Divagar divagarinho

Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!
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31 de março de 2007

 

Filmes doces

Existe, decerto, um universo feminino e um masculino, cada um
supostamente inerente à condição biológica de cada pessoa. Trato isto
como uma suposição por não acreditar muito, mas também não dou
descrédito a esta hipótese porque não é muito provável que toda a
humanidade esteja errada e eu não. Fico assim, na dúvida, tomando uma
coca-cola.



Mas sei que há uma cultura feminina e uma masculina.
Acho difícil falar em cultura, porque sempre que tento dizer "o que é
cultura?" não respondo satisfatoriamente. Mas trata-se de culturas.





A
cultura masculina acho um tanto pobre - eu também tenho meus
preconceitos. Conheço homens muito legais e interessantes, na minha
opinião estrangeiros na cultura masculina, mas esses poucos exemplares
não salvam o grupo todo. Conheço, também, mulheres pífias e sem
interesse, mas elas também não invalidam toda a cultura feminina. Que,
na minha opinião, é muito rica e interessante.



Provavelmente,
trata-se de uma questão de gosto. Não é porque eu goste que as outras
pessoas têm de gostar. Mas se trata do meu gosto.



Também não
contraponho uma cultura feminina a uma masculina. Não gosto da cultura
feminina em detrimento da masculina - eu poderia, por exemplo, gostar
de ambs, ou de nenhuma. Gosto de uma não por não gostar de outra, mas
sim de maneira positiva.



E, o mais estranho: as culturas se
interpolam. Não falo somente das culturas feminina e masculina:
culturas nacionais, culturas regionais, culturas profissionais,
culturas intelectuais, culturas gastronômicas, dentro de cada categoria
existem muitas culturas diferentes que se interpolam, e essas culturas
também interpolam-se com outras das outras categorias. Por isso, ou por
incapacidade minha, eu não consigo determinar de maneira objetiva o que
é próprio da cultura feminina.



Não é simples como dizer, por
exemplo, que livros femininos são os livros escritos por mulheres.
Frankenstein é muito distinto de Lado B - Histórias de Mulheres, ou do
Romanceiro da Inconfidência. Se fosse para seguir esta lógica, o gênero
"terror" seria algo próprio da cultura feminina, seria literatura
feminina - coisa que não acredito existir, a literatura de gênero. Pode
ser que determinadas obras condicionem-se pelo olhar de gênero de quem
as produziu, mas isso não configura algo como uma escola, ou um tipo de
arte.





E, claro, existe uma certa empatia de gênero. Eu fico pensando em
amigas minhas que, andando num grupo de pessoas onde a maioria são
homens (duas mulheres e três homens, por exemplo), acabam tendo
atitudes que geralmente não tem, mas que naquele momento são fruto
dessa empatia - quer dizer, conheço meninas que detestam coisas
"fofas", mas saem correndo para ver Hello Kitties porque a outra menina
teve um ataque de fofura ao ver bonecos da Hello Kittie na vitrine.
Isso somente vira uma coisa medíocre, na minha opinião, quando se tenta
transferir esse tipo de empatia para coisas como literatura ou outras
artes. Frida Kahlo tem mais temas femininos do que Magritte, mas a
pintura dela não é mais "feminina", ou a de Magritte mais "masculina".





Enfim, trata-se de um certo tipo de ambiente feminino que eu gosto. E
não falo de decoração bem-feita, casa arrumada ou capas de caderno
cor-de-rosa.





Mas tudo isso para dizer que o filme Coisas que você pode dizer só de
olhar para ela é o tipo de filme que eu gosto. Não é um filme femino.
Nem masculino. Foi escrito por um homem (não sei o nome, mas o cara é
filho do Gabriel García Marquez). Um filme encantador. O filme gira em
torno do amor, para variar. Não que eu não goste, mas sinto falta de
filmes onde a protagonista é uma mulher (ou o pretenso "universo
feminino") e o tema do filme é algo diferente do amor, como Xena ou
Gilmore Girls.





Mas Coisas que você pode dizer só de olhar para ela é encantador. Gosto
de filmes com capítulos (tipo Kill Bill), e filmes assim, múltiplos.
Porque o filme não fala de uma mulher, mas apresenta muitas mulheres em
muitas situações diferentes.





Só que não são as situações em si, e sim as coisas emocionais do filme quie são legais.





Gosto desses filmes com silêncios, meio paradões. Em uma das cenas, uma
personagem pergunta a um colega se os outros homens do banco têm
fantasias sexuais com ela. Eles ficam se olhando em silêncio até que
ele responda, e dá tempo de perceber claramente a perplexidade do
colega dela. Ou, em outra, a cartomante fica meia hora falando dos
passarinhos, e os passarinhos passam a fazer parte do filme.





Enfim, o filme é ótimo.



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30 de março de 2007

 

Quem sou eu

Coisas que você pode dizer só de olhar para mim:



como demais

terei problemas de coluna

gosto de cabelos compridos

mas não cuido bem deles

tomo banho

escovo os dentes

lavo minhas roupas

embora às vezes não as passe

tenho miopia ou astigmatismo

bebo água

possuo duas pernas

dois braços

e todos esses órgãos que boa parte da população possui

uso tênis

meias

prendo os cabelos

enxergo

não tenho tatuagens em lugares expostos por camisetas e bermudas

nem piercings nesses mesmos lugares

sou capaz de transitar em ruas com muitas pessoas

olho para os dois lados antes de atravessar a rua

mas às vezes esqueço disso

uso meu corpo, especialmente as mãos, como bloco de notas

não sou descendente de asiáticos

nem de leões marinhos

mosquitos me picaram

possuo uma pequena e simpática citatriz acima do dedo indicador da mão direita

rôo as unhas

sobrevivi

e um dia morrerei.



O resto

ou você me conhece

ou é pura imaginação sua.







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28 de março de 2007

 

Mãe, ninguém me entende....

Preconceito no cú dos outros é refresco, na opinião da ministra da... Igualdade Racial.

Esta expressão, "no dos outros é refresco", significa que o que é ruim para mim não é ruim para os outros, na minha autista opinião (autismo, em uma pessoa, é uma doença, nada a se criticar na pessoa, é óbvio; mas autismo nas opiniões, ainda por cima de uma ministra, é medíocre). A opinião desta senhora de chapinha é bastante autista, mas esse autismo ideológico é próprio do contexto do preconceito.



A frase publicada por aí foi "não é racismo um negro se insurgir contra um branco". Mas, assim como as frases do papa, publicaram fora de contexto. O que ela disse na verdade foi que ela acha natural "a reação de um negro não querer conviver com um branco", pois "Quem foi açoitado a vida toda não tem obrigação de gostar de quem o açoitou."



E nisso eu concordo com ela. Se você bater em mim a vida toda, eu não tenho obrigação de gostar de você. Mesmo que você me faça carinho a vida toda eu não vou ter obrigação de gostar de você (mas é provável que eu goste :).



Mas estamos falando de quem? "Um" negro e "um" branco. Existem, claro, negros que apanham de brancos. Existem, dentre esses, negros que apanham de brancos exatamente por serem negros. Realmente, aí é natural que esse cara que apanhou não queira conviver com o idiota que lhe bateu.



Mas qualquer um? É "natural" que qualquer negro não queira conviver com qualquer branco porque a criatura é branca?? Nem vou considerar que no Brasil não devem existir mais de vinte pessoas sem nenhum antepassado negro. Aliás, nem no mundo, porque a raça humana (eu acredito nessa teoria) surgiu na África. Mas vamos desconsiderar isso. Vamos fazer de conta que existem brancos, e também negros sem nenhum descendente branco também. Ninguém fale em índios, porque aí complica tudo.



Vamos dizer que a Ana tenha apanhado da vizinha branca. E por ser negra. Aí venho eu passando na rua (eu, que tenho mais parentada negra do que o Toni Tornado, embora tenha nascido, por uma safadeza genética, com a pele clara). E a Ana vem e me bate. Porquê? Hein? Vamos lá, quem responde? Porque a minha pele é branca.



Recapitulemos: a vizinha debilóide da Ana cresceu pensando que nego merece apanhar só porque é nego, e bateu nela, por ser neguinha. Por motivos absurdos, ela tem raiva de pele negra. Aí a Ana, por uma associação absurda, acha que eu represento a vizinha dela e desconta em mim. Logo eu, que também não gosto da vizinha dela.



O preconceito contra negros, em geral, é cultural. Uma debiloidice cultural, por sinal. O preconceito contra brancos é fruto, geralmente, do preconceito contra negros. Mas só por isso é menos preconceito? Tuuudo bem se alguém quiser pensar assim. Acharei idiota, mas as pessoas não precisam pensar como eu penso. Mas alguém que pensa assim, por favor, não me venha dizer que luta contra o preconceito.



Assuma que é uma pessoa preconceituosa, e que apenas deseja vingar seus antepassados pelo que os antepassados dos outros fizeram. Assuma que, quando vê uma pessoa branca, não vê aquela pessoa, mas sim um espectro do passado pairando sobre ela. Assuma que acredita que preconceito se combate com mais preconceito ainda (provavelmente ganhará quem tiver quem tem mais preconceito, como em uma guerra ganha quem tem mais pólvora, etc.)



Conheço gente racista que bate no peito e diz "sou racista". Desprezo-as. Mas gente racista que posa de politicamente correta é mais nociva ainda (se é que é possível) porque não me dá a oportunidade de desprezá-la. A não ser, claro, que... cometa esses atos falhos, digo, sejam mal-interpretadas.



Viva as frases dentro de contexto.





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22 de março de 2007

 

transgressão e linguagem

Minha opinião pode ser um pouco agressiva, mas eu não vejo nenhum tipo de "revolução" ou "revolta" na literatura atual.
Além de agressiva, minha opinião pode muito bem ser desinformada, porque eu não compro um décimo do que é mais acessível, e leio menos do que isso, de toda a literatura que é lançada.

Mas, alguém escreve um livro com meia dúzia de descrições picantes, e é um livro "revoltado". Outra pessoa vai e critica Cuba, ou os EUA, ou algum país da Europa, ou qualquer coisa assim, e é um livro "corajoso". Mais alguém lança um livro no estilo Harry Potter, como O Código Da Vinci ou qualquer coisa do Paulo Coelho, e é "uauuu!!". Adoro Harry Potter, mas também adoro fumar e Harry Potter está para literatura como cigarro está para saúde.

Literatura transgressora é outra coisa. E nem precisa ser transgressora. Precisa ser corajosa de verdade. Claro, eu compreendo que uma pessoa que queira escrever um livro queira ganhar dinheiro com esse livro. Nesse sentido, Dan Brown, Paulo Coelho, J. K. Rowling são perfeitos. Vivem de escrever. Eu também queria. Mas é porcaria.

Literatura corajosa é literatura que transgride - oh, que novidade - o mercado.

Em geral, aliás, a maior transgressão possível é contra o mercado e, falando com sinceridade, detesto o mercado, mas quero muito ganhar dinheiro. Me apresente outra possibilidade que eu vou correndo ver se dá certo. Mas só renuncio ao meu salário, à exploração econômica a que me submeto, quando ver que a outra possibilidade dá mesmo certo, e não "pode dar", "dará", ou "tem tudo para dar certo".
Eu acho muita graça dos punks, malvadões anti-capitalistas, que usam roupas de couro cravejadas de metais que eu, parte da massa alienada que sou, não compro com o meu salário. Me prove que não são os pais dos punks que pagam a roupa deles, que eu chamo esse pessoal de punk. É fácil ser anti-capitalista quando se tem o capital dos outros por trás.

Uma transgressão literária é fazer um livro fora do padrão. E isso eu raramente encontro. Tudo bem, é uma questão de gosto. Mas a maioria dos livros que leio são detestáveis. Quase sempre as mesmas histórias, repetições atualizadas de Shakespeare, da literatura francesa, Cervantes, e outras coisas menos cotadas. Claro, são coisas bem-feitas: Harry Potter não é uma cópia de somente um romance, nem reproduz somente um estilo. Dan Brown não é simplesmente uma Agatha Christie atualizada. Mas é tudo mais do mesmo.

E, tudo bem, já li muita porcaria que me pareceu legal. Basta citar Harry Potter.

Mas só me irrita que as pessoas vendam transgressão onde não tem nem cheiro de pólvora. Ou pensem que transgressão é pornozão barato. Nada contra nem a favor de pornozão barato, mas não me diga que descrições "quentes" são transgressões. Masturbação é mais transgressora do que isso.

***
Nada a ver com o assunto, mas é que eu estou assistindo Jornal Nacional enquanto escrevo: pobre papa... Chamam-no de nazista, conservador, tosco, velho rabugento idiota, enquanto ele é apenas um incompreendido, como qualquer adolescente que se tranca no quarto para ouvir Sepultura ou Metallica para expressar sua perplexidade diante deste mundo mau e feio. O pobre alemão fala, o povo entende mal e, coitado, as pessoas ficam fazendo cara feia para ele. Primeiro foi quando ele falou mal dos muçulmanos: ninguém entendeu que ele apenas citava alguém que falava mal dos irmãos no monoteísmo, e também ninguém subentendeu o óbvio, que deveria-se compreender suas palavras como se fossem acompanhadas da legenda "a opinião dos autores citados não reflete necessariamente as opiniões desse pobre Servo de Deus". Agora, ficam dizendo por aí que ele chamou casais que se casam novamente de "praga". Erro de tradução, claro. A palavra que ele utilizou em latim pode ter o sentido de "praga", mas seu uso mais comum é no sentido de "ferida aberta".
Gente de má vontade para com o Sucessor de Pedro, como eu, diria que a) uma "ferida aberta", se não é uma praga, no mínimo é algo nocivo que deve ser curado e b) como sempre, tudo é um problema de linguagem. Se mandarem você se fuder, por exemplo, não cometa o erro de linguagem de pensar que é uma ofensa: essa pessoa está apenas recomendando que você se ame mais, acaricie-se mais, e se foda mesmo, já que fuder é uma coisa boa e ninguém melhor do que você para se dar esse prazer. A próxima citação do papa deveria ser "Cito Chaves do Oito: 'Foi sem querer querendo, eu só quis dizer..."

21 de março de 2007

 

Hipóteses.

Vamos supor que eu tenha entendido Deleuze. Deleuze, para quem não sabe, é um autor francês.

Não vamos supor que eu tenha entendido TODA sua obra. Só uns pedaços. E trata-se de uma suposição.

Se eu tivesse compreendido, eu diria que, segundo ele, filosofia é criação de conceitos.

E, como Tíbio e Perônio, eu diria mais. Diria que é uma criação de conceitos segundo as necessidades do tempo e do espaço onde está inserida a criação desses conceitos.

Por isso conceitos estão sempre em movimento, em devir. Devir-mulher, devir-criança, devir-homem, devir-amor, devir-vida. Coisas assim. Devir-coisa.

"Mulher", por exemplo, não é o mesmo que era quando minha avó nasceu. Ela tem uns oitenta anos. Não se trata de um saudosista "é mesmo..." nem de um progressista "é mesmo!!". Se trata de que "mulher", ou as pessoas a quem correspondiam esse conceito, não podiam - muita coisa, como - usar calças. "Mulher" e "calças" eram dois conceitos separados um do outro. "Mulher de calças" ou era piada ou não era mulher. Ou não eram calças.

Para que "mulher" e "calças" pudessem andar juntas, algumas dessas pessoas a quem correspondia o conceito "mulher" tiveram de sair de seu território, o território das saias, e vestir calças, sem ser piada, e sem deixar de ser calças. A questão é: como não deixaram de serem "mulheres"?

Mudaram as calças? Aquelas pessoas mudaram? Calças, independente da cor e do formato e do tecido, seguem aquele princípio básico de duas pernas até as canelas unidas pela parte que cobre a pélvis e a bunda, culminando na cintura. E não consta que úteros, vaginas, seios, ossos, pele ou qualquer coisa assim tenha desaparecido daqueles corpos, e nem que nada diferente tenha brotado neles. Mudou a "mulher", quer dizer, o conceito "mulher".

Mudado o conceito ("Ninguém nasce mulher: torna-se mulher", mas não só aí), o feminismo pôde queimar sutiãs, e fazer a baderna que fez - e que deveria fazer ainda, pelo menos mais do que faz, na minha superficial opinião.

Mas um conceito muda de cá prá lá, de grupo para grupo, de pessoa para pessoa (Martha Medeiros escreveu um artigo em que dizia que, pedindo-se para um homem descrever "mulherão", ouviria-se algo sobre os peitões, o bundão, a cinturinha, etc, e, pedindo-se para uma mulher descrever um mulherão, ouviria-se coisas sobre trabalhar fora e dentro de casa, criar os filhos, cuidar do corpo, subir escadarias de salto alto, essas coisas - por exemplo).

Por isso, trata-se de, em filosofia, criar conceitos, que sejam funcionais a algo - o conceito de "mulher" de uma católica radical é bem diferente do conceito de "mulher" de uma lésbica apaixonada, embora ambos incluam certas coisas em comum, por exemplo.

Mas eu não entendi Deleuze, portanto, ainda não posso dizer nada disso.

19 de março de 2007

 

Fácil, extremamente fácil...

Eu gostaria de saber porque é tão fácil de eu me apaixonar. É simples como um olhar, ou como ver a lua. Deve haver algum motivo... Basta bater uma brisa leve e pronto: me apaixonei. De novo.

Deve ser o tal eterno retorno. Fora as citações sobre o assunto, o único lugar onde me lembro de ter lido esse conceito de Nietzsche foi no livro Assim Falou Zaratustra. A idéia geral - pelo que eu lembre - é de uma pessoa que sai de debaixo de um arco, dá uma volta no mundo e chega no mesmo lugar pelo outro lado. Não sei o que significa o eterno retorno, mas um bom exemplo sou eu me apaixonando.

Adoro me apaixonar. Adoro olhar nos olhos de alguém e sentir ali alguma coisa como a primavera, ou como a água de um rio ou do mar. Mas esse é só um lado do tal portal. Tenho medo que o outro lado seja como era das outras vezes.

Eu não peço à chuva que preste atenção se o povo lá de cima vive na solidão. Peço que me diga se o povo lá de cima também vive na corda bamba de sombrinha, sem saber se fica contente ou triste por se encantar de novo com o olhar de uma pessoa.

18 de março de 2007

 

Grandes pseudo-questões

O que fazer quando...

... as rodinhas de dança misteriosamente se desfazem quando você chega?
... você quer continuar dançando mas seus pés doem?
... você tem certeza de que a menina que você achou mais interessante na festa não vai dar a menor bola para você por motivos orgânicos?
... só tem cerveja e você quer um pouquinho de água (ou coca-cola, nescau, ou qualquer coisa assim)?
... só tocam músicas chatas e você está com vontade de dançar?

Claro que existem problemas maiores no mundo, mas isso não minimiza esses problemas de segunda.

15 de março de 2007

 

Citações. Ou como queiras.

Nunca na minha vida tive muita paciência para ler Shakespeare. Lembro que uma vez peguei um livro nas mãos, não entendi nada (um nome em negrito, um traço, um parágrafo, outro nome, traçõ, parágrafo) e larguei de volta na estante.

Agora tenho. E gostei.

"Alguns nascem grandes, outros alcançam a grandeza, e outros ainda são atingidos por uma grandeza que lhes é jpgada nos ombros" é um trecho de Noite de Reis (ou como queiras); mas "Soubesse eu que ele era valente, e ainda ardiloso na esgrima, tratava de lhe rogar uma praga em vez de chamá-lo para um duelo" é um trecho de que eu gosto mais porque é muito mais engraçado.

 

Coisas

Volto atrás. Assumo que eu sou assim. Inconstante. Ou fraquejante. Ou capaz de voltar atrás. Virtudes ou falhas de caráter? Não sou pessoa virtuosa, nem acho que existam caráteres falhos e outros mais completos. Minhas prisões são outras - por isso, minhas liberdades também.

Mas não volto atrás em tudo, somente no fim de blog. Em outras coisas também, mas não vale a pena citar tudo. Ainda sustento que palavras são coisas inúteis, e que as pessoas somente estão interessadas em fuder com as outras no pior sentido que se possa dar para "fuder".

Acontece que palavras são coisas inúteis para as outras pessoas. Ou, pelo menos, para certas outras pessoas. Para mim, não são inúteis. Já não sou mais tão criança a ponto de dar às palavras valor de verdade, mas também não vou dar inutilidade à palavra. É, ou talvez seja, uma questão de gosto.

As pessoas somente estão interessadas em fuder com as outras no pior sentido. Bom, eu não. Vou partir da minha perspectiva. Tosca, fracassada, mas é onde estou, e não onde me colocaram.

E, convenhamos, é mais provável que seja o caso de eu ter conhecido as pessoas erradas. Nem todas as pessoas que conheço são assim (poucas, mas valem por todo o resto e ainda sobra troco).

E o problema não é parar (com o blog) em si. O problema é parar por causa dos outros. Eu não posso esquecer: se eu não me controlar, outra pessoa o fará. Não é a cachorrice alheia que vai me fazer parar o blog, o sorriso, a vida ou o que quer que seja. Confiei, apostei e perdi? Eu sou as minhas moedas, e recolho da mesa o que sobrou de mim. Nem sempre sobra muito, mas sempre resta minha mão para me puxar, ou meu pé para me afastar, ou minha cabeça para pensar, ou meu olho para ver por onde eu posso sair. Só apanhei porque vivi, e não quero ficar resmungando de novo porque me passaram a perna.

Eu não me encolho diante de um golpe. Se não há mais solução, deixo cortar um pedaço de mim, e invento mil outras partes em outros lugares. Ou me regenero mais forte ainda. Ou qualquer outra coisa, menos me amarrar em uma pedra para evitar ceder à tentação de viver. Tudo o que se faz tem consequências, e eu não fiz curso de contabilidade para fazer muitos cálculos. Vou me fuder muito ainda, provavelmente (não que eu queira), mas não quero me esconder por trás das outras pessoas.

Enfim, ando só, pois só eu sei, prá onde ir e por onde andei.

6 de março de 2007

 

Fim.

Fim de blog.
Palavras são coisas inúteis, as pessoas estão mais interessadas em fuder com as outras (fuder no pior sentido da palavra)

5 de março de 2007

 

Algumas coisas

Quero colo. Vou fugir de casa. Posso dormir aqui, com vocês?
Estou com medo, tive um pesadelo.
Help...

4 de março de 2007

 

Sem idéias de título para este post

Eu gosto de uma coisa em mim (além de algumas outras, claro): eu esqueço. Não é um esquecimento generalizado, guardo muitas coisas, muita porcaria, até, mas outras eu esqueço. Eu não faço a menor idéia do que eu escrevi aí embaixo, porque não lembro mais. Por isso, posso estar me repetindo. Mas vá lá.

Esperei, você disse que vinha. Desci, me afastei da música e fiquei na calçada. Eram cinco da manhã. Às seis fecharam as portas do lugar onde estávamos. Pensei que talvez você estivesse entre os retardatários. Os donos do lugar saíram e fecharam as portas. Será que lhe esqueceram no banheiro? Esperei. Talvez você tivesse saído sem que eu percebesse - mas voltaria, eu tinha certeza. Afinal, nós combinamos. Lá pelas sete e meia o céu já estava claro. E resolvi desistir.

Algum tempo depois, tive de ouvir de você coisas que nem parentes meus falariam a mim - e eu não tenho lá muito respeito dos meus parentes.

Tempos depois, estávamos indo, como sempre fizemos, até a sua casa. No meio do caminho, você me perguntou onde eu estava indo. Eu respondi. E você me perguntou "mas quem foi que te pediu isso? Você está indo porque quer." Eu disse tchau e fui embora.

Há pouco tempo, no supermercado, eu esperei você descer. Muitas sacolas prendendo a minha circulação. Mas acendi um cigarro. Encontrei conhecidos. Acendi outro cigarro. Todas as pessoas que já estavam ali na frente quando eu cheguei já tinham ido embora, e algumas que chegaram depois já tinham ido. Fui embora.

Você me disse várias vezes "não se apegue". Ouvi você. Só penso que "apegar-se" é diferente de "respeitar". Se eu não conhecesse você, tudo bem. Mas conheço, e sei que você respeita as pessoas. Porque eu não mereço respeito? Não sei. E já não me interessa mais. Aí você aparecesse na minha casa e me pergunta se eu fiquei de cara por você não ter aparecido no outro dia, no mercado. Eu digo que sim. E assim ficamos.

Eu só gostaria de um pouco de respeito. De consideração. Claro que não posso exigir.

Eu não sei bem o que quero dizer, o que sinto. Conheço pessoas para quem eu não valho nada, e existem pessoas que não valem nada para mim. Nos ignoramos, ou nos tratamos apenas educadamente se não nos ignoramos. Mas nunca nenhuma dessas pessoas quis conviver comigo.

Não me importo de não valer nada para alguma pessoa - mesmo que eu goste dela. Tenho mais o que fazer. E justamente por ter mais o que fazer que eu me sinto - como em todos os meus finais - mais trouxa do que ontem e menos trouxa do que amanhã.

Só posso lhe agradecer por tudo. Valeu.

 

Ópera e coisas dramáticas afins

Divergência. O que sou e o que sinto. Divergência. Meu corpo e o que sinto. Divergência.
Isso implica em que eu não seja uma pessoa bem-resolvida. Porque possuo uma divergência interna. Basicamente entre meus sentimentos e todo o resto de coisas minhas. Eu estou em duas instâncias diferentes. Isso é a base do platonismo.

Meus sentimentos deveriam surgir de mim. A partir do meu corpo, do meu ambiente, e das minhas necessidades, os meus sentimentos deveriam concordar com tudo isso.

Mas discordam. Meu corpo, principalmente, me insere automaticamente em determinados grupos, também permite que se pressuponha determinado horizonte de atitudes, idéias, e posições que eu assuma. Minha primeira revolta, portanto, é contra meu corpo. Mas essa revolta é o tipo de revolta mais nociva de uma pessoa. Lutar contra o próprio corpo.

"Existem coisas das quais não se pode fugir. Ninguém escapa. Ninguém. Cada vida tem o seu tango - e cada tango, tem o seu preço": esse é um trecho de uma música de um grupo de humor, mas o fato de ter sido escrita por humoristas não faz desse trecho uma piada. Não se escapa do corpo e das convenções sociais sobre ele, e nem das expectativas sociais sobre ele. Meu corpo me pertence (ao menos em tese), mas não posso impedir que ele seja uma barreira intransponível para o resto do mundo. Nem mesmo eu consigo superar essa barreira...

Eu li Sartre pela primeira vez aos 14 anos. "Li" é modo de dizer, mas me inteirei dos assuntos e das opiniões dele. "As pessoas estão condenadas à liberdade", não possuímos regras de como viver, do que é certo, errado, justo, injusto, bom, mau, nada. Simplesmente isso. Estamos aí, e vamos levando. Isso foi, na época, libertador. Quando você tem 14 anos e tudo parece conspirar contra você, isso é libertador. Ao menos para mim foi. Hoje isso é uma coisa cinza. A liberdade, para mim, pesa. Por teimosia, ainda defendo-a. Mas ela não tem mais o brilho e a festa que tinha nos meus 14 anos. Cabeça-dura que sou, eu deveria me convencer de que o mundo é assim mesmo e eu tenho mais é que me preocupar não com a liberdade de quem quer que seja, mas com a minha. Vamos ver quanto tempo ainda dura minha teimosia.

De Sartre para Simone de Beauvoir foi um pulo. "Ninguém nasce mulher, torna-se mulher". Dito em outras palavras, escritas com uma faca na mesa em um filme, "não há destino". Isso é muito alegre, até é mais libertador do que o que li de Sartre. Simone de Beauvoir falava do segundo sexo, mas, querendo ou não, falava de tudo: ninguém nasce nem o que é, nem o que não é, nem nasce querendo ser o que quer ser, nem nada. Não nascemos como uma tábula rasa, mas nada na formação psíquica de uma pessoa obriga-a a ser assim ou assado. Quer dizer: uma criança rejeitada ao nascer vai ter uma configuração psíquica bem diferente da de uma criança desejada, mas nem uma condição nem outra obriga a qualquer coisa.

O que, afinal de contas, eu quero dizer, é: SIM, você é o que você quer. E NÃO, você o que lhe permitem que seja. Ou seja: você é o que você quer dentro de um limite pré-estabelecido socialmente.

Meu problema: eu não me encaixo nos limites. Simples assim. eu poderia até permanecer dentro dos limites e ser uma coisa extravagante, estranha. O extravagante e o estranho estão dentro dos limites. Mas eu ultrapasso até estes limites.

Isso cansa dia a dia. Somado a cretinice diária das pessoas, e às pessoas conscientemente ou não nocivas que encontro, fode tudo.

E eu descobri tarde demais que McGyver era só um filme, no final das contas.

3 de março de 2007

 

Quase-criatividade

Eu ia escrever um texto, na minha opinião muito legal, mas achei um texto da Vange Leonel que diz tudo o que eu iria dizer no meu, e diz mais coisas ainda. Minha idéia era tão boa que outras pessoas já a tiveram, e a tiveram melhor ainda...
Roubei daqui

O Clitóris Ameaçado
Cientistas acham que o clitóris tende a desaparecer nas mulheres. Vange Leonel formula, numa brincadeira quase séria, uma pequena teoria para a evolução do clitóris.
por Vange Leonel

nota da autora: esta minha teoria não tem nenhuma pretensão acadêmica apesar dos dados e informações apresentados serem todos extraídos de estudos científicos sérios, através de fontes primárias e secundárias. Trata-se mais de um pensamento inspirado lançado à rede para estimular as mentes críticas de nossas leitoras...


Mas por quê, afinal de contas nós mulheres possuímos um clitóris? A primeira explicação vem rápida e ligeira: ora, para nos dar prazer! Só que essa justificativa não é suficiente para os Darwinistas de plantão. Para esse tipo de estudioso há apenas duas explicações possíveis para qualquer característica física em um ser vivo: ou o traço em questão favorece o sucesso reprodutivo e competitivo daquela espécie ou então é mero resquício de algo que no passado teve alguma função evolutiva e hoje não tem mais.

Nesse caso, patas mais velozes, caninos mais afiados e um pênis que fique duro para melhor penetrar a vagina de uma fêmea são, todos, traços e características favorecidos pela seleção natural, pois incrementaram o sucesso de muitos mamíferos, só para citar um exemplo. Porém, quando se trata de discutir o clitóris, a comunidade científica se divide: há aqueles que acham que o clitóris pode ter sido favorecido pela seleção natural e há os que acham que esse nosso grande pequeno órgão é apenas um vestígio de algo que um dia foi útil.

É claro que todos concordam que o clitóris é fonte do prazer feminino. Mas é que, em termos puramente ultra-Darwinianos, a mulher não precisa, tecnicamente, ter orgasmo para passar seus genes adiante. Todo mundo sabe que uma mulher estuprada e violentada pode engravidar sem ter qualquer prazer na relação - o mesmo, não acontece com os homens. Nesse sentido, o prazer masculino tem uma explicação evolutiva clara enquanto o orgasmo feminino e o clitóris permanecem um enigma, sob o ponto de vista dos Darwinianos e da seleção natural.

As Macacas

Observando nossas parentes geneticamente mais próximas, as macacas Bonobo, vários cientistas tentam descobrir pistas sobre quem fomos e como éramos logo que surgimos como espécie. A primatologista Sarrah Blaffer-Hrdy sugeriu, numa nota de rodapé de seu livro "The Woman That Never Evolved", que os relacionamentos lésbicos entre as Bonobos poderiam ser uma maneira de reforçar os laços sociais femininos dentro de um grupo. Favorecidas pelos seus clitóris proeminentes as Bonobos, famosas por sua híper-sexualidade, têm uma facilidade enorme de travar contatos sexuais com suas parceiras. Nestes encontros as macacas estimulam os seus clitóris - que estão localizados na parte da frente do corpo, como em nós, humanas - preferindo a posição face-a-face nestas relações "lésbicas" (quando copulam com machos a posição de praxe é de quatro e de costas). Desta maneira, o clitóris teria um função primordial no contato de uma fêmea com outra (relação frontal e estímulo direto dos clitóris), sendo menos importante no contato de uma fêmea com um macho.

Assim, constatamos que o clitóris têm uma função clara quando se trata de sexo "lésbico" entre as primatas. Mas qual a vantagem reprodutiva que uma relação estéril entre macacas pode trazer? Ora, levando-se em conta que todas as Bonobos são basicamente bissexuais e, portanto, procriam, Blaffer-Hrdy chegou à conclusão que uma macaca, ao ampliar a sua rede de alianças com outras fêmeas (através do sexo lésbico), diminuía o risco de ter a sua prole ameaçada por ataques de outros indivíduos do grupo. Além de virem em sua defesa na ocasião de um ataque, essas fêmeas-namoradas não atacariam a prole de sua amiguinha, o que é muito vantajoso pois os macacos, em geral, costumam atacar os filhos daquelas que não são suas parentes próximas e com as quais não se relacionam afetiva/sexualmente. Desta maneira, o sexo lésbico (e o sexo promíscuo com outros machos) favoreceria o sucesso reprodutivo das macacas, incrementando as chances de sua prole crescer forte e saudável sem ameaças vindas do próprio grupo. Com a vantajosa alternância de sexo lésbico e heterossexual por parte das macacas - e agora a dedução é só minha - a seleção natural pode ter favorecido o clitóris das fêmeas.

Nós, demasiadamente humanas

Bem, se esta pode ser uma explicação cabível da função do clitóris para o sucesso evolutivo das fêmeas primatas, será que podemos inferir o mesmo para nós humanas? Um detalhe parece ser significativo quando nos comparamos com as macacas Bonobo: elas têm o clitóris muito maior. O que aconteceu então com os nossos clitóris desde que nos separamos evolutivamente do ramo das Bonobo? Será que nossos órgãos diminuíram com o tempo? Pode ser.

Talvez tudo tenha começado quando nós, hominídeos, lá na pré-história, deixamos de ser uma sociedade de caça e coleta, como os macacos, e passamos a dominar a agricultura. Deixamos de ser nômades e passamos a ter um pedaço de terra para plantar - e daí, para a instituição da propriedade privada, foi um passo! Com o advento da propriedade surge a monogamia, pois a propriedade têm que permanecer dentro dos domínios da família - adeus promiscuidade! Graças a enorme diferença de tamanho entre machos e fêmeas hominídeos (que favoreceu a dominação masculina pela força) a noção de propriedade se estende também às mulheres: os homens passam a possuir suas esposas e pais negociam propriedades por filhas.

Mas o que isso tem a ver com nossos clitóris diminutos? Simples: com a instituição da propriedade seguiu-se a alienação das fêmeas da espécie humana. O patriarcado enclausurou as mulheres e as separou do contato mútuo extra-familiar. Se é verdade que o clitóris evoluiu como uma maneira de reforçar alianças femininas através do sexo lésbico, a impossibilidade física de as mulheres realizarem tais encontros fez com que, darwinianamente falando, diminuísse a pressão seletiva sobre o clitóris da mulher. Desta maneira, depois de 8 mil anos de civilização patriarcal, nossos clitóris são bem menores que os de nossas irmãs Bonobos - e nossas alianças femininas, bem mais fracas!

O caso é que, mesmo que nosso clitóris não seja um resquício vestigial e que sua explicação evolutiva seja próxima da citada acima, a previsão catastrófica é que, com o tempo, nossos clitóris tendem a desaparecer. Por isso, só nos resta lançar um grito de alerta para as mulheres de todo o planeta: SALVEM O CLITÓRIS! FAÇAM MAIS SEXO LÉSBICO!


2 de março de 2007

 

Epigrama no.8 (Cecília Meireles)

Encostei-me a ti, sabendo bem que
eras somente onda.
Sabendo que eras nuvem, depus a
minha vida em ti.

Como sabia bem tudo isso, e dei-me
ao teu destino frágil,
fiquei sem poder chorar quando caí.