Divagar divagarinho

Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!
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28 de maio de 2007

 

Compasso

É o que pulsa o meu sangue quente
É o que faz meu animal ser gente
É o meu compasso mais civilizado e controlado

Estou deixando o ar me respirar
Bebendo água pra lubrificar
Mirando a mente em algo producente
Meu alvo é a paz!

Vou carregar de tudo vida afora
Marcas de amor, de luto e espora
Deixo alegria e dor ao ir embora

Amo a vida a cada segundo
Pois para viver eu transformei meu mundo
Abro feliz o peito, é meu direito!

Essa letra é de uma música da Ângela Ro Ro. Me espantei de vê-la no programa do Raul Gil (que, espanto número 2, está na Band), magra que nem um pau. Ela era bonita gordinha. Não ficou mais bonita, mas continuou bonita. Nem sempre acontece isso: uma pessoa pode engordar ou emagrecer e ficar mais ou menos bonita do que era antes, com a mudança. Ela continuou bonita. De uma beleza diferente, eu acho - não uma beleza "magra", em contraposição a uma beleza "gorda"; mas sim, outra coisa, e uma outra coisa bonita.

Imagino que a letra dessa música, que deve ser, conforme eu ouço artistas falarem na TV, sua música de trabalho (tipo o hit do CD), faça alguma referência à vida dela. Sou tiete, às vezes, e por isso sinto curiosidade em saber mais, gostaria de ouvir de que aspectos da vida dela ela fala na letra da música; mas não sei, não tenho como saber.

Adorei a letra da música porque sua letra me toca. A canção, em si, me toca muito. Mas falo da letra, apenas. Sempre imagino essas coisas, esse tipo de letra (no estilo "volta por cima"), referindo-se a pessoas que apanharam na vida, deixaram as drogas fuderem sua vida, foram "underground", gente maluca que por pouco não morreu, mas chegou até aqui e resolveu encontrar um pouco de paz.

Mas, para meu (terceiro) espanto, sinto que é uma letra que fala de mim também. Nunca tomei porres de cair habitualmente na rua. Nunca roubei nada. Nunca tive desafetos raivosos, só pessoa cuja cara eu não vou. Nunca vivi em nenhum submundo urbano. As pessoas nos bares não me conhecem, nem lembram de mim, nem me conheceriam se os frequentassem quando eu era mais jovem. Nunca me acabei com drogas ou brigas. Só minto um pouquinho, diria Tim Maia - mas eu não sou o pai do soul brasileiro.
Apesar da minha entediante vida - minha biografia deve dar um parágrafo, dois se eu fizer um poema nela - me identifico com a letra da música. Talvez seja um caso de identificação medíocre, pois minha loucura nunca foi grandiosa.

De qualquer maneira, muitos "vivas" e "aêêês" a essa volta da Ângela Ro Ro, pelo menos da minha parte.

26 de maio de 2007

 

A arte de prender

Existem muitas maneiras de prender as pessoas.



Você pode, por exemplo, não possuir ficha na polícia, não cometer nem ter nenhum crime, ter uma casa para morar, um emprego com um salário baixo porém razoável, liberdade de expressão, capacidade para expressar-se, internet banda larga, não estar em cativeiro por qualquer motivo (sequestro, motivos políticos, embaixo de escombros), e, mesmo assim, ser uma pessoa presa.



Utilizando ainda o exemplo acima. Digamos que aquela pessoa queira morar em outro lugar, uma outra cidade distante uns... 30km, por exemplo, da cidade onde mora atualmente. É possível chegar em 42 minutos na outra cidade. Nessa outra cidade, você encontra um JK com um aluguel que você pode pagar e ainda ter o suficiente para manter-se no mês todo. Esse JK fica próximo da estação do trem, no centro da cidade (vamos imaginar que essa cidade seja a capital do Estado em que a pessoa em questão mora).



Perfeito! Aquela pessoa tem dinheiro e meios de ir para lá! Tem liberdade para sair da cidade horrível em que mora, da casa e do ambiente horrível onde mora! O que estamos esperando para dizer que ela foi para lá?!?



Ela pode possuir cadastro no SPC. Bom, não é criminosa essa pessoa, mas não conseguiu honrar suas dívidas. Como esse é um exercício de imaginação, vamos colocar mais coisas aí: pode ser que essa pessoa esteja no SPC não por ter deixado suas contas vencerem, mas por ter emprestado o nome para outras pessoas abrirem contas. E estas outras pessoas não pagaram. E aquela pessoa, a do exemplo, está no SPC por isso. E, por estar no SPC, apesar de toda a liberdade que possui, não tem liberdade para abrir crediários, possuir talão de cheques e nem alugar coisas em seu nome.



Sem grades, paredes, sem restrição do direito de ir e vir, sem perder nada inclusive, esta pessoa está presa. Não presa em um cubículo com dezenas de pessoas desconhecidas, mas presa a obrigação de voltar todos os dias a uma casa com poucas pessoas com quem você não quer mais conviver. Essa pessoa não está presa em um presídio, mas em um cadastro. Essa pessoa não está presa fisicamente, moral ou espiritualmente que seja, ou psicologicamente, e nem mesmo economicamente (pois tem algum dinheiro): simplesmente está presa... somente compartilha com outras pessoas presas a impossibilidade de movimentar-se, de sair de onde está.





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14 de maio de 2007

 

Bom velinho

Está frio. Por isso, estou aqui, relaxando, comendo bolacha maria molhada no café bem quentinho com leite e adoçante (regime é foda), ouvindo Tim Maia Racional (O Caminho do Bem) e lendo notícias.



Aí eu entro no site da Folha on-line, e o que eu leio? Que o papa mostrou uma desconhecida faceta carismática na visita ao Brasil!



Eu não sou a pessoa mais imparcial para falar do papa. É muuuito fácil para mim antipatizar com esse alemão.



Mas dizer que esse cara é simpático?!? Do outro papa, o JPII, eu também não gostava. Mas sempre tive de admitir: era um velinho simpático. Era um filho da puta, mas até eu fiquei com pena dele com mal de parkinson, até eu achava o máximo ele beijar a terra dos lugares para onde ia, mesmo quando precisava que a colocassem em uma caixinha porque a coluna não deixava mais ele se abaixar, até eu achava uma graça que ele dissesse que, se deus é brasileiro, o papa é carioca, ou cantasse no RS "ucho, ucho, ucho, o papa é gaúcho" (rimas forçadas à parte). Um calhorda adorável.

Isso era alguém carismático! Eu comecei a simpatizar com o velho quando, olha que bobagem, vi ele todo vestidão de papa, toda aquela brancura na roupa, a touquinha na cabeça, e um tênis nos pés. Era um papa que fazia uma ótima presença, e, tudo bem, me convenceu. Não o torna menos machista, menos preconceituoso, mas, enfim, mesmo o Collor, ainda é carismático, fazer o quê?



Eu entendo, odeio mas entendo, tenh nojo mas entendo, me revolto mas entendo que a mídia faça propaganda do papa. Não vivemos em um país onde a igreja separou-se do Estado, na prática. Um exemplo disso é que vivemos sob a proibição cristã ao aborto e ao casamento entre homossexuais. Mentem, a gente sabe. Mas descaradamente assim? Desavergonhadamente assim? Ratzinger simpático?



Tudo bem que muito do que a mídia diz vira verdade porque a mídia disse, fosse verdade antes ou não, já não importa depois de dito e crido. A mídia diz, o povo acredita. Mas a mídia precisa se contorcer. São movimentos sutis os necessários para fazer dos Sem Terra um movimento diabólico, dos EUA o paraíso, da América Latina um inferno, etc. A coisa quase sempre é bem montada.



Mas mentir assim, de uma maneira tão escancarada! Dizer que porque ele apareceu na janela do quarto ou quebrou o protocolo caminhando com as pessoas, tornou-se carismático? Qualquer pop-star faz isso, e o papa, como descobriram os engenheiros hawaianos, é pop. Dissessem que o Ratzinger é pop. Seria simpático. Mentiroso mas simpático. Simpatia independe, infelizmente talvez, de V ou F.



Eu sinto como se eu tivesse lido que o papa levitou com o poder o espírito santo (a divindade, não o estado).



Enfim, eu, que estava relaxando, lendo bobagens, tive que parar tudo para comentar isso, que o papa é, segundo a Folha de S. Paulo em sua versão on line, carismático.



Quando eu tiver dinheiro, poder e fama, espero que digam que eu peso 50kg. Se o carisma ratzingeriano colar, qualquer coisa cola.





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13 de maio de 2007

 

Teoria da Relatividade ou Física Quântica?

Segundo a nossa Constituição, a Carta Magna, o Brasil é um estado laico, o que significa que nenhuma religião, crença ou descrença religiosa tem preferência ou é depreciativa.



No regimento interno da Câmara dos Deputados, é obrigatório iniciar as sessões invocando a proteção de deus, e também é obrigatório que a bíblia esteja em algum lugar acessível, disponível para que qualquer deputado cite-a ou leia-a.



A Câmara dos Deputados, obviamente, não fica no Brasil. Estranhamente, ela também não está em outro lugar algum do mundo, já que é a Câmara dos Deputados brasileira.



Deve ser a tal Teoria da Relatividade, ou então coisa da Física Quântica mesmo, essa história de que um estado laico obriga o pedido de proteção a deus e a presença de uma bíblia para que os nossos legisladores sempre possam realizar seus trabalhos segundo preceitos cristãos. Alguém poderá dizer "mas eles não precisam trabalhar segundo preceitos cristãos", e alguém poderia, então, replicar "mas Deus, com 'd' maiúsculo, não é cristão? E a bíblia é o que, hindú?"



Porque se a Câmara dos Deputados ficasse no Brasil, não poderia ter, em seu regimento interno, essas obrigações de testemunho cristão.



Claro, pode ser que, talvez, tenhamos que admitir que essa conversa de Estado laico seja uma mentira tão grande quanto as armas de destruição em massa iraquianas. Pode ser que a Constituição seja - oh, céus! - uma farsa. Ou pelo menos parte dela. Talvez, essa invocação a deus e essa bíblia sejam uma ofensa à Constituição. Afinal, ninguém me garante que a nossa Câmara dos Deputados não se localize no Brasil, esse grande Estado laico, e talvez fique em  Brasília, que é onde ficam as sedes do poder executivo e do judiciário. Alguém que mora em Brasília saberia me dizer se a Câmara dos Deputados fica aí, por favor?



Acho que uma pessoa cristã tem o dever de seguir os preceitos de sua religião. O mesmo vale para um Estado cristão. Mas porque motivo um Estado laico seguiria preceitos cristãos?



Se for esse o caso (quer dizer, se a Câmara ficar mesmo em Brasília), eu gostaria de dizer que me agradaria muito viver em um Estado laico que estimulasse a diversidade, e não desse prioridade a nenhuma crença.



Mas, confio na minha Pátria! Sei que não, isso não pode ser assim! A Câmara dos Deputados brasileira só pode localizar-se em outro lugar que não seja o Brasil, sem, no entanto, localizar-se em outro lugar qualquer, porque viraria bagunça se a Câmara da China fosse aqui, a da Argentina fosse no Canadá e a da Inglaterra, na Antártida, por exemplo.

Por isso, por essa confiança em meu país, só me resta descobrir se esse fenômeno, uma Câmara que não está em lugar algum, embora exista, é um fenômeno d Física Quântica, ou da Teoria da Relatividade.





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11 de maio de 2007

 

Foda-se

Construíram um museu que traz provas científicas da criação do mundo em seis dias.



Não sei quantos mil jovens gritram "não ao aborto!" não sei em que estádio de São Paulo enquanto tocavam rock católico.



O papa, chefe de estado do Vaticano, ameaça excomungar deputados que não votem pela descriminalização do aborto, por mais que, pelo que eu saiba, um país não possa se intrometer na vida do outro.



Mas foda-se: o dia está lindo, temperatura agradável, é sexta-feira, e não vai ser isso que vai me estressar. Pelo menos não hoje.





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10 de maio de 2007

 

Cartoon

No balão de cima, a personagem diz: "Bush é como o Papa, está contra o aborto."
No balão abaixo, a outra personagem diz: "Sim, prefere que se tornem adultos e tenham a oportunidade de morrer matando no Iraque."

Encontrado aqui, mas retirado daqui.

 

Imprensa oferece ajuda à ofensiva política do Vaticano

A mídia brasileira, talvez sem perceber,
está ajudando o Vaticano a acionar uma ofensiva sem precedentes. A
discussão sobre o aborto é apenas um pretexto: a visita do papa Bento
XVI foi montada para exibir a ancestral capacidade mobilizadora da
Igreja depois de uma longa letargia ante o avanço das crenças
protestantes e da descrença racionalista.


O espetáculo da fé iniciado ontem a partir de São Paulo para todo o
país é parte de um espetáculo político, minuciosamente planejado.


É legítimo: o Vaticano é um Estado, tem interesses ideológicos e
interesses políticos. A mídia é que não deveria ignorá-los. Ou, pelo
menos, não deveria esquecer que as comoventes exibições de devoção
religiosa são a face visível de um projeto de poder que em determinados
momentos deixa de lado a espiritualidade para recorrer a claras ameaças
aos políticos que favorecerem a legalização do aborto.


Essas coisas escapam à mídia eletrônica que há muito abdicou de
qualquer exercício crítico. O que chama a atenção é que a mídia
impressa, sempre mais comprometida com o debate e a autonomia, parece
seguir na mesma linha. Pelo menos até quarta-feira (9/5).

Observatório da Imprensa





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Para dias frios: Lenha

Eu não sei dizer
o que quer dizer
o que vou dizer
eu amo você
mas não sei o que
isso quer dizer
eu não sei por que
eu teimo em dizer
que amo você
se eu não sei dizer
o que quer dizer
o que vou dizer
se eu digo pare
você não repare
no que possa parecer
se eu digo siga
o que quer que eu diga
você não vai entender
mas se eu digo venha
você traz a lenha
pro meu fogo acender

9 de maio de 2007

 

Um pouquinho de desgraça

Wal Mart, discriminação e perseguições: "um dos melhores lugares para se trabalhar.



A gigantesca rede Wal Mart foi denunciada internacionalmente por suas práticas anti-sindicais e discriminatórias pela organização Human Rights Watch. Na Argentina, denuncia-se que os demitidos saem conduzidos pelas mãos de ex-militares que trabalham em cargos de segurança, como Alfredo Saint Jean. Lavaca conversou com um homem-recorde: duas vezes demitido. O cliente que parecia Bin Láden, o doutrinamento, a espionagem e outras táticas em oferta.



O restante desse texto você pode ler aqui, em espanhol.





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8 de maio de 2007

 

Dê sua cara à tapa pelas mulheres

A Intermón Oxfam é formada por um monte de pessoas que luta com e para populações desafovrecidas, com o objetivo de erradicar a injustiça e a pobreza, para que todas as pessoas possam exercer plenamente seus direitos e desfrutar de uma vida digna.



Esse pessoal fomenta projetos de desenvolvimento, faz ações humanitárias, busca garantias de condições de trabalho dignas, e realiza campanhas para denunciar, mobilizar e educar, para que a sociedade tome consciência, atue com responsabilidade e faça pressão.



É difícil não soar um pouco formal quando eu elogio uma coisa dessas, ainda mais quando eu copio essas informações do site da instituição, e quando eu fico me controlando para não fazer piadas (sem que isso diminua o valor da IO, é que eu encontro piadas em quase tudo).



Uma dessas campanhas, que é o motivo desse post, chama-se "Dá a tua cara pelas mulheres", e consiste em enviar uma mensagem de apoio à campanha. A cada mensagem de apoio, uma tal de Infojobs.net doará 1 Euro (meu teclado é pré-União Européia e não tem o sinalzinho de Euro) para o trabalho realizado pela ONG em prol de mulheres desfavorecidas. A idéia da campanha é que, junto com a mensagem de apoio, você coloque uma foto sua, o que justifica o título "Dá a tua cara..."; mas se você, como eu, não tem uma foto sua no computador, você pode escolher uma imagem com a qual você se identifique mais.



Dois possíveis problemas no site, apenas: é um pouco pesado, e é em espanhol (porque nem todo mundo tem, no trabalho, um computador mais decente que o de casa, e nem todo mundo entende espanhol).



Se você não viu o link para a campanha ali em cima, aqui vai ele de novo:



http://www.intermonoxfam.org/minisites/esperanza/flash/index.html



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7 de maio de 2007

 

Divagar divagarinho...

Eu tenho algo para dizer, mas não tenho palavras. Ou talvez tenha as palavras, mas nada para dizer. Não sei.



Segundo Schoppenhauer, lido por mim num daqueles livrinhos de dérreal da L&PM Pocket chamado A Arte de Escrever (que não é propriamente um livro do alemão, e sim uma coletânea de textos sobre a escrita), enfim, segundo o autor, a primeira condição para se escrever algo interessante e não-entediante para o público é ter o que escrever. Se você tem vontade de escrever apenas, e não tem o que dizer, apenas fará com que as pessoas percam seu tempo.



Eu não sei. É claro que você precisa ter algo para dizer para escrever. Mas como é possível não se ter nada a dizer?



Não é o caso de, por exemplo, um casal apaixonado à beira de um lago sob a luz da lua em uma agradável noite de verão, que pode passar horas a fio sem falar nada. Nesse caso, as pessoas não precisam dizer o que têm para dizer, ou dizem de outra maneira, ou o que teria para ser dito já está ali (o romance ou a beleza do momento, a tranquilidade, etc), ou não querem dizer nada e aproveitar outra coisa. Não se trata de não ter o que dizer.



Uma criança, um bebê, provavelmente também têm o que dizer, só que às vezes não têm meios de se fazerem compreender - pois crianças e bebês dizem, seja rindo ou chorando. Animais também. Não estou dizendo que uma criança é um esquilo.



Uma pessoa pode ter, para dizer, algo que já foi dito antes. Ou pode ter um adendo, uma observação, pra dizer.



Eu também não estou querendo salvar os assuntos inssossos. Já li livros muito toscos, já conversei conversas idiotas, e já falei, também, apenas por falar.



Dizer alguma coisa, às vezes, pode ser só dizer, alguém que ouça, e que talvez diga algo. Existem até as pessoas que falam sozinhas.



Aí chegamos no ponto deste blog. É praticamente mais um bloco de notas do que um blog. Porque, assim como as coisas que eu anoto, só eu leio. Pode ser que alguém leia minhas anotações, mas é só uma possibilidade que praticamente não interfere no que é escrito.



Eu acho que, sem querer, inventei um novo conceito na Internet: o blogue de notas. Um blog pode virar muitas coisas: espaço de informação, um meio de se comunicar com pessoas que você conhece, um diário. Eu faço um blogue de notas.



Bom, talvez não seja nenhum novo conceito internético. Tudo bem. Mas com certeza isso é um blogue de notas.





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Wal-Mart

Há muitos anos, a pena para alguns crimes era alguma coisa pública, como apanhar ou simplesmente uma prisão exposta. As coisas mudaram, e hoje os presídios, bem como os criminosos (pelo menos no Brasil) são certamente bem mais cruéis do que levar chicotadas em público - o que também é suficientemente cruel.



Nos EUA, um juiz condenou duas pessoas a permanecerem algumas horas em frente a uma unidade dos supermercados Wal-Mart, seguindo aquela lógica de que não é possível tratar um ladrão de galinhas como um perigoso criminoso e prender como se a vida das pessoas estivesse ameaçada por quem rouba um pacotinho de biscoitos ou um pote de margarina no mercado.



Eu só espero que a maioria das pessoas não comece a aceitar que não é algo cruel (se bem que bem menos cruel do que um presídio) obrigar alguém a expor-se dessa maneira.





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6 de maio de 2007

 

Paranóia

Eu não poderia ser diplomata porque o meu conhecimento de política mundial é mais escasso do que as reservas de água doce no planeta.



Mesmo assim, do pouco que sei, estou roendo minhas unhas com as eleições francesas: Sarkozy X Royal (a segunda, por sinal, tem um nome que achei muito bonito: Ségolene)



Segundo todas as pesquisas antes da eleição, e as sondagens logo após o final, Sarkozy (que eu chamava de Sarótzki até algumas semanas atrás, até me dar conta de que eu embaralhava as letras e de que se pronuncia Sarcozí) será o presidente da França.



Eu não moro na França; não tenho parentes na França; não tenho imóveis, negócios nem terras na França (e nem no Brasil, aliás); mas me preocupo.



A Europa, acho, possui uma certa liderança mundial. Tudo bem, quem manda são os EUA, que têm dinheiro para sustentar essa posição. Até a China deve mandar mais do que a Europa. Mas nessas coisas de tendências, de tomar atitudes antes do restante do mundo, geralmente a Europa é protagonista (basta ver que lá, a maconha é liberada, em pequenas quantidades, o aborto é permitido até em Portugal - que é quase um Terceiro Mundo europeu - e as instituições não perguntam de que orientação sexual é o seu casamento, caso você queira casar; e, veja bem, não estou dizendo nem que concordo nem que discordo dessas posturas, o que está em questão é que lá pelo menos tentam permitir essas coisas polêmicas para ver no que dá).



Mas o Sarkozy é um cara que pensa que tendências ao suicídio e à ladroagem são coisas genéticas; que as pessoas devem trabalhar muito para ganhar mais ou menos bem; que a imigração é um câncer; que o Estado não deve fazer coisas como Previdência Social, assistencialismo e outras coisas que acostumam mal a população; etc.



Pode ser que a coisa pare por aí: testes biológicos em recém-nascidos para rastrear ladrões e suicidas desde o berço, aumento do poder das empresas e diminuição do poder das pessoas comuns, expulsão de imigrantes e maior rigor para entrar na França, menor proteção social por parte do governo, bobagenzinhas.



Mas é um passo a mais em direção a posturas semelhantes a algumas coisas que, quando aconteceram (e deixaram de acontecer ainda hoje?) chamaram de Nazismo ou Fascismo.



Isso só na França, mas em toda a Europa essas pequenas coisinhas estão se avolumando, bem devagarinho, entre um atentado terrorista e outro - que chamam muito mais a atenção.



Pode ser paranóia minha, e eu espero que seja mesmo, e que daqui a pouco as pessoas possam rir da minha afobada preocupação, e não que alguém diga que "pior, tu tinha razão".





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O inferno são os outros

Jean-Paul Sartre escreveu um livro, que é uma peça de teatro, chamado Entre Quatro Paredes. Conta a história de três pessoas condenadas a passar a eternidade convivendo no mesmo quarto: uma funcionária pública apaixonada por uma outra mulher que a rejeita; esta outra mulher, apaixonada por um homem que a rejeita; e este homem, apaixonado pela funcionária pública, que o rejeita. O local onde fica este quarto é o inferno.



Mas não um inferno à lá Ratzinger (fogo, enxofre, diabo, choro e ranger de dentes): o inferno, segundo Sartre, são os outros.



Eu não li o livro nem nunca assisti à peça - quer dizer, somente conheço a história por meio de fofocas.



Mas sei que Sartre tem toda uma reflexão sobre o Outro e, entre outras coisas, o Outro é quem me frustra constantemente no que quer que seja (estou falando de maneira superficial sobre as idéias de Sartre).



Enfim, eu não acho, pessoalmente, que todos os outros sejam o inferno. Mas, falando de alguns, realmente, concordo e assino embaixo: o inferno são os outros.





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2 de maio de 2007

 

Diversão barata para gente medíocre

A principal rua da cidade. Um ajuntamento de gente. Gente torcendo (apoiando, vaiando, batendo palmas). "Gente, é briga!" você ouve sabe lá de quem. A multidão formou uma rodinha (meio círculo na calçada de lá, meio círculo na calçada de cá) e, no meio, um homem sentado em uma moto, e uma mulher, "montada" no pára-lamas dianteiro da moto, em pé, segurando o homem. Ela xinga ele, ele faz cara de "mas o que é isso?", com os cotovelos dobrados e as palmas da mão para cima. De repente, ela sai da frente da moto e fica ao lado dele. Aí já deu para notar que ela está furiosa com ele, e ele está mezzo constrangido, mezzo irritado, mezzo assustado, como uma deprimente pizza humana. Um homem próximo dessas duas pessoas faz um sinal, sabe-se lá para quem, que tanto poderia significar "dispersando, pessoal" quanto "dêem um jeito vocês aí". Aí o cara arranca. A multidão delira. A mulher segura o homem pelo casaco de tac-tel. Ele não acelera muito a moto, apenas o suficiente para que ela corra muito por um curto espaço, agarrada no casaco dele. A multidão delira mais. Ele acelera mais, ela cai. A multidão tem uma espécie de orgasmo coletivo, ou, no mínimo, um espasmo de euforia, onde se misturam indignação, realização, surpresa, choque, emoção. No fim ela sai montada na garupa da moto, e a multidão se dispersa.

Nesse meio tempo, os comentários: ela pegou ele com outra ali mesmo; isso é o fim da picada; se ela pode porque ele não?; baixaria. No fim, os adolescentes com mochilas vão em direção à escola (há poucas quadras dali), uma parte da multidão vai em direção ao shopping, ao mercado, e o restante se dispersa.



Nós adoramos pão e circo.





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