dessa condição de parasita, é ser parasita quase full time.

E tudo bem que uma pessoa queira ser parasita. É um modo de vida. Mas muitas pessoas se fodem querendo parasitar, acabam sendo nocivas a si mesmas. E certas pessoas acabam vivendo dessa maneira.

Não que eu tenha sido a pessoa parasitada - eu teria que ser muito interessante para que isso acontecesse. Mas praticamente tudo é passível de ser parasitado: um marido rico, uma esposa submissa, os pais de alguém, e também é possível parasitar o próprio passado, por exemplo.

***

Eu detesto pessoas humildes - quero dizer, pessoas que compreendem "humildade" como "pedir desculpas por existir". Por isso, espero não parecer humilde. Mas sou uma pessoa muito tolerante com a cavalice e a grosseria alheia. Já levei as patadas mais fortes, já passei por grosserias muito além do simples ouvir desaforos. E às vezes preferi continuar a amizade com quem me sentou as patas ou fez alguma grosseria para mim, por diversos motivos. Mas uma patada, ou uma grosseria, depende menos do seu conteúdo, da grosseria em si, do que do contexto e da situação - e da pessoa - de onde veio.
Por isso, dessa vez, vou me ofender com isso.

Não importa que se perca um relacionamento muitas vezes legal e interessante. Não importa que eu tenha medo que uma pessoa se foda de vez na vida (o que eu realmente espero que não aconteça - existem muitas maneiras de não se ferrar na vida e espero que a criatura descubra-as), não importa que eu possa estar jogando fora uma convivência legal, não importa o que eu tenha descoberto nessa pessoa e em mais ninguém - e nem o meu medo de não encontrar mais isso; não importa.

Não importa e nem desimporta nada. Não me sinto melhor nem pior fzendo isso. Eu nem deveria estar escrevendo tudo isso.

Só que, desta vez, não ficou tudo bem.

22 de fevereiro de 2007

 

Mudança de planos

Eu ia falar do Poderoso Chefão, que eu assisti hoje à tarde. Ia dizer alguma coisa sobre a diferença entre este filme (a parte 1, pelo menos) e Os intocáveis, que O Poderoso Chefão é um filme sobre relacionamentos, relações de poder, as diferentes configurações que as relações assumem, sobre lealdade, enfim, um filme rico, enquanto que Os intocáveis é apenas um filme sobre como devemos cumprir a lei, quer dizer, um filme que heroiciza o a)homem b)cumpridor da lei, e se torna em um convite a idolatrar a lei. O Poderoso Chefão também é machista, mas não é construído em torno da masculinidade. Já falei demais sobre isso.

Vou falar de um assunto uma última vez, eu espero.

É muito fácil me fazer de idiota. Acho que nem quem me faz de idiota percebe o quanto é fácil o que faz. As pessoas que me fazem de idiota devem pensar "não, tu tá se fazendo de idiota", ou "te peguei num péssim dia, né?". Mas, não. Ordinariamente eu sou idiota, dia-a-dia é fácil me pegar.

Se eu for acompanhar você até sua casa, como faço todos os dias, por exemplo, e hoje você se vira e me pergunta "onde tu vai?" e eu respondo "vou contigo até a tua casa", e ouço de você "mas eu não te pedi nada", eu só posso dizer, então "ah, bom, que bobice da minha parte. Tchau."

Eu não sei se eu vou conseguir expressar claramente o que eu quero: se fosse desprezo, você teria dito antes - meses antes - de alguma maneira que tem o mais absoluto desprezo pela minha companhia. E desprezo é uma das poucas coisas que, por mais que eu já tenha passado por isso, ainda consegue me machucar. Outros tapas eu quase nem sinto.

Uma pessoa que me faça isso, está obviamente simulando desprezo. E faz isso porque alguma coisa lhe incomoda. Se é em mim que algo incomoda, doente é você que andou comigo ese tempo todo. Se não é doença, é falta de companhia melhor: mas se você precisa andar comigo pensando que poderia estar com gente mais legal, você é uma pessoa muito medíocre - não porque anda comigo, mas porque se obriga a andar com quem não queria.

Se você estava de mal com a vida e resolveu descontar em mim, somente prova que não merece a confiança que comecei a lhe dar, e se transforma, para mim, em qualquer pessoa. Em uma pessoa qualquer. Entre você e uma lagartixa, a princípio fico com a lagartixa, que pelo menos come mosquitos e mosquitos me irritam. Pode ser que, caso você e uma lagartixa sejam atropeladas, eu prefira levar você ao hospital - mas por mera solidariedade humana, coisa que qualquer pessoa tem da minha parte sem esforço, ao contrário da lagartixa que é relevante para mim. Eu tenho uma dificuldade incrível, exorbitante para confiar em alguém, e uma facilidade levíssima em decidir que me enganei.

Suponhamos que fosse mesmo desprezo autêntico por mim: maior será sua mediocridade, que anda com pessoas que acha desprezíveis. "Ah, mas eu fui na sua casa, comi sua comida, assisti filmes na sua casa, você me deu presentes de natal: eu te usei e agora estou te jogando fora!" Nesste caso: a) você podia ter me usado melhor, tenho vergonha de ter sido um objeto nas mãos de alguém com uma visão tão curta, b) eu não preciso usar as pessoas para conseguir coisas que o governo me daria, me exigindo apenas o preenchimento de um cadastro. c) se me usar é prova de superioridade sua (quer dizer, se você me usou apenas para se sentir superior), não serei eu quem lhe informarei que somente pessoas inferiores têm necessidade de provar superioridade, e que eu, que nunca fui superior a ninguém, me torno superior a você - não que eu aumente meu status, mas você é quem se rebaixa.

Agora, você conseguiu mesmo me fazer de idiota - o que não requer esforço algum.

E foi com isso justamente que eu vi, maravilhoso, eu aprendi que sou mais forte que você.

O que eu quero dizer é: não é pela sua atitude que lhe acho medíocre. Outras pessoas que fizessem isso comigo me machucariam, mas não você, e você deveria ter percebido isso. Lhe acho medíocre porque somente as pessoas medíocres precisam pisar nos outros, e somente pessoas medíocres não percebem que suas patas não machucam ninguém.

21 de fevereiro de 2007

 

Dor de dente

Nestas horas eu lembro de uma música muito popular quando eu era (ainda mais?) criança: "tem muita gente-te inteligente-te, que não escova o dentinho da frente-te: mas um dia vai comer um pão bem quente-te, e lá se foi o dentinho da frente-te." Puro terrorismo infantil: você ficará banguela se não escovar o dentinho da frente, só falta uma gargalhada fatal no fim: huahuahuahuah. Sei lá, poderiam "focar" mais em fazer as crianças se preocuparem com a saúde, e se preocuparem com os dentes em função da sua saúde.

Pois-pois: quando eu era menor, escovava pouco meus dentes, e, como não caíam, não me preocupava em escová-los - afinal, a ameaça nunca se cumpria.
Depois de grande e, digamos, responsável pero no mutcho, comecei a me preocupar mais (porém não tanto) com a minha saúde, e isso incluiu escovar os dentes. Mas alguns dos meus dentes já eram paredes velhas cheias de rebocos que volta e meia preciso retocar, e, até eu criar coragem e dinheiro para ir no dentista, haja paracetamol (já estou criando toleância ao remédio) para aguentar.


Enfim, dói.
Se bem que, como diz meu pai: "ah, tá doendo os dentes? é sinal que tem dentes, que bom!"
(Depois não sabem porque eu era uma criança revoltada...hehehe)

 

Um texto

Uma vez eu li, acho que foi num livro da Clarice Lispector, embora eu não possa ter certeza disso porque muitas coisas boas que eu leio eu sempre tenho a impressão que li em um livro da Clarice Lispector, mas, enfim, era o seguinte o que eu li:

um livro, um texto, uma passagem, enfim, qualquer destas coisas, somente vai ser interessante para a pessoa que lê se isso tiver alguma ressonância com algo dentro desta pessoa. Quer dizer: você só se interessa por um livro se, de alguma maneira, ele já estava dentro de você. Ou se aquela passagem já estava dentro de você, ou texto, ou qualquer coisa assim.
A coisa fica mais interessante quando, neste livro, você descobre algo que não sabia que tinha em você.

Eu, Pessoa Exagerada da Silva, já extendo isso a pessoas, lugares, filmes, coisas assim: por exemplo, se você simpatiza com determinada pessoa, de alguma maneira você já simpatizava com ela antes de conhecê-la. Ou se vocÊ ama alguém, você já a amava antes de amá-la. Ou, quando você vai a uma cidade, e vê uma rua encantadora e se apaixona por ela, você somente descobriu que alguém trouxe para fora algo que você tinha dentro de si.

Tudo bem pensar a literatura como auto-descoberta, se identificar com algum personagem, descobrir que sua vida é um filme de Pedro Almodovar, que você ama como se fosse uma personagem de Shakespeare, ou que seu trabalho é como o de Sísifo. Também acho coisas assim, mas não era bem o que eu queria dizer.
O que eu fico pensando é que literatura é sempre uma questão de dizer as pessoas, de... Por exemplo (casos pessoais....): li uma vez um livro (Clarice Lispector? Lya Luft?) onde a personagem passava o livro inteiro com um mal-estar no estômago, sentindo como se houvesse um animal que morasse lá dentro, como se um grande verme morasse lá; no fim do livro, ela pega um copo de leite, fica de joelhos em cima da cama, na beirada, põe o copo no chão e, atraído pelo leite, sai de dentro dela um enorme verme, e o livro descreve toda a angústia da personagem enquanto ela sente o bicho se movendo dentro dela, vindo pelo esôfago, até chegar à boca e passar por aí todo o seu corpo; então ela deita e olha para a borda da cama, de onde o bicho também olha para ela. E assim acaba o livro. Na época, aquele final (e todo o resto do livro) me descrevia, falava de mim: eu relia e relia o livro, especialmente o final, porque eu era aquela personagem. Não que algum dia eu tenha feito aquilo com o copo de leite, minha barriga teria espaço para abrigar um verme, mas é só gordura mesmo, no meu caso, mas as sensações, a angústia, tudo isso era eu, naquela época.

O que eu estou pensando para escrever tudo isso, o que eu quero dizer? Se você é assistente social, você trabalha ajudando as pessoas em situações de risco, se você é médica, você trata das doenças das pessoas, se você é cantor, você canta para as pessoas. E se você escreve um livro, você também está fazendo algo com um impacto social muito profundo, que vai além de mero entretenimento, de aquisição de conhecimentos, ou de cultura, ou de coisas assim. Você está modificando a vida das pessoas, você está influenciando a vida das pessoas, de alguma maneira.

Assim como andar de mãos dadas, ou conversar, ou liderar uma passeata, escrever também é uma maneira de se relacionar com as pessoas, de repercutir socialmente, digamos. Mas não repercutir socialmente de qualquer maneira, e sim repercutir, sei lá, literariamente.

Por isso me irrita, profundamente, quando você está lendo e vem alguém e diz algo como "já que você não está fazendo nada, me dá uma ajudinha aqui", ou, quando você vai comprar um livro alguém lhe diz que é dinheiro jogado fora, ou quando você está escrevendo alguma coisa, e mesmo lendo, as pessoas conversam com você como se você estivesse olhando a novela (tipo: você está lendo, aí vem alguém e diz "bá, esfriou, né? Que bom, estava muito quente mesmo, eu detesto o verão, não vejo a hora de chegar o invernoo...."). Mas o que mais me irrita é que literatura, em geral, é vista como uma coisa parasitária, e não como uma coisa socialmente relevante. Sei lá, ler ou escrever é um ato tão humanitário quando salvar as baleias, ou o meio ambiente, ou os esfomeados da África, ou protestar contra a homofobia, ou contra os pedágios, ou qualquer coisa assim.

Eu já nem sei o que eu queria dizer no início, acho que era outra coisa, mas às vezes o que eu escrevo toma rumos próprios. Mas era isso que eu queria dizer.

20 de fevereiro de 2007

 

Post rápido

Computador virou artigo de luxo nessa casa (lei da oferta e da procura: muita gente para pouco computador).

Em um feriadão muito cultural (pfff...), assisti Os Intocáveis, e li Lado B - Histórias de Mulheres.

Os intocáveis é um filme legal, pena que sua "mensagem" seja: para fazer cumprir a lei, vale a pena fugir à lei, ou "tudo pela lei", ou, ainda "a lei é tudo". Um bom filme para inspirar, por exemplo, recrutas no exército. Mas vale a pena por ser legal, descontando, é claro, muitas coisas. A cena mais emocionante: um carrinho de bebê cai em uma escadaria, em meio a um tiroteio. Kevin Costner desce correndo atrás do carrinho, e fica sem balas. Quando tudo parece perdido (Kevin Costner está sem balas, e também não conseguirá pegar o carrinho antes que o bebê se espatife todo), Andy Garcia se atira no chão, vai escorregando até o carrinho de bebê e, neste movimento, atira uma arma a Kevin Costner, segura o carrinho de bebê com as pernas e coloca o gângster que ia matar o refém na mira. Tudo isso com um sorrisinho maroto no rosto.


Lado B - Histórias de Mulheres é ótimo: emocionante sem ser piegas, romântico sem ser lugar-comum, doce sem ser enjoativo, erótico sem ser pornozão barato (nada pessoal contra ponozões baratos, e nem a favor: mas qualquer pessoa minimamente letrada escreve um pornozão barato), bonito sem ser esplendoroso, e, o que eu acho mais importante e que faz o livro valer a pena mesmo: a escritora do livro escreve muuuuuuito bem, tem estilo, bom humor, eu queria escrever como ela. Quero ser como ela quando eu crescer. Tá, exagerei nessa. Mas, dentre os livros que eu gostei de ter lido (se bem que ainda não terminei), este é um dos poucos que valeu (ou está valendo, pq não terminei ainda de ler) cada centavo.

Vou parar de escrever antes que eu queira fundar uma religião do livro.

Mas, tirando meus exageros: muito bom o livro.

19 de fevereiro de 2007

 

Arqueologia de um CD

Tudo começou quando Elis Regina gravou "O bêbado e a equilibrista". Fizeram muitos discos e, anos depois, gravaram em CD. Algum tempo depois, alguém copiou essa música para o seu computador, e, tempos mais tarde, a mesma ou outra pessoa subiu a música para a Internet (segundo minha ex-professora, "Internet" é com maiúsculo porquê existe só uma Internet no mundo. Que coisa, não?).
Muuuito tempo depois, eu copiei a música da Internet, e ela ficou gravada no computador. Passaram-se mais alguns anos, eu economizei algum dinheiro e, há poucos dias, comprei um gravador de CD para desafogar um pouco o computador. Copiei várias músicas para um CD da Faber Castell, (incluindo O bêbado e a Equilibirsta) e deletei-as do computador.
Agora, neste momento, procuro o CD da Faber Castell onde está gravada O bêbado e a equilibrista e não encontro, e estou morrendo de vontade de ouvir a música.

Eu não sei se esta história serve como (mais) um exemplo na minha vida para que eu comece a me organizar. Eu não sei se esta história serve como metáfora para que eu me dê conta de que qualquer história começa em um ponto arbitrariamente convencionado e termina em outro ponto na mesma condição (por exemplo:eu poderia ter começado esta arqueologia do meu CD contando dos primórdios da gravação no mundo, ou contando sobre o início da música brasileira - assuntos, aliás, que eu não domino - e terminado contando sobre como eu decidi dar uma pausa na busca e escrever um pouco). Eu não sei se tudo isso não faz parte de um plano maior para que encontremos Cristo, ou para que os extraterrestres dominem o cosmos. Eu não sei.

Só sei que às vezes me surgem essas estranhas obsessões, como esta de querer ouvir esta música agora, e eu revirarei a casa inteira, deixando-a mais bagunçada ainda (e tornando mais provável, assim, que outras coisas se percam), até encontrar este CD.

Eu poderia, alternativamente, intitular este post como "As bagunças e as coisas", que falaria sobre as metáforas que este episódio encerra (incluindo uma interpretação minha do quadro Las Meninas) mas, assim como este que digitei, não seria um texto tão elegante quanto o de Foucault. Eu poderia também cantar a música, e não soaria tão bem quanto na voz de Elis, a Regina.

Fim do post

 

Descrevendo não fica tão bom,

... talvez fique até horrível, mas mesmo assim vou dizer como eu faria o clipe para a música "O bêbado e a equilibrista" cantada por Elis, a Regina.

No começo, tem aquela introdução, sei lá que instrumento deve ser, eu sei que não é uma gaita de foles, mas é a única coisa que vem à minha mente. Bom, durante aquela introdução, aparece uma menina, estatura mediana, cabelos pretos, lisos e curtos, estilo Amélie Poulan (não deve estar escrito corretamente) mas em formato de capacete, boca bem vermelha, jaqueta de brim, calça idem, camiseta preta, tênis branco, e uma mochila roxa com preta. Ela está dentro de um ônibus, o queixo escorado na mão e a cabeça bem próxima à janela, vendo a paisagem. Ela desce do ônibus e começa "Caía a tarde feito...", a parada fica embaixo de um viaduto. Ela vê um bêbado trajando luto, sorri para ele, e recebe, de volta, uma reverência. Ela atravessa uma avenida, por baixo do viaduto, e aparece o bêbado fazendo (ir)reverências mil, em primeiro plano, e a menina de costas, lá embaixo, entrando em uma rua transversal ao viaduto.
Ela dobra uma esquina e vai andando pela cidade, sem prestar a atenção em nada de especial, e nos meio-fios, em cima dos telhados, nas antenas de TV, em cima dos edifícios, nos fios de luz, equilibristas vestidas de bailarina dançam nas corda-bambas, de sombrinha.
Quando chega na parte do "Mas sei, que um amor assim, pungente, não há de ser...", a menina senta na soleira de uma porta, deixa a mochila entre as pernas, e observa as equilibristas que passam, com um sorriso pensativo.
Na parte do "Azar, a esperança equilibrista...", a menina levanta-se e começa a caminhar, no meio da rua, em cima daqueles tracejados brancos pintados em cima do asfalto.
Quando começa a música instrumental igual à do início da canção, o bêbado com chapéu-côco faz uma reverência a uma equilibrista que passa equilibrando-se nas bordas do viaduto, e ela devolve a reverência.
Depois disso, até morrer o som, uma equilibirsta equilibra-se em cima de um dos trilhos do trem.

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17 de fevereiro de 2007

 

Post roubado


Elas vão ter que ser responsáveis. Mas já não conhecerão a realidade do aborto clandestino. Elas poderão um dia querer optar por uma IVG. Mas o caso não será resolvido entre amigas da mesma idade e muitos diz-que-disse, nem acabarão nas mãos de uma "esperta". Foi também por elas, e pelo Portugal futuro que vão conhecer, que votei SIM.
Hoje, elas reconfortam-se nos nossos braços. Amanhã, queremos que também o façam. Mas podemos tão pouco por aqueles que amamos. Sinto que ontem preparamos esse amanhã. E hoje, e todos os dias, de maneira diferente. Mas podemos tão pouco.

(Roubado descaradamete daqui, sem autorização,
pedido, prévio aviso, ou o menor escrúpulo.
)

Enquanto isso, na ex-colônia...

 

Frases perdidas.

Tédio. Velho tédio. "Tédio, tédio, mano velho, falta um tanto ainda, eu sei...". Mau humor. Calor, calor insuportável. Abafamento. Nuvens de chuva secas. Sol quente. Ar imóvel. Sono. Despertar com gritos. Irritação. Insuportabilidade. A incrível capacidade de não suportar nada. A incrível capacidade que tudo tem de ser irritante. Raiva de nada=raiva de tudo. Não existe: silêncio, privacidade, ânimo. Dor de cabeça. Latejar. À beira de um ataque de nervos. A imagem mais sedutora do momento é a de qualquer coisa sendo jogada em qualquer direção e espatifando-se contra o que quer que encontre no caminho. O prazer de quebrar alguma coisa. O prazer de jogar longe. Um dia de Fúria, um bom filme. Dor de barriga. Porquê as pessoas emitem sons? Todas as pessoas poderiam permanecer em silêncio. O Comando Maluco deveria ser fuzilado por um pelotão de fuzilamento. Odeio mulheres gostosas de televisão. Odeio qualquer coisa que passe na televisão. Nos finais de semana, a televisão deveria passar filmes mudos em preto e branco. Eu gosto de alguns filmes preto e branco. Ninguém entende a piada que vi em um filme preto e branco: Hitler fica um minuto inteiro falando coisas em alemão e a tradução é "sim"; em seguida, diz apenas uma palavra e a tradução é um parágrafo enorme cuja legenda ocupa metade da tela. A piada é sobre peculiaridades da língua alemã e não sobre Hitler. Eu não sei contar piadas. Nem histórias. Quem conta bem histórias tem um instinto publicitário e propagandístico muito bom. Eu não sei tornar nada interessante. Ao meu lado, a descida de uma nave espacial na Terra daria sono. Talvez seja esse o meu dom: tornar tudo chato. Eu sou uma coisa anti-interesse. Contrata-se pessoas para tornar um produto chato e sem graça em um objeto de desejo de toda a população; a mim me contratariam para que as pessoas se convençam de que não vale a pena gastar tempo, dinheiro e atenção com alguma coisa. O corpo humano deveria ser proibido de suar. Pessoas que suam como eu deveriam ser presas. Agora sei bem o que significa "um dia modorrento", nunca entendi bem o que era. Até o calor obssessivo pode ensinar alguma coisa. E, depois que ensinou, poderia ir embora. Eu não aguento mais. Por sorte eu não tenho o poder de destruir as coisas com a força do pensamento, senão tudo o que eu enxergo no momento teria explodido. Todas as coisas continuam absolutamente iguais. Absurdamente iguais. Milimetricamente iguais. Dói ranger os dentes.

 

Desejar o desejo?

Vontade de escrever. Sobre o quê? Apenas vontade de escrever.
Mais ou menos como vontade de ler. Às vezes você quer ler determinado livro, determinado site, determinadas idéias. Às vezes, qualquer amontoado de letras que faça algum sentido serve.

São estranhas as necessidades. Começam pelas básicas: comer, fazer amor, tomar água, ir no banheiro, esqueci alguma? Você pode ter ou não ter o que quer que seja você quer essas coisas. Claro, sempre há controvérsias.
Conheço pessoas que dizem não querer fazer amor, o que é diferente de não fazer, pois uma pessoa pode querer e não fazer pelos mais diversos motivos. Também não estou pensando em quem não quer, mas somente em determinado momento, ou com determinada pessoa. Mas a maioria dessas pessoas se masturba - dentre as pessoas que conheci que me disseram que não querem fazer amor, todas com as quais tive mais intimidade disseram que se masturbam. E agora: coloco masturbação dentro de "fazer amor", e continuo dizendo que todas as pessoas querem fazer amor, ou punheta é punheta e realmente existem pessoas que não querem transar?
Existem pessoas que não querem comer: anoréxicos e o pessoal que quer viver de luz. Mas uma pessoa anoréxia, não é que ela não queira comer. Ela quer ser esqueleticamente magra. O problema de uma pessoa anoréxia não é com a comida, não é um transtorno alimentar, e sim visual - a pessoa quer ver-se magra, e este desejo sobrepõe o de comer - sobrepõe, mas não anula ou diminui. Um desejo nunca é anulado, somente sobreposto por outro desejo. Quem deseja viver de luz também não é alguém que não queira comer. Destesto mas assisto Jô Soares, e lá que vi uma entrevista de uma mulher que dizia viver de luz. Ela se alimenta da luz do sol (e recomenda que ninguém faça isso em casa, pois somente os treinados pelo grupo conseguem olhar diretamente para o sol sem queimar a retina). Come. Come luz.

Necessidades básicas.

Mas o que é, ou em que consiste uma necessidade, um desejo?

Desejar o nada é niilismo - mas é possível não desejar? São duas coisas diferentes: desejar o nada, desejar o não-desejo, desdesejar. Pode ser que uma pessoa acorde um dia sem vontade de nada, mas não ter vontade de nada não é nesse caso, a realização de um desejo. É como uma gripe: passa. Quem deseja o nada, deseja não desejar, incomoda-se com o desejo. Destesta desejar. E quem deseja o nada, afinal, não deseja alguma coisa - ainda que nada? Qual será o contrário de desejar?
Pois quem deseja não desejar ainda deseja. Seria preciso que uma pessoa dissesse um não incondicional: não a tudo. Não seria o caso de a pessoa desejar o não-desejo: mas sim, de (digamos) instintivamente não desejar. Tudo deve perder a importância para esta pessoa. Mas não de maneira calculada, e sim naturalmente. Se trata de uma indiferença absoluta, de dizer um "não" absoluto. Não é desejar o vazio, e sim não reter coisa alguma, não querer.
***
Well, well, well: escrevi. Legal.

13 de fevereiro de 2007

 

Uma breve história do tempo

Meu computador é a melhor coisa do mundo. Através dele eu pude entender, por exemplo, por exemplo, porque motivo, quando olhamos para o céu, olhamos para o passado.
Quando você vê uma estrela, você está vendo a luz que ela emitiu. Como ela está muuuito longe, leva muuuito tempo para que a luz chegue aqui. Uma estrela que você vê agora pode nem existir mais.
Um exemplo mais claro e concreto? No meu micro, eu clico em fechar o windows media player, abrir o firefox e digito www.google.com.br. No exato momento em que fiz tudo isso, uma estrela emitiu um facho de luz. A luz emitida neste momento somente chegará aqui lá por 3051, mais ou menos. E, dois minutos depois que esse facho de luz (emitido agora) chegar à terra, o meu computador terá finalmente fechado o windows media player, aberto o firefox e carregado a página do google.
Não é incrível?!? Meu computador está em ressonância com as mais distantes estrelas do universo!!

E não é só isso: meu micro está destinado a ser histórico. As gerações futuras terão, graças ao meu computador, uma oportunidade única de ver como funcionava a informática em idos de 2007 - ao vivo!! E, assim, meu nome será inscrito na História, devido a este meu legado às futuras gerações. E tudo porque o meu computador é lento, lento, lento.

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12 de fevereiro de 2007

 

Tristeza calma

Acho que é isso que se sente quando se está triste, quem sabe uma depressão básica (fico feliz em saber que, pelo menos nesse ponto, sou uma pessoa bem moderna), mas que não é nada desesperadora, não chega a me atar, não chega a me derrubar.

Era para mim ver minha vida e me desesperar, me perder, entrar em parafuso, tudo o que perdi, o que nunca tive, o que não tenho perspectivas de ter, o que não vivi, o que não descobri, o que esqueci, e o que não deveria ter lembrado.

Vi tudo isso, até um pouco claramente demais, demasiado lucidamente, mas o peso do mundo, desta vez, não pesou sobre mim, não dobrou os meus joelhos nem me obrigou a me arrastar por aí.

Eu não possuo disciplina o suficiente para levar adiante meus projetos. Tenho uma coleção de começos e deficiência de fins. Meus troféus são as faixas de inauguração. Muitas primeiras vezes, poucas últimas.

Eu preciso me apaixonar constantemente. Recentemente revi Cristiane F., e me sinto ela - minha heroína é me apaixonar. Só tem a vantagem de não ser ilegal. Não é difícil estar em um estado constante de paixão, mas acabei de me desapaixonar por motivos de saúde (meu deus, será que Cristiane F. era sobre mim?) e, por enquanto, não tenho forças nem perspectivas de me apaixonar de novo.

Onde foi que ouvi que quem pensa não casa?

Eu acho que penso demais. Sou uma pessoa impulsiva. Consigo conciliar muito bem estas duas condições antagônicas. Eu penso, penso e penso. Aí vou e faço exatamente (mas com uma precisão milimétrica) o que pensei e concluí que não deveria fazer. E descubro que realmente não deveria ter feito. Não tenho aquele tipo de impulsividade de quem, quando vê, fez sem pensar. Eu penso antes, e faço como se não tivesse pensado em nada. Mesmo que eu tenha planejado antes, eu traio todos os meus planejamentos. Impulsivamente.
Sou como aquelas pessoas que entram em uma loja de cristais e ficam sete horas se movendo com cuidado, sem bater em nada. Aí, na saída, se vira para pegar o chapéu e derruba uma prateleira inteira.
Acho que levei a sério demais essa história de "o que importa é o caminho, e não a chegada". Pouco pragmatismo e muitas flores no caminho. Tenho que ser mais inglês, mas north-american, mais empresarial, tenho que ler menos literatura, ler ainda menos do que leio em geral, e perseguir meus objetivos doa a quem doer.

Minha vida teve meia-dúzia de fases depois da infância.

Vim de um período bem bobão, onde a bobice consistia em não perceber que os lugares onde eu estava não eram para mim. Sabe quando você sai de um lugar e se dá conta "putz, fiquei sobrando há horas e não percebi"? Espero que você não saiba. Mas é assim que eu me sinto em relação a este período.

Depois, veio a minha fase underground. Tudo era ruim, tudo era triste, tudo chato, nada nunca estava bom, nenhuma perspectiva, eu não queria nada e nada me faltava. Mas havia mais lucidez. Era um clima pesado, mas de um peso inexplicavelmente leve.
Li a Insustentável Leveza do Ser, uma vez. Será mesmo que o peso é negativo e a leveza, positiva? - era o que se perguntava o livro.

Depois, minha fase cristã. O cristianismo (catolicismo, protestantes, pentecostais, etc) até tem coisas boas. Basicamente, tem pessoas muito bem intencionadas, sensíveis às mazelas e alegrias alheias, e dispostas a tornar todo mundo feliz.
O problema do cristianismo é que o cristianismo é um underground disfarçado. Na minha fase dark, eu sabia muito bem onde pisava - eram pântanos, mas eu enxergava o lugar. Na fase cristã, permaneci no mesmo lugar, mas olhava para um céu que não estava lá, mas que eu esperava que estaria. Esse é, eu acho, pelo menos um dos problemas do cristianismo: você não é feliz por viver, por ver flores, por amar alguém; você somente é feliz porque a vida, as flores, o amor e a pessoa que você ama são obra de deus. Somente deus deixa você feliz, e você tem que acreditar, acreditar, imaginar, esperar, acreditar em algo que um dia virá. Você é feliz por uma promessa - mas nada do que existe hoje, agora, o sol dessa tarde, as cores daquela árvore, nada disso é bonito ou válido por si, e sim por causa de deus. Eu continuava tão dark quanto antes, mas apenas não queria enxergar isso. E, para não ver isso, eu acreditava em um futuro inventado que, por mais que seja possível, é somente uma possibilidade entre tantas outras - seria o mesmo que deixar de trabalhar contando com o prêmio da mega-sena ("um dia meus números saem"...)

Deixei o cristianismo sem deixá-lo, depois. Reneguei tudo, mas já não conseguia enxergar mais nada. É impressionante como é possível perder o mundo concreto de vista. Aprendi a viver de esperanças, e a vivê-las como se fossem reais. Mas nunca mais precisei me mover, pois já tinha o que queria: era muito feliz em esperar.

E, independente da fase onde eu estivesse, eu sempre aprendi a contar somente comigo - somente eu estive do meu lado quando eu precisei. Sempre. Aparentemente as pessoas pressentem essa minha autosuficiência (mas ninguém percebe que é uma autosuficiência falsa?) e não se preocupam, então, em estar ao meu lado. E, assim, continuo contando sempre somente comigo. É um caminho sem volta, como o tempo, uma queda ao ar livre, ou o curso de um rio.

Pelo menos, neste ambiente estranho em que estou agora, nessa conhecida tristeza sem o desespero, consigo ver. Se é para alguma coisa durar, que seja isso então - essa lucidez, seja lucidez do que for.

 

Fernando Pessoa

Poema em linha reta
Álvaro de Campos


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Os versos acima, escritos por Fernado Pessoa sob o heterônimo de Álvaro de Campos, foram extraídos do livro "Fernando Pessoa - Obra Poética", Cia. José Aguilar Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. 418,
e foram roubados daqui

 

Il Dulce

Uma amiga minha está apaixonada por um cara. Não sabemos - pelo menos nem eu nem ela - se ele gosta dela mas é tímido, gosta dela mas é burro, gosta dela mas não está emocionalmente preparado para assumir uma relação séria (uma madrugada de discussões sobre esta possibilidade e, na minha opinião, a mais provável), gosta dela mas não de monogamia, gosta dela mas inexplicavelmente é capaz de se acertar com ela, ou não gosta dela (a segunda alternativa mais provável, na minha opinião). Volta e meia eles ficam juntos, e ela passa duas ou três semanas feliz como se fosse natal. Depois, volta toda a deprê no estilo "seu guarda eu não sou vagabundo, não sou delinquente..." e debates intermináveis sobre ele.

Até aí, é a história do mundo (uma pessoa ama outra e não é amada) ou a base de praticamente toda a literatura, pelo menos. Nada de novo.

Mas a menina tem uma segunda paixão, que é uma amiga dela com quem ela ficou mas não quis continuar a sei lá eu quanto tempo atrás porque estava apaixonada pelo cara, o mesmo pelo qual ela ainda é. A menina dava em cima dela até não poder mais, até que ela também se apaixonou por um outro cara e vive com ele de maneira meio turbulenta e apaixonada.

Agora, noventa e dois anos depois, a minha amiga decidiu que é melhor tentar esquecer o cara. E, nesta busca por outro amor (eu juro que estou em tratamento para minha pieguice) só aparecem caras toscos nas mãos dela - muito bonitos, muito galantes, mas do tipo "ah, tu não quer me dar, então vou dizer prá todo mundo por aí que eu te comi e depois de larguei prás traças!". Uns partidões...

Mas volta e meia aparecem umas meninas pelas quais ela fica meio caída e com algumas, às vezes, ela troca olhares carregados de sedução e paixão e um dia eu me perguntei, depois perguntei para ela "fulana, porque tu não tenta namorar uma menina?"

Claro que, eu estando de fora do problema, fiquei pensando principalmente nos aspectos práticos da situação: as candidatas - as que eu conheço, pelo menos - ou seja, as meninas que possivelmente ficariam com elas são, na maioria, de confiança, mais até que os caras que ela anda pegando por aí (eu faço esforços estelares para não concluir que homem não presta, a começar pelo fato de que isso é muito preconceituoso - mas está muito difícil). Quer dizer, muito mais prático, menos arriscado, e sem risco de engravidar porque estourou a camisinha (sim, eu sei que estou forçando, mas não deixa de ser um argumento - alguém disse que argumentos toscos não valem?, e é para o bem dela).

"Mas a minha mãe me mataria!" - quem é precisa de novela?!? Basta a vida real...

Por essas e por outras que o fascismo das pessoas me irrita. Sei lá, não tenho filhos e podem dizer que é por isso que eu penso assim, mas se um filho meu vem e me diz "Olha só, eu vou entrar no seminário para ser padre" (o que para mim seria o equivalente do que, para muitas pessoas é "eu sou homossexual"), só o que eu posso dizer é "vai e seja feliz, pode contar comigo". Só porque eu abomino uma coisa não significa que outras pessoas, nem que fossem meus filhos, precisam abominar. Se quer ser padre, entrar para o PFL, formar uma banda gospel, ler Paulo Coelho, tudo bem. Eu não quero um mundo sem padres (queria só que não fosse ilegal enviá-los todos para a Groelândia só de batina), sem o PFL, sem o Pauo Coelho (pelo menos, as pessoas lêem) (poderiam ler bulas de remédio também, mas vá lá), sem o Faustão. Eu apenas acho tudo isso tosco, mas deixa as pessoas fazerem isso.

Por isso, aliás, essa coisa toda me irrita profundamente. Mesmo que homossexualidade fosse doença - só para ficar em apenas um argumento absurdo - é a vida alheia, droga. Mas aí alguém pode me dizer "vivemos em comunidade, a vida alheia é importante sim". Mas só é importante quando afeta a mim.
Se o meu vizinho decidir criar baratas ao ar livre na casa dele, isso me afeta e eu vou fazer o possível e o impossível para impedi-lo disso, porque é óbvio que as baratas vão passear na minha casa. Mas se ele criá-las presas (e muito bem presas, eu espero), seria igualmente nojento, mas isso seria lá com ele. E nem esse exemplo serve, porque o problema das baratas é que elas são nojentas e podem subir (puta merda, que horror) em cima de mim. Mas duas pessoas se beijando na rua são duas pessoas se beijando na rua, e não baratas: quem não gosta somente precisa virar a cara.

Acho que fascismo ainda é motivo para bombardeios aéreos, e isso era o que deveria ser feito em casas de pessoas fascistas. Se bem que isso também seria uma atitude fascista. Mas aí entra o velho problema da liberdade: se somos livres, uma pessoa não tem o direito de ser fascista? Bom, sei lá, mande-os para a Groelândia, então (junto com os padres, he, he, he).

11 de fevereiro de 2007

 

Vovó Mafalda

Eu tenho um computador? Tenho. Eu tenho uma placa de rede cheia de nomes em inglês? Tenho. Eu tenho um modem roteador, com um cabo que o liga na placa de rede e outro que o liga na luz? Tenho. Eu tenho energia elétrica em casa? Tenho. Eu tenho sinal de DSL? Tenho. Eu tenho um provedor de DSL? Tenho. A conta da Brasil Telecom está em dia? Sim. A conta do provedor de DSL está em dia? Sim. Eu consigo usar a DSL? Não.

Só me falta o nariz de palhaço, agora - porque o resto eu já tenho.

Cito Vovó Mafalda:
- Que horas são, criançada? (ou era o Papai Papudo que dizia isso?)

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10 de fevereiro de 2007

 

Slogan 3

Eu, que sempre reclamo de quem precisa se apoiar nos outros, faço o mesmo.
Pois, sem assunto que estou, dedico o meu tempo a esculhambar argumentos alheios contra o aborto. Claro, o aborto é uma questão muito mais profunda do que argumentação e contra-argumentação. É, muitas vezes, uma questão de sofrimento (ou de escolher qual sofrimento, enfim).
Mas estamos na internet, e, nesse espaço, não sei do que haveria de melhor para fazer.

Slogan 3: O feto é parte do corpo da mulher

Um slogan outrora vulgar mas hoje mais esquecido diz que: "O bebê faz parte do corpo da mulher. O aborto mata uma parte do corpo, um parasita."
Este slogan parece ter muitas falhas:

1. Com igual legitimidade se poderia dizer: "O bebê dentro da incubadora faz parte da incubadora. Matar o bebê dentro de uma incubadora é matar uma parte dela, matar um parasita".

2. "Um astronauta num foguetão é parte do foguetão. E como ele precisa do foguetão para sobreviver pode ser eliminado a gosto do dono do foguetão, tal como o bebê dentro do útero pode ser eliminado a gosto da dona do útero."

3. A questão é que uma pessoa não deixa de o ser pelo fato de estar dentro de um espaço limitado de alguma forma. O astronauta é uma pessoa e os seus direitos resultam disso. Como um astronauta não deixa de ser pessoa quando está no espaço, não perde por isso nenhum dos direitos das pessoas. Na lógica abortista, o bebê na incubadora é um ser humano pessoa e por isso não-executável. Os seus direitos resultam do que ele é e não do sítio onde está. O mesmo se aplica ao bebê não nascido: poderá ser morto pelo que é e não pelo sítio onde está. E o que é ele? E porque não tem ele direito à vida? Sobre isto o slogan diz nada.

4. Se levarmos uma célula da mãe e uma célula do filho a um especialista em genética, ele dir-nos-á, facilmente, que se trata de células de dois seres humanos diferentes. Convém repetir: não é a célula de uma pessoa e outra célula de um macaco, ou de um tumor, ou de um parasita. Tão pouco ele dirá que são duas células do mesmo ser humano. Nada disso: são as células de dois seres humanos diferentes. A gravidez é uma forma diferente de pegar num bebê ao colo. Pode-se pegar num bebê com os músculos dos braços ou com os músculos do abdomen. Pode-se alimentar o bebê ao peito ou por transferências através da placenta. Mas os músculos que sustentam o bebê ou o mecanismo físico que o permite alimentar, são eticamente irrelevantes. O que conta é o que ele é, e sobre isso o argumento diz nada.

5. As partes do corpo da mulher não têm todas o mesmo valor. Uma pessoa que corta as unhas a outra, dificilmente poderia ser punida por isso, e qualquer mulher pode pedir que lhe cortem as unhas; quem cortar um braço a outra pessoa poderá ou não ser punido por isso e, se houver necessidade, a mulher poderá pedir que lhe cortem o braço (para a curar de um tumor, por exemplo); é duvidoso que um médico possa cortar um braço, a pedido da mulher, sem que haja necessidade da amputação; quem tira o cérebro a uma mulher será punido de certeza, ainda que lho tenha tirado a pedido da vítima. Neste quadro, e ainda que se aceite que o bebê faz parte do corpo da mãe, onde se coloca o bebê? Será uma parte protegida ou será uma parte sem proteção? É uma das partes do corpo à disposição da mãe, uma das partes que ela pode pedir que lhe tirem sem problemas, ou é uma parte protegida que não pode ser tirada nem com o consentimento da mulher? Sem esclarecer estes pontos o slogan vale nada: limita-se a tentar iludir a questão sem lhe responder. Em primeiro lugar, reduz um ser humano à parte de outro; e depois sugere que a mulher pode dispor dessa parte com a liberdade com que dispõe das unhas. Ou seja, o slogan faz duas simplificações que não consegue provar.

6. Mas ainda que o bebê fosse parte do corpo da mulher, teria sempre de ser considerada uma parte muito especial: afinal nenhum rim, coração ou fígado salta para fora de uma pessoa e em poucos anos começa a escrever poemas. E será que esta diferença não torna o bebê diferente das unhas, do apêndice ou de um tumor?

7. Este argumento não permite justificar os abortos por cesariana, posto que neste caso se mata o bebê quando já não está ligado à mãe. Assim, teríamos o absurdo máximo: pode-se matar o bebê embora nem todos os métodos sejam aceitáveis. Ou seja, o direito à vida resulta não do que o bebê é mas da forma usada para o matar. Imagine o leitor que a sua vida só está protegida no caso de o matarem com um tiro; no caso de o matarem com uma faca, o leitor já não tem direito à vida nem a sua morte é crime. Uma teoria curiosa! E se há alguma forma de justificar o aborto por cesariana, porque não se usa esse argumento em vez de recorrer a "o bebê é parte do corpo da mãe"?

8. Se tudo que se disse está errado, se o bebê for mesmo parte do corpo da mãe, e se daí resulta que a mãe o pode matar, então pode-se abortar ao longo de toda a gravidez! Logo, ou o slogan está errado, ou o aborto é aceitável durante os nove meses. Então, porque se legaliza só até ás dez semanas? Com que base se nega ás mulheres um direito seu: o direito a abortar até aos nove meses?


Texto menos "malandro" do que o outro, mas que, mesmo assim, ainda tenta ter alguma ginga.
A idéia do "slogan" é que um feto é parte do corpo de uma mulher, e uma mulher pode dispor das partes do seu corpo como bem entender (isso me lembra duas músicas: uma eu não lembro de quem é, mas a letra é algo como "Se eu quero me estragar me estrago muito bem, se eu quero descansar descanso o que é que tem?, se eu quero me quebrar me quebro até cansar, se eu quero me mexer me mexo até a hora de parar", e uma outra da Simone que é mais ou menos "quero ser assim, senhora das minhas vontades e dona de mim" - me lembrei de outras músicas, mas nenhuma que tenha algo a ver com o texto...).

No início do texto, iguala-se essa idéia a coisas como "um bebê dentro da incubadora faz parte da incubadora" ou "um astronauta dentro de um foguete faz parte do foguete". Tosco.
Uma mulher não é uma incubadora e nem um foguete: primeiro, não conheço nenhums mulher construída pela NASA, e nem alguma que você possa ligar e desligar segundo suas conveniências (ou será que existem pessoas que desejam mulheres assim?); segundo, comparar um feto a um parasita não é degradante para o feto (olha a que ponto chegamos...). Caso o autor do texto não saiba, ele tem parasitas dentro do seu intestino sem os quais morreria.

Mas a questão central écaracterizar o feto como parte do corpo da mãe. E realmente ele faz parte do corpo da mãe. Qualquer pessoa adulta tem o seu corpo formado pelas coisas que come. Mas um feto forma-se a partir do material que retira do corpo da mãe - ou de onde mais as células que se reproduzem retirariam material para constituirem-se? A diferença do feto, como o texto bem coloca, é que o feto é uma parte que, se deixar, sai para fora e começa a desenvolver-se de maneira independente ("independente" em termos: eu, por exemplo, ainda preciso de ajuda financeira da minha mãe - atenção, isso é uma piada.) "Independente" porque, depois que desmama, o corpo do bebê se constitui a partir da comida que ele come, e não mais do sangue da mãe, ou do leite da mãe. Mas, dentro do útero, o feto depende do corpo da mãe.

Aí, o que este texto quer provar? Que um feto é uma parte do corpo de uma mulher do qual a mulher não dispõe como as outras partes. Com base em quê? Com base em que um feto é uma parte do corpo do qual a mulher não dispõe como as outras partes. Deu para entender?
É como se eu dissesse "você tem ir lá porque eu quero", e você me perguntasse "mas porque eu tenho que fazer o que você quer?" e eu respondesse "porque eu quero".

Santo Anselmo, antes de ser santo, foi filósofo. E uma das suas realizações foi ter concebido um argumento "infalível" para a existência de deus: deus é perfeito; um dos pré-requisitos básicos para que um ser seja perfeito é que ele exista; logo, deus existe e não pode não existir - do contrário, não seria perfeito. Acontece que, realmente, o pré-requisito para que algo seja perfeito é que esse algo existe. Mas só se diz que deus é perfeito porque se pressupõe que ele exista - e é isso que se quer provar. Primeiro deus tem que existir, para depois ser considerado perfeito.

O que o Santo Anselmo faz é deslocar a certeza: ele não tem mais certeza da existência de deus, mas tem certeza da perfeição de deus. Mas para ter certeza da perfeição de deus, é necessário que deus exista. Talvez fique melhor explicando de outra maneira. Eu estou, neste momento, comendo um Chandelle (é sério mesmo, estou comendo um Chandele. Só não ofereço porque não tem mais). Como eu posso saber que esse Chandelle existe? Não sei, eu não tenho mais certeza de que ele existe. Mas sei que é gostoso. Bom, mas um chandele, para que possa ser gostoso, tem que existir. Logo, eu tenho certeza de que o Chandele existe.

Essa é a esperteza do argumento teológico de Santo Anselmo: eu não sei se tal coisa existe, mas sua qualidade existe - logo, sei que a tal coisa existe.

A argumentação que o texto - sim, voltamos ao texto do "slogan" nº 9 - faz segue a mesma lógica: uma mulher não dispõe do feto dentro de seu corpo porque o feto não está a disposição da mulher como qualquer outra coisa em seu corpo. Porquê? Porque não é e ponto.

Aí ficamos assim: o texto bate o pé nesse ponto, e eu bato o pé que discordo.

Acontece que a gravidez, na sociedade humana, é uma situação que não tem paralelo em nenhuma outra situação. A comparação que o texto faz com o bebê na incubadora ou o astronauta dentro do foguete é tosca porque nada se compara a esta situação. Um feto é a única coisa dentro do corpo de qualquer pessoa que pode vir a se tornar gente.

A questão, aí, vira outra.

Uma gravidez é um fato sem paralelo algum, sem nada com o qual se possa comparar. Temos somente a situação em si: uma mulher carrega um possível ser humano ("possível" porque terá que, no mínimo, nascer). Mas vamos melhorar a situação para os pró-vida: vamos aceitar, por um momento, que o feto é tão gente quanto a gente - pessoalmente, não sei se é ou se não é, mas vamos considerar que sim. Bom, um feto é o único tipo de pessoa que depende de outra pessoa para sobreviver. É diferente de um filho de deszoito anos que não tem grana para pagar suas contas: um feto precisa de outra pessoa até mesmo para formar o seu corpo, precisa de outro corpo para retirar, deste corpo, material para si. E uma mulher grávida é o único tipo de pessoa que dispõe seu corpo para outra pessoa alimentar-se dele.

O que está em questão é: qual das duas vidas tem a preferência? Não é o mesmo que decidir a preferência entre uma pessoa e seu assassino em potencial, ou decidir se, em um prédio em chamas, vão ser salvas primeiro as mulheres ou as crianças. Se trata de uma pessoa que tem outra dentro de si. E qual dessas pessoas tem preferência?

Infelizmente, esse é o principal indício de que vivemos em uma sociedade machista. Quem tem a preferência, ainda, é o ser vivo dentro do corpo da mulher, e não o ser vivo que contém o feto.

Por mais que seja uma vida que está dentro de uma mulher, aquela vida ainda é uma semi-vida, porque a mulher é a condição para que aquela vida possa desenvolver-se. É o pré-requisito para que aquela vida possa desenvolver-se. Mas o fato de possuir essa capacidade, não obriga qualquer mulher a usá-la. O que a sociedade faz é privilegiar o feto em detrimento da mãe. Uma mulher é plena de direitos até que engravidade: grávida, seus direitos são menos importantes do que os do feto.

Este que é - e isso é uma opinião - o absurdo da proibição do aborto: você perde seus direitos automaticamente para outra pessoa. Os próvida, então, apelam emocionalmente: "pobre do feto, idefeso dentro da barriga de uma mulher". Mas esta é a condição de qualquer feto, ou, se se quiser, de qualquer ser humano nesta fase da vida: sua vida está sob total controle do corpo onde o seu próprio corpo se desenvolve.

Uma mulher não pressupõe necessariamente um bebê, mas um bebê pressupõe necessariamente uma mulher. E os próvida tentam, incessantemente, inverter essa lógica, dizendo que uma mulher pressupõe, necessariamente, um bebê!!! Eu não sei se é só para mim que fica claro que, assim, voltamos à condição da mulher como uma fábrica de bebês - ou seja, uma mulher somente tem valor na medida em que pode gerar crianças. É por isso que os fetos acabam tendo mais direitos do que as mães. É como se, ao ver uma mulher, as pessoas vissem somente bebês em potencial - ou como se uma mulher se resumisse aos seus óvulos e toda a coisa reprodutora associada.

Quando uma mulher quer abortar, trata-se de um conflito de quem tem mais direitos dobre o corpo da mãe: o feto (representado pela boa sociedade cristã que somos) ou a mulher?

A principal premissa, enfim, dos pró-vida da vida, é que o feto é uma pessoa. Mas eles esquecem que a mãe também é uma pessoa, e uma pessoa pressupõe um corpo, e, sobre um corpo, alguém tem poder. O que eu acho é que o poder sobre o corpo de uma mulher deveria ser não do feto (e, por extensão, de toda a sociedade, já que é a sociedade quem diz a uma mulher: "você não pode fazer isso!"), mas, sim, o poder sobre o corpo da mulher deveria ser da própria pessoa em questão.

 

Textão

Total falta de assunto há dois miutos atrás. Mas a internet, essa senhora maneira, me ajudou.

Há muito tempo atrás, eu devia ter uns 14 ou dezoito anos (a ordem cronológica da minha vida é constantemente violentada pela minha memória), quando eu estava sem assunto, eu entrava em um site "pró-vida" que apregoava coisas do tipo "a homossexualidade é um crime pior do que o assassinato" ou, em uma cartilha para jovens, recomendava que o casal de namorados deveria manter-se sempre à vista de outras pessoas (para evitar tentações), não devia se beijar, nem pegar muito nas mãos (de preferência, nem se tocarem), e fazer uma oração e um exame de consciência antes e depois do namorico. Respeito a opinião alheia, mas me dou o direito de ridicularizá-la - se eles escrevessem que desejam que o mundo seja assim, ok, mas recomendar isso, de maneira séria, é uma piada, pelamordedeus; se bem que deve existir gente que leve esse tipo de piada a sério... - me dou o direito de ridicularizá-la se achá-la ridícula. E nem adianta me ridicularizar de volta: já me ridicularizaram tanto na vida que possuo uma tolerância bastante alta à ridicularização - meus detratores criaram um monstro praticamente imune à ridicularização. He; he; he; bobocas.

Voltando aos meus hábitos de outros tempos, eu fazia isso para me irritar - eu só escrevia movido à irritação (a irritação era a minha benzedrina, seja lá o que for isso, mas alguns escritores só escreviam movidos a isso). Me irritava profunda e desesperadamente lendo aquelas coisas - e outras do tipo "o feminismo retira da mulher a sua maior glória e realização: cuidar da casa, do marido e dos filhos"... Mas eu me tornei uma pessoa mais calma, acho. Às vezes esse tipo de coisa me irrita, em outras vezes, eu somente me surpreendo com a inocência das pessoas que dizem esses disparates. Acho que consigo entender o que jesus sentia quando disse "perdoa-os, eles não sabem o que fazem". É como você ver um cachorrinho correndo atrás do próprio rabo. O cachorrinho fazendo isso chega a ser comovente de tão burrinho que é, e no caso de quem faz aquele tipo de afirmações reproduzidas ali em cima, seria também comovente e adorável, se não fosse tão nocivo.

Como eu estava sem assunto, resolvi lançar mão do mesmo recurso de outrora (viu só como eu sei escrever bonito? Consegui juntar, em uma mesma frase "lançar mão do mesmo recurso" e "outrora"!!): ir no google e digitar alguma coisa como "feminismo", "aborto" ou "homossexualidade". No caminho até algum site muito idiota, se acha muita coisa interessante (como http://colectivofeminista.blogspot.com/, por exemplo), mas muita mesmo. Felizmente, ao que parece, tem mais coisas interessantes do que coisas retardadas. Mas sempre há alguma idiotice nova no ar. Mas dessa vez não fiz isso para me irritar. Foi só para achar algum assunto, e até me diverti com as "Falácias dos slogans pró-aborto" (humor negro, claro), no site do Portal da Família. Aí eu resolvi escrever sobre o texto deles. Não vou indicar o site, se você queiser, me peça por e-mail, mas não vou fazer propaganda do endereço do site aqui.

O que eles fizeram? Pegaram 20 argumentos utilizados em defesa do aborto e "explicaram" porque eles são falácias (grupos "pró-vida" adoram o termo "falácia", vá entender...), mentiras, enganos, engodos.

Eis o texto da Falácia nº 9 - Impor a Moralidade:

Outro slogan vulgar postula o seguinte: "Proibir o aborto é legislar moralidade. Pessoalmente sou contra o aborto, mas não posso impor as minhas convicções morais aos outros". E o slogan companheiro deste é assim: "Nosso país é um Estado laico, há separação entre a Igreja e o Estado. Logo não se pode legislar moralidade, ou fazer leis de base religiosa".
Sobre isto diga-se o seguinte:

1. "Proibir a escravatura é legislar moralidade. Pessoalmente sou contra a escravatura, mas não posso impor as minhas convicções morais aos outros". "A Igreja proíbe a escravatura. Como nosso paísé um estado laico não se podem fazer leis de base religiosa. O Estado não pode proibir a escravatura sob pena de estar a violar a separação de poderes".

2. "Proibir o infanticídio é legislar moralidade. Pessoalmente sou contra o infanticídio, mas não posso impor as minhas convicções morais aos outros". "A Igreja proíbe o infanticídio. Como Portugal é um estado laico não se podem fazer leis de base religiosa. O Estado não pode proibir a infanticídio sob pena de estar a violar a separação de poderes".

3. "Proibir a violação é legislar moralidade. Pessoalmente sou contra a violação, mas não posso impor as minhas convicções morais aos outros". "A Igreja proíbe a violação. Como nosso país é um estado laico não se podem fazer leis de base religiosa. O Estado não pode proibir a violação sob pena de estar a ferir a separação de poderes".

4. "Legalizar o aborto é impor a moralidade de alguns aos outros. Pessoalmente sou a favor da legalização, mas não posso impor a minha moralidade aos outros." "Como nosso país é um estado laico, só podem existir leis de base ateia".

5. Como se vê estes slogans valem nada. Todos eles ignoram que o fundamental de uma lei é saber se é justa ou não. A proibição de matar é uma lei justa ou uma imposição moral? A proibição de roubar é uma lei justa ou uma ofensa à separação de poderes?
6. Se não se pode impor a moralidade, como poderão ser as leis? Imorais?

7. Por trás deste slogan está uma cascata de preconceitos. A saber, a)moralidade é religião; b)todas as religiões são iguais; logo, c) todas as morais são iguais. Mas se tudo isto é verdade, que base existe para punir o seguidor de um culto satânico que faz sacrifícios humanos?

8. Não se pode dizer que, por exemplo, se os africanos são contra o racismo, então toda a pessoa que luta contra o racismo é africana. Do mesmo modo, não se pode dizer que se as religiões têm sistemas morais, toda a moral é religião.

9. Basta que uma religião proíba um determinado ato, para que os Estados fiquem proibidos de o proibir, sob pena de estarem a violar a separação entre Igreja e Estado? Será preciso que a Igreja aprove o homicídio para que o Estado o possa proibir? Ao proibir o homicídio, Igreja e Estado fazem a sua obrigação. Ao permitir o aborto, o Estado foge à sua obrigação.

10. Além do mais, a proibição do aborto é uma questão moral muito sui generis. Concordam na proibição do aborto pessoas que devem estar de acordo em muitas poucas questões mais. Seguem-se algumas pessoas de primeiro plano, dentro dos grupos a que pertencem, e que defendem a proibição do aborto:

Metodistas: Paul Ramsey, Stanley Haverwas, Albert Outler, Donald Wildmon;
Luteranos: Richard Neuhaus, John Strietelmeir;
Judeus: Rabbi Chaim Lipschitz, David Novak, Hadley Arkes, David Bleich, Baruch Brody, Nathanson (agora convertido ao catolicismo).
Ateus: Nat Hentoff, Christopher Hutchins.

11. Na questão do aborto não está em causa saber qual a fonte, a origem ou a legitimidade para fazer leis. O Estado já faz leis. O que interessa saber é porque se julga o Estado com legitimidade para proibir o infanticídio e não se julga com legitimidade para proibir o aborto. Por que não é a proibição do infanticídio uma imposição da moralidade enquanto o aborto o é? Será pelo fato das vítimas serem essencialmente diferentes? Mas onde está a diferença?

12. Ainda que tudo isto fosse falso, o resultado é que o slogan referido permite defender o aborto até aos nove meses posto que não há nada nele que impeça a legalização do aborto em qualquer ponto da gravidez. Logo, ou o slogan está errado ou aceitamos o aborto até aos nove meses.

Bom, o "slogan"mencionado parte da idéia de que não se pode estender a proibição do aborto a todas as pessoas com base na alegação de que apenas algumas acham o aborto imoral. Ou seja, não é porque A não deseja abortar que B precisa deixar de abortar. Mas aí eles mencionam outro "slogan": o de que não se pode proibir o aborto somente porque a igreja proíbe, pois o estado é laico.
O que eu quero dizer disso é tão simples que chega a ser difícil.
O "slogan" que eles querem denunciar como falácia é a idéia de que se eu não gosto que façam comigo, nada impede que você faça com você. Mas aí o texto anuncia um "slogan companheiro deste", que é a idéia de que o estado não pode proibir o aborto simplesmente porque a igreja proíbe.
É uma jogada muito boa do texto igualar as duas idéias. Mas o "slogan companheiro" é uma idéia que pode, realmente virar uma falácia, mas somente quando uma pessoa quer que o Estado sempre contradiga a igreja, como quem dissesse "se a igreja diz que o domingo vem depois de sábado, o estado tem que dizer que o sábado vem depois do domingo", ou seja, fizesse birra.
O texto faz o quê? Aponta o absurdo que seria defender que o estado deve sempre contrariar a igreja. Mas fala isso como se falasse do "slogan" que diz se eu não gosto que façam comigo, nada impede que você faça com você.
O texto quer fazer parecer que quem defende que eu não posso impor minha moral aos outros está defendendo que o estado deve sempre contrarias a igreja.
Mas essa jogada do texto somente é possível igualando o "slogan" ao "slogan companheiro", e, ainda por cima, igualando o "slogan companheiro" a uma birra.

Vou tentar me explicar mais claramente. Existe a idéia de que eu não posso impor minha moral aos outros. Aí o texto diz que defender essa idéia é o mesmo que defender outra idéia, a de que o estado não pode impor preceitos cristãos às pessoas. E diz que quem defende a segunda idéia, defende que o estado precisa sempre contrariar a igreja.

Mas defender a idéia de que eu não posso impor minha moral aos outros é uma coisa. Outra coisa é entrar no caso da relação entre a igreja e o estado. Quando se defende a separação entre igreja e estado, não se está atacando a moral da igreja, nem dizendo que ela é feia: simplesmente se está dizendo que as decisões do estado não podem ser determinadas pela igreja. Até mesmo seria absurdo uma pessoa defender o estado laico e dizer que o estado é laico quando contraria a igreja - nesse caso, a igreja ainda estaria determinando as decisões do estado. Estado laico significa que a opinião da igreja não determina a opinião do estado.

Aí o textinho vem com essa: "Por que não é a proibição do infanticídio uma imposição da moralidade enquanto o aborto o é? Será pelo fato das vítimas serem essencialmente diferentes? Mas onde está a diferença?" Esse trechinho supõe que matar uma criança seja o mesmo que fazer um aborto - mas essa é uma idéia defendida pela igreja, é uma opinião da igreja - até onde eu saiba, a sra. Ciência não definiu ainda se um feto é tão gente quanto uma criança, aliás, a sra. Ciência ainda não conseguiu explicar o que é vida, nem definir o que é "ser humano", portanto, ainda não é possível dizer se um feto tem o mesmo estatuto, o mesmo status de uma criança. Ou seja, o que o texto faz é dizer que a posição da igreja é pressupor uma opinião da igreja como se fosse uma verdade indiscutível, e, com base nessa pressuposição, afirmar que quem se opõe ao infaticídio deve posicionar-se também contra o aborto.

Enfim, o que o texto do Portal da Família faz é distorcer uma idéia para dizer que essa idéia é um engodo. Ou, falando nos termos deles, o que eles fazem é criar uma falácia para chamar uma idéia não-falaciosa de falácia.

9 de fevereiro de 2007

 

Porquê...

... meu computador mostra coisas como "Associação ILGA Portugal"?
... meu computador agora só funciona deitado de lado?
... meu computador é assim?
... eu faço perguntas desse tipo?
... eu não tenho tempo para escrever sobre coisas sérias mas tenho tempo de escrever esta listinha de perguntas?
... eu gosto tanto de listas?
... eu não vou dormir?

Um doce para quem souber as respostas.

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Fascismo

FACISTA adj. (Do it. fascista, de fascio, feixe.) 1. Que se refere ao fascismo ou a um regime análogo. - 2. que traduz tendências diatoriais e vioentas. / adj. e s. m. e f. 1. Partidário ou simpatizante do fascismo, de um regime ditatorial. - 2. Que ou aquele que impõe uma autoridade arbitrária, ditatorial e violenta aos que o circundam.

São seis da manhã, minha internet é discada e, como eu levei meia hora só para copiar isso da enciclopédia, eu não vou poder escrever nada do que eu queria.
Mas me assusta muito que ainda existam muitas pessoas fascistas no mundo. Embora eu tenha esperanças de que seja pura paranóia minha.

 

Técnicas

Eu acho que realmente tenho uma maneira muito estranha de lidar com as coisas.
Por exemplo: eu me apaixono, e percebo que não rola, não vai dar certo, no way. O que eu faço? Ao invés de me afastar, ou pagar para ver e dizer o que eu sinto, como qualquer pessoa normal (tenho braços, uma boca, pernas, essas coisas todas relativamente comuns em seres humanos - trata-se de outras anormalidades) faria, eu me aproximo do grande amor da minha vida, e convivo com ele.
A minha lógica é mais ou menos a seguinte: se eu me apaixono, eu quero conhecer essa pessoa (entre outras coisas). E, conhecendo essa pessoa, eu descubro motivos que fazem com que eu perceba que, por mais que eu tenha me apaixonado, não daria certo. Claro, eu não sei ainda o que fazer com as coisas que fazem com que eu sinta que daria certo, mas nem todo plano é perfeito. Mas eu já estou me enjoando um pouco. Pelo menos, me enjoando com a idéia de ficar chorando pelos quatro cantos a minha dor. Me dei mal inúmeras vezes na vida, mais uma ou menos uma eu já nem sinto tanto assim. Quer dizer, sinto tanto quanto qualquer outra vez, mas não fica mais tão difícil de lidar com a situação, isso não me derruba mais tão facilmente, ou, pelo menos, não por tanto tempo.
Não é como se meu sistema imunológico tivesse finalmente aprendido a me proteger de amores complicados/impossíveis/sem futuro/etc, mas ele aprendeu a, pelo menos, se recuperar mais depressa, reerguer a guarda toda mais rapidamente.

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8 de fevereiro de 2007

 

Sal Paradise

Primeira coisa: eu entro de férias, e poucos dias depois, o raio da internet discada pára de funcionar.

Segunda coisa: quando faltam menos de dez dias para eu voltar das férias, eu abro meu computador, deito ele de lado, não mexo em nada, e a internet volta. Quando eu tiver um carro, se ele parar de funcionar, eu espero que ele volte a funcionar quando eu deitá-lo de lado. Meu rádio, meu celular, as lâmpadas da minha casa, também.

Terceira coisa: é assustador você abrir sua caixa de email e ver um bilhão de emails não lidos. Tenho quase certeza de que 999.999.990 são spams, 3 são correntes, 4 devem ser mailing-lists (como deve ser isso em português?), e outros três devem ser coisas importantes. Amanhã eu vejo, não tive coragem hoje...

Quarta coisa: na falta de internet, assisti a todas as três temporadas disponíveis na locadora de Gilmore Girls. Sorte que eu conheci esse seriado antes de conhecer cocaína, porque agora eu já tenho um vício caro do qual eu não posso me livrar, e não preciso mais querer experimentar cocaína para ter um vício caro do qual eu não posso me livrar - cada um com as suas coisas decadentes.

Quinta coisa: é uma vergonha que eu precise estar de férias e sem internet para ler decentemente um livro, mas: como eu estava de férias e sem internet, resolvi ler decentemente um livro chamado On The Road (que, no Brasil, foi traduzido por Pé Na Estrada, mas acho que até mesmo no Brasil deve ser mais conhecido por On The Road). O livro é todo cheio de significados importantes, como ter sido um precursor da tal geração beat, dos hippies, do movimento punk, inspirou David Bowie, pessoas que o leram quando foi lançado largaram tudo e foram fazer as coisas que leram no livro, etc, mas mesmo assim é um livro legal. Odeio livros com significados importantes. Mas o pior é que a maioria deles são bons mesmo. Vou me retificar, então: odeio significados importantes para livros. Mas, rabugices minhas à parte, o livro é bem a cara dos tempos modernos mesmo. A maneira como foi escrito, as experiências que narra, são bem o tipo de coisas que ainda vigoram com força atualmente. A única coisa que ninguém falou desse livro é que, pelo menos até a página em que eu li, é um livro sobre homens e suas experiências. Nisso ele não é nada inovador e mantém tudo como está.

Sexta coisa: citação de uma frase legal do livro: "mañana, uma palavra adorável que provavelmente quer dizer paraíso." (capítulo 13)

Oitava coisa: alguém no mundo leva mesmo a sério esses marcadores para os posts??

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