Divagar divagarinho

Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!
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30 de novembro de 2007

 

Sol na casa 8, lua na casa 5

"Neste período, que vai de 29/11 (ontem) às 20h50 a 02/12 às 5h24, a passagem do Sol pelo setor das crises pessoais pode significar um transbordamento de emoções e problemas que você tem tentado evitar nos últimos tempos, Marcelo. O Sol em trânsito pela Casa 8 entra em conflito com a Lua, sugerindo que você até deseja levar as coisas numa boa, com mais relaxamento e tranqüilidade, mas há problemas e pendências a resolver que não podem ser evitadas! O Sol neste momento pede que você não faça de conta que não existem coisas que lhe incomodam e que dê atenção a estes pontos, que jogue luz sobre eles. A Lua na Casa 5 lhe ajuda a ver as coisas com maior bom humor. A reflexão para o período é: do que eu preciso me libertar?"

Bom, podemos começar pelo sentimento de preterimento: sabe quando você é aquela pessoa que tanto faz se está lá ou não? Que pode ir se quiser, e ficar se quiser? Deve ser o que uma moeda sente dentro de um copo d'água: a água não vai transbordar com uma moeda ali dentro - a água nem vai sentir a diferença - só vai ficar muito suja. E as pessoas dizem que gostam de você. dou muito valor ao que me dizem, mas preciso ouvir isso por outros canais além dos auditivos.

Depois, podemos passar ao trabalho: você caminha muitas quadras a pé diariamente porque no local onde você trabalha não tem xerox, você precisa fazer orçamentos dos produtos mais inverossímeis com no mínimo 30 intens por vez em 6 horas, você precisa manter em dia as cópias dos formulários mais utilizados, você precisa fazer a manutenção do computador, você precisa ligar para o RH, você precisa reinstalar o anti-vírus, você precisa cortar as folhas A3 no meio para que virem A4, você precisa prender sua caneta com uma cordinha porque não existem mais canetas onde você trabalha, você precisa tomar todas as precauções possíveis e impossíveis para que as impressões saiam absolutamente perfeitas da primeira vez para não se incomodar e tem que imprimir agora já, porque a sua chefe está saindo em cinco minutos e pediu para você fazer o memorando agora.... e, de vez em quando, o que você ouve é "se fosse em outro lugar, você já teria sido demitido" na frente de todo mundo.

Chegamos, finalmente, em casa: as pessoas falam alto demais; assistem toda a grade de programação da Globo e metade do SBT e a apresentação do Pânico mais as duas reprises semanais na TV; ouvem o rádio no último volume (porque falam gritando); não deixam sobrar nada de comida para você no fim do dia; tiram suas roupas do varal, as roupas que você estendeu com todo cuidado e delicadeza para não amassarem, amassam-nas ou deixam-nas dependuradas com um só prendedor; meio-dia, quando você chega em casa com pressa para colocar a roupa na máquina, você abre a máquina com quilos de roupas e descobre que alguém colocou suas roupas para bater e a máquina já terminou de bater faz horas mas a pessoa esperava que o próximo que fosse usar fosse estendê-las, mas você não tem tempo para isso porque a água para a massa já deve ter fervido e ela fica pronta em sete minutos, e você deixa para lá, come em quinze minutos, fuma em cinco, escova os dentes vai no banheiro passa um creme passa um desodorante procura a chave encontra a chave em sete minutos e amanhã tem que lavar as cuecas no chuveiro e secar no ventilador ou atrás da geladeira; sua mãe, que ótimo, está apaixonada, lindo, mas o cara mora lá, e de vez em quando se confunde e usa - que nojo - as suas cuecas porque se confundiu no varal, e como você descobriu isso? porque quando você vai colocar descobre que caberiam dois de você dentro delas, o elástico está perdido.

Quase esqueço que eu também tenho um corpo: que não emagrece de jeito nenhum, de onde brotam pêlos por todos os lados ("todos os lados" não é força de expressão: surgem pêlos nos lugares mais impossíveis...), cuja cabeça dói constantemente, cujo estõmago está sempre embrulhado, cujos pés dóem todas as noites até que eu durma (e às vezes amanhecem já - ou ainda? - doendo), cujas costas doem (e, quando páram, basta eu me virar de um jeitinho todo especial que sempre acerto para que eu tenha a impressão de que alguém está tentando levar a minha espinha à força), fora outros detalhes realmente sórdidos dos quais não quero falar, só me livrar.

De que eu preciso me libertar?
Eu já não sei, acho que de nada. Tenho a impressão de que não há nada mais de que eu deseje me libertar, além de uma coisa. Eu começo a acreditar em destino, carma, trabalho, olho-ruim, essas coisas.
Eu estou começando, aos poucos, a perder a graça nisso tudo, a perder a graça disso tudo. Sempre achei tudo isso, no fim das contas, interessante ou engraçado. Mas mais e mais eu perco o interesse, e não acho mais engraçado essa coisa toda.
Do que eu preciso me libertar??
De mim, talvez.

26 de novembro de 2007

 

Historinha

Eu não sei o que pode significar essa história, mas eu achei interessante assim mesmo.

Um cavaleiro vinha cavalgando e deparou-se com um imenso pântano. Era tão grande que, se ele decidisse contorná-lo, levaria um dia para fazê-lo. Ele viu uma criança ali perto e perguntou a ela se o fundo era firme, e a criança respondeu que sim. Então ele começou a atravessar o pântano, e começou a afundar. Antes de ficar completamente submerso, disse à criança:
- Você falou que o fundo era firme!!! - E a criança respondeu:
- Mas você ainda não chegou ao fundo.

25 de novembro de 2007

 

alguns livros

Anais Nin dizia que sua primeira visão da terra fora através da água; que pertencia à raça de homens e mulheres que olham todas as coisas através desta cortina de mar e que seus olhos eram a cor da água.
Ponto 1:
A maioria dos homens que eu conheço tem uma verdadeira epifania divina quando vê duas mulheres se beijando (duas mulheres bonitas, bem entendido). Eu sempre me pergunto por que processo isso acontece. O que há de mais excitante em um beijo de duas garotas do que em, por exemplo, apenas uma garota? Acho muito bonito ver duas garotas se beijando, mas porque em geral são beijos mais românticos, gestos mais delicados e suaves e sinto muita inveja por saber que nenhuma garota me tratará assim; mulheres heterossexuais (as que eu conheci, pelo menos) querem Homens, aquela coisa máscula e viril, meio tosca que tem um andar desengonçado mas que, em meio a toda essa falta de graça e beleza, lhes oferecem flores, talvez gostem descobrir que em meio a toda aquela rudeza há algo suave e delicado que faz com que se aproximem. Eu sou um pouco mais confuso do que isso, mas não tenho nem a rudeza máscula e viril, nem a delicadeza e suavidade feminina para oferecer a ninguém. Não tenho nada que uma lésbica queira (as lésbicas que o digam), nem que uma heterossexual queira; mesmo uma mulher bissexual, sublinho novamente que é somente entre as que conheço, mesmo uma mulher bissexual quer masculinidade de um homem e feminilidade de uma mulher. Me fodi de qualquer jeito. Mas só o que eu queria dizer é que não acho a coisa mais excitante do mundo ver duas garotas se beijando – acho bonito, mas já vi beijos heterossexuais, ainda que em menor quantidade, tão doces e carinhosos quanto beijos lésbicos. E nem uma visão e nem a outra me excitam a ponto de me deixar no cio (que é a maneira que os caras ficam quando vêem duas garotas).
A maioria dos homens que conheço, dentre os heterossexuais, também abomina levar uma cantada de um homem. Eu abomino, mas se for um cara feio. Fico com pena dos gays bonitos que, porventura, ficam a fim de mim (mas são poucos e não chego a constituir uma calamidade mundial aos pobre corações apaixonados): é só amizade, colega. Mas aceito um bom papo depois de uma cantada mal-sucedida, quando não é o caso de “eu não te quero como amigo”: quer conversar, ótimo, quer trepar, se deu mal, melhor sorte na próxima. Pode ser que apareça um cara que me convença a ficar com ele – mais exatamente: pode ser que apareça um cara com quem eu queira ficar. Mas até o momento, de barba mal-feita basto eu e nem da minha barba mal-feita me arranhando eu gosto (barba mal-feita só tem uma vantagem, que é ser muito boa para coçar a mão, mas qualquer coisa suficientemente áspera que não machuque serve também, o que significa que eu viveria perfeitamente bem sem minha barba crescendo que nem grama numa casa abandonada). Como eu escrevo demais para dizer pouca coisa, resumo: eu só queria dizer que não tenho maiores problemas com gays também; pode me cantar à vontade que eu sei dizer não com toda a educação, e ainda batendo as pestanas. Não pense também que toda hora tem um cara me cantando. Acho que são os mais desesperados.
Escrevi os dois parágrafos anteriores só para dizer que não sou preconceituoso. E só escrevi a frase anterior para contradizê-la e corrigi-la. Eu sou uma pessoa tremendamente preconceituosa. Mas os meus preconceitos são muito singulares.
Nem em meus preconceitos eu me enturmo. Se eu fosse homofóbico, poderia encontrar o meu grupo na TFP, ou virar católico e participar da renovação carismática, ou pentecostal e participar da oração dos 318 na Igreja Universal, ou então virar skinhead e bater em qualquer homossexual que encontrasse na rua. Mas esse tipo de coisas me dão ânsias de vômito demais, eu não seria feliz.
Mas eu dizia que meus preconceitos são muito singulares. Você é lésbica? é gay? pouco me importa! Mas se você quer conhecer o pior de mim, basta me colocar para conviver com homens. Com exceções, claro: tenho um amigo homem de quem gosto muito, tanto quanto gosto de minhas amigas. Fora ele, tenho um vago sentimento de que o restante dos homens são pessoas e é nesse patamar que os respeito.
É um preconceito odioso como outro qualquer, tal qual nazismo ou homofobia. E não faço a menor idéia de como me livrar dele. Quanto mais convivo com homens, com uma única exceção, mais aumenta meu preconceito. Ah, claro, outra exceção: gays são pessoas extremamente interessantes, também. Não sei porque, gosto dos gays em geral. Talvez eu seja, afinal, um gay reprimido, mas aí precisaria admitir que é uma repressão muito bem feita, porque tudo o que eu reprimo acaba escapando por algum outro lado e de maneira incontrolável, e não consigo identificar nenhum válvula de escape para uma possível homossexualidade reprimida minha. E eu já reprimi muitas coisas durante a minha vida para não reconhecer mais uma repressão. Admito que posso estar errado, mas é uma admissão mais por costume do que por achar mesmo que possa estar errado.
Ponto 2:
Todos os livros que me acertaram em cheio, que me tocaram de uma maneira mais significativa, foram escritos por mulheres. Mesmo alguns livros escritos para mulheres (Lado B é muito mais tocante do que A Insustentável Leveza do Ser, por exemplo). Não é que eu entenda as mulheres, e nem que as mulheres me entendam. Nem todas as mulheres que conheço me causam muito efeito. Mas os maiores efeitos que me atingiram foram causados por mulheres. Especialmente livros escritos por mulheres.
A essa altura, preciso explicar o seguinte: a maioria dos livros que li, os achei muito medíocres – tanto livros escritos por homens, quanto livros escritos por mulheres. Em meio a toda a mediocridade, existem livros muito bons, tanto de homens quanto de mulheres. Mas existem livros cujas palavras realmente fizeram diferença na minha vida: desses, a maioria foi escrito por mulheres.
Nietzsche, Foucault, Deleuze, Marion Zimmer Bradley, Lúcia Facco, Colette, J.M. Simmel (um homem), J.K. Rowling, Margarita Pisano, Simone de Beauvoir, Monique Wittig, J. Butler (uma mulher), Cecília Meireles, uma ucraniana naturalizada brasileira muito famosa cujo nome esqueci, Isabel Allende, Safo, acho que não esqueci ninguém. Não vou contar quantos são homens e quantas são mulheres, mas nem precisa.
Conclusão:
Por algum motivo que eu desconheço, escritoras me compreendem (sem o saber) muito mais do que escritores. Pode ser devido ao meu preconceito contra homens, mas acho que não. E eu disse tudo isso só para dizer do meu espanto com o que li (e escrevi lá em cima) em Anais Nin: como alguém pode me adivinhar assim? De certos livros que leio eu deveria cobrar os direitos autorais: é de mim que estão falando!
Mas também não vou explicar de que maneira isso se refere a mim. Muita intimidade, mesmo para um blog tão sem IBOPE quanto este.
“A minha primeira visão da terra foi através da água. Pertenço à raça de homens e mulheres que olham todas as coisas através desta cortina de mar e os meus olhos são a cor da água.” – É como ela escreveu a frase.

 

Eu enquanto pessoa ridícula

Sempre existem sobre uma pessoa no mínimo duas perspectivas: a da própria pessoa e a dos outros. “Perspectivas” porque, no final das contas, nem uma nem outra têm maior valor, nenhuma das duas é mais verdadeira; “no mínimo”, porque falo de duas perspectivas só para facilitar, pois acho difícil alguém ter sobre si somente uma perspectivas, e todas as outras pessoas dificilmente terão, todas elas, a mesma perspectiva sobre a mesma pessoa. “Perspectiva”, novamente, porque é somente uma opinião, uma posição, concepções relativas, que se tornam “verdadeiras” por serem aceitas como tal (não quero dizer, com isso, que não existem verdades, não defendo um relativismo total, pelo contrário: existem verdades, existem coisas sobre as quais pode-se descobrir verdades, existem opiniões, existem coisas sobre as quais somente pode-se construir opiniões; mas tanto as verdades e as opiniões quanto as coisas que podem ser verdadeiras ou subjetivas, somente são aquilo que se aceita que são; “o sol nasce”, por exemplo, é uma verdade, mas não é que o sol ou o seu nascimento diário “emane” uma verdade, e sim aceita-se que é verdade que o sol nasce, da mesma maneira, achar a Marília Gabriela linda é somente uma opinião, porque aceita-se que beleza é uma questão de gosto – e “gosto” é uma questão muito importante – que varia segundo cada pessoa).
Assim, a opinião, a perspectiva que as pessoas tem sobre alguém é somente uma opinião, assim como a opinião que alguém tem sobre si é, também, somente uma opinião. Em geral é mais saudável uma pessoa levar mais em conta a própria opinião sobre si (até mesmo fazer dela uma verdade, caso isso seja mais efetivo) do que a opinião alheia (“não é possível agradar gregos e troianos” diz o ditado), mas a opinião alheia, de uma maneira ou de outra, em maior ou menor grau, é significativa.
Considerando isso, chegamos a mim – que sou o assunto mais interessante deste blog. Alguém pode não me achar interessante, eu sei, e “alguém”, no caso, é a maioria; mas eu aceito as conseqüências disso, que são registrar o menor número de visitas no maior tempo possível (talvez seja um recorde) continuamente, quando o ideal de um blog, me parece, seria registrar o maior número de visitas no menor tempo possível, continuamente.
Uma visão panorâmica sobre mim: uma pessoa ridícula.
Pelo menos é um panorama rápido. Mas se você não entendeu, eu explico: é só um aspecto meu, que é o aspecto do qual quero falar. Isso quer dizer “não pense que eu me resumo a ser uma pessoa ridícula” – e não quero que você pense, por causa do último entre aspas, que meus outros aspectos sejam menos ridículos, ou mais legais. Só quero dizer que restrinjo o assunto a mim enquanto pessoa ridícula (“mim enquanto pessoa ridícula”, aliás, é uma construção frasal ridícula, digna do assunto do texto – e por isso também é o título desse texto).
Mas eu sou uma pessoa ridícula, veja bem, na opinião alheia. Para mim, sou uma pessoa interessantíssima, com detalhes contraditórios, espaços mal-ajustados, coincidências surpreendentes, méritos inigualáveis, deméritos colossais, etc. Como todas as pessoas, aliás, e é isso que faz com que as pessoas sejam interessantes para mim.
Simone de Beauvoir adorava mulheres (no sentido mais sexual possível) mas nunca admitiu isso: logo ela que derrubou o grande Castelo do Machismo (que todavia ainda refugia-se muito bem dentro de pequenas e odiosas construções) com um livro, não conseguiu chutar a pedrinha da sua bissexualidade (e, maldade minha, sempre me pergunto se era por realmente gostar de homens que ela amou um tão feio quanto Sartre, ou se ficar com um cara tão feio seria sinal de que o negócio dela mesmo era mulher). Heidegger foi nazista e se apaixonou por uma judia, depois largou o nazismo e a judia. São exemplos de pessoas famosas, mas as pessoas comuns são ainda mais interessantes.
Eu sou, também, uma pessoa comum – portanto, muito interessante. Mas essa é a minha visão. Minhas dúvidas e inseguranças, minhas crenças e descobertas, são ridículas para as outras pessoas. E incríveis para mim. A maneira como penso, como me comporto, são como eu sou, e simplesmente não posso fazer nada, nem pela opinião das outras pessoas, e nem pela minha.
Talvez o meu mal seja pensar assim: se você não gosta de mim, que pena, eu gosto. Isso somente me traz complicações quando a frase é “se você não gosta de mim, que pena, eu gosto de você”. Claro que me traz complicações desde que a maneira como eu sou seja intolerável, desagradável ou incômoda para as outras pessoas de quem eu gosto. Acho que tanto quanto gostar, eu deveria aprender a desgostar das pessoas. É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, mas também é preciso aprender a não gostar delas, quando necessário. Tim Maia se arrependeu de ter exortado as pessoas a seguirem o caminho do bem (embora sejam músicas ótimas). Devia ter dito que seguissem algum caminho, e aprendessem a escolher seus caminhos de acordo com seus próprios critérios.
Desta maneira é que eu aceito que sou uma pessoa ridícula: respeito vossa opinião. Uma das maiores pragas da vida – da qual não sei se quero me livrar, porém – é respeitar (ia dizer “amar” mas não seria sinceridade minha) a liberdade. Não é nenhuma afirmação heróica, e nem o contrário. É, como qualquer posição, apenas uma.
Você pode amar sua liberdade: que bom. Mas isso quer dizer que você ama a si: o que é ótimo. Mas amar sua liberdade não é amar a liberdade. Amar a liberdade é colocar a liberdade acima da sua própria liberdade. Explico-me: eu, tanto quanto você, posso fazer qualquer coisa; qualquer coisa mesmo (meio à la Sociedade Alternativa: “faze o que tu queres pois é tudo na lei”). Se eu prezo mais a minha liberdade do que a liberdade (será que eu deveria escrever “Liberdade”?), eu vou escolher a minha própria, caso ela entre em conflito com a liberdade alheia; se eu prezo mais a liberdade, eu vou prezar tanto a minha quanto a sua.
A minha preferência recai sobre a segunda alternativa. Só não posso dizer que amo a liberdade porque eu não tenho um compromisso assim tão grande com a liberdade alheia. Além de tudo sou irresponsável.
Por causa disto que, quando alguém me toma por uma pessoa ridícula, sei que é uma idiotice desse alguém. Mas não me explico, nem me defendo: pense de mim o que quiser, é um país livre (força de expressão). Eu deixo: deixo as pessoas pensarem o que quiserem de mim. E como a voz do povo é a voz de deus, deus diz “tu és uma pessoa ridícula”. Quem sou eu para querer calar a voz do povo?!?
Disse isso tudo apenas para explicar de que maneira e porquê eu posso me dizer uma pessoa ridícula. Pois só o que eu tinha para postar era isso:
Eu sou mesmo uma pessoa muito ridícula.

5 de novembro de 2007

 

Dead Like Me e O Uso dos PRazeres

Comecei a assistir um novo seriado: Dead Like Me (ou A Morte lhe Cai Bem, na tradução – mal-feita, acho eu, que não entendo inglês mas traduziria por “A Morte me Quer”, ou “Morta como Eu”, sei lá).

Uma menina de 18 anos chamada Geórgia morre quando um assento de privada anti-gravidade cai em cima da cabeça dela, por causa da reentrância da MIR na Terra. Ao invés de morrer efetivamente, ela torna-se uma “ceifadora” (na dublagem em espanhol, fica “parcas”, que achei mais legal), mortos-vivos que fazem o mesmo trabalho da Dona Morte no Penadinho: levar as almas das pessoas que morrem. Dois esclarecimentos: eles não são mortos-vivos ao estilo dos filmes de terror, pelo contrário, sua aparência é a de qualquer pessoa comum; segundo, apesar de a abertura do seriado brincar com a imagem da morte vestindo uma longa túnica preta e com uma enorme foice na mão, os ceifadores vestem-se como pessoas comuns. Aliás, eles só sabem as coisas relativas ao trabalho deles: não sabem o que há depois da morte, não vêem anjos, e nada disso – somente uns bichos feios que são responsáveis por causar os acidentes que matam as pessoas no mundo (que não são “maus”: graças a eles, mantém-se o equilíbrio entre nascimentos-falecimentos na Terra); no mais, precisam trabalhar para sobreviver, mudam periodicamente as feições do rosto (pois podem passar centenas de anos na Terra), vivem uma vida praticamente normal, só precisam buscar as almas na hora e local marcados – dados informados por meio de post-its – e não podem morrer.


Geórgia precisa se acostumar com a idéia de levar as almas das pessoas. Às vezes ela precisa fazer coisas como levar a alma de uma garotinha de seis anos, coisa bastante desagradável. Sem contar que o chefe do grupo de ceifadores não gosta de questionamentos, e nem das insubordinações da garota – uma relação um tanto difícil. Ainda por cima, o emprego dela é uma merda e a chefe uma idiota.


Porém, ela precisa aprender a se relacionar com as pessoas – esse não é bem o mote do seriado, é mais o que me diz respeito. Coisas como bater papo com a chefe chata só porque ela está meio carente, ou descobrir que uma simpatia cínica pode melhorar muito o dia; enfim, conviver com a adversidade do dia a dia.


Não que eu pense que o dia a dia compõe-se de adversidades. Existem muitas coisas legais na vida, como sair com amigos, beber com amigos, beber tão-somente, ler, pensar, conhecer pessoas interessantes, etc.


Mas – e agora o assunto sou eu – as coisas são muito imperfeitas. A começar pelo meu corpo: gordo, cheio de pêlos, com um pênis um tanto desagradável dependurado no meio das minhas pernas; não é um corpo horrível, mas não é o que eu desejo ver no espelho. Segue o trabalho: pessoas fanáticas pelo horário, pessoas que têm inveja de praticamente nada (coisas bestas como o salário de 600 reais que você ganha, ou a possibilidade que você tem de tomar o café do intervalo junto com a chefe, bobagens assim), pessoas que levam a sério coisas bestas, pessoas que querem que você leve a sério aquilo que elas levam a sério, é uma lista longa demais. Ainda têm o machismo, a homofobia, os preconceitos em geral que existem no mundo, a cidade de merda onde eu vivo, a casa horrível onde moro (não me sinto à vontade aqui), o fato de nunca ter grana para nada, etc.


Eu sou uma pessoa orgulhosa. Muito orgulhosa. Gosto das coisas perfeitas. Ao contrário dos virginianos, porém, eu não me empenho em levas as coisas à perfeição. Para mim, as coisas no lugar deveriam ser o pré-requisito, e não uma meta. Não se trata de querer tudo pronto. Mas de que eu preciso de uma certa ordem inicial para começar – ordem esta que não existe. Acho que eu preciso “reinventar” esta minha necessidade. Não abandoná-la, mas adotar um certo “virginianismo”, uma certa capacidade de incluir nas minhas ações a organização das coisas, e, também, a capacidade de fazer as coisas em meio à adversidade. Isso significa mais trabalho, mas também significa a possibilidade de conseguir me mover.


Esta parte, por sua vez, tem um pouco a ver com Foucault. E, neste ponto, preciso esclarecer algo. Não me considero especialista em Foucault. Nem mesmo estudante de Foucault. Li algumas coisas, ora por cima, ora com uma dedicação maior (“As Palavras e as Coisas”, por exemplo, li bem por cima e só uns pedaços; “Arqueologia do Saber” estudei mais a fundo, mas só uma vez e para fazer um trabalho; “Técnicas de Si” li para uso pessoal, não trabalhei de maneira filosófica no livro, mas para “consumo interno”).


Como “Técnicas de Si”, li também o primeiro capítulo da “História da Sexualidade – O Uso dos Prazeres” (o primeiro livro mencionado, li em espanhol e a tradução, para mim, é mais interessante: “Tecnologias del Yo”, ou “Tecnologias do Eu”).

Os dois textos, aliás, são muito parecidos. O primeiro capítulo do Uso dos Prazeres trata de como os gregos trabalhavam sua sexualidade. Não quero fazer um resumo nem um trabalho acadêmico do que li, mas só observações pessoais – quer dizer, se você achar esse texto no Google, não recomendo usar no seu trabalho sobre Foucault ou como fonte de estudos para alguma prova (nem todas as pessoas tem bom-senso). Para eles, segundo Foucault e conforme o que eu entendi, os desejos não são objetos de repressão-permissão, como no cristianismo. No cristianismo, você “monitora” seus desejos para confessá-los e reprimir ou permitir determinados desejos. Os gregos também procuram “evitar” certos desejos, pelo menos em determinados momentos, mas não tentam eliminá-los, ou insensibilizar-se a eles, e sim afastar-se daquilo que produz seu desejo (se um grego precisasse fazer um regime, por exemplo, não tentaria deixar de desejar chocolate, e sim evitaria passar no corredor de chocolates do supermercado, desviaria o olhar de chocolates à sua frente, coisas assim). A idéia (só para lembrar: segundo o que eu compreendi do texto) é a seguinte: o que você precisa fazer é trabalhar seus desejos, e não eliminá-los ou permiti-los.


Importa mais aos gregos impor-se sobre eles (os desejos), não deixar-se escravizar por eles, e também não isolar-se deles. Trata-se de uma certa temperança, onde não se deixa o desejo tomar o comando, mas também não se ignora ele, satisfazendo-o sem soltar dele as rédeas. Tal como o cristianismo, os gregos também “monitoram” seus desejos, mas não como quem cuida de vermes abjetos, e sim como quem “pastoreia” algum bichinho fofo – que pode às vezes ser agressivo, chato, incômodo, inconveniente, etc.


Essa coisa foucaultiana toda diz respeito a outras questões pessoais minhas. Mas aplica-se também a esta minha relação com a imperfeição do mundo. Como qualquer pessoa pisciana, “se a realidade não é como eu a sonho, foda-se a realidade” (li algo assim em algum livro de astrologia, e com certeza o termo “foda-se” não foi usado); sem entrar em questão sobre a validade ou não da astrologia (questão sobre a qual tenho uma posição, mas aqui não vem ao caso), esta característica pisciana fecha legal comigo. Quer dizer, eu preciso não me deixar dominar pela minha necessidade de perfeição, simplesmente. Mas é nisso que entra esse lance das técnicas de si: você precisa não suprimir seus desejos, e tampouco liberar geral, e sim “imperar” sobre eles. Li em Simone de Beauvoir (“O Segundo Sexo”, sei lá qual volume, mas acho que o primeiro, bem no começo do livro) que as pessoas todas têm um certo “instinto natural” (isso é mais uma maneira de se expressar do que uma descrição, que fique claro) à dominar o outro, a sujeitar o outro, a imperar sobre o outro. Acho que seria muito mais útil “canalizar” esta força para os desejos. Ou, então, tratar os desejos como animais de estimação. De qualquer forma, são maneiras metafóricas de colocar isso. Mas é uma idéia ótima. Pelo menos para mim.


4 de novembro de 2007

 

CONSTANTINE CAVAFY

Um poema interessante aqui. Chama-se "Ítaca", e está em espanhol.

 

Atire a milésima pedra

"Todo corpo que tem um deserto tem um olho de água por perto; para ouvir basta abrir os poros, para aceitar basta oferecer."

Eu adoro Marisa Monte pelo fato de que muitas vezes parece que o que ela canta foi inspirado na minha vida - embora isto não seja o único nem o principal motivo pelo qual gosto dela.
Mas nesta música, trata-se com certeza da vida de outra pessoa.
Eu não tenho nenhum olho de água por perto - no máximo, uma graaande e redonda barriga que nunca, eu acho, desparecerá, mesmo que eu decida morrer de fome; e não basta oferecer para aceitar, não na minha vida, onde ninguém aceitou o que eu tinha para oferecer.

Talvez eu esteja errado, afinal de contas: qualquer plantonista da Unimed que eu vou quando tenho algum problema, me diz que eu deveria tomar antidepressivos. Quer dizer, vai ver é só depressão, e não seja verdade que eu seja uma coisa grande, gorda e cheia de pêlos horrível.

3 de novembro de 2007

 

Eme, a, e, til:

O que acho mais difícl, àsvezes, é compreender preceitosbásicos da vida, ou pelo menos da convivência.
Mais de uma pessoa já veio me dizer que sou submisso à minha mãe. Mas acho estranho isso: a opinião dela é uma das que menos me importa... Gosto da minha mãe, não preciso provar isso com exemplos, e teria vários. Mas essegostar dela implica somente que quero queela esteja bem - e não que minha vida esteja nas mãos dela.
Talvez todas as pessoas estejam certas, e eu esteja tão mrgulhado em uma dependência que não consiga percber. Mas, por ora, da minha parte, minha maior curiosidade é apenas entender o que as pessoas estão querendo dizer...

...

Como o assunto é mãe: um cara, acho que na França, está processando a mãe por não tê-lo abortado - ele é tetraplégico.
Acho compreensível a revolta dele. Mas botar no da mãe dele?!?
Quando ela estava grávida dele, cabia somente a eladecidir se teria ou não o rapaz. Depois de nascido, ele não pertence mais a ela - mas até nascer, pertencia. O que indica a atitudedele: que ele ainda se sente "pertencente" a ela, e responsabiliza-a pela vida dele.

1 de novembro de 2007

 

Luluzinha e Bolinha

Simone de Beauvoir: as mulheres são presas da espécie, quer dizer, os "encargos" da espécie são mais pesados para elas (em função da gravidez: menstruar, carregar a criança 9 meses, aleitar, e todas as alterações hormonais implicadas nisso); mas funções biológicas não produzem uma afetividade, pelo contrário: a afetividade é que reveste as coisas, inclusive as funções biológicas.

Não é uma citação textual, mas de cabeça, do livro O Segundo Sexo.

Portanto, se uma garota vem me dizer que é vítima da natureza, nem venha. Ninguém tem a obrigação de engravidar - diga-se de passagem, nem de menstruar, mas é necessário algum dinheiro para isso. Claro que a pressão social para que qualquer mulher tenha filhos é muito forte, e há as que engravidam porque quiseram (curiosidade, realização pessoal, etc) ee as que engravidam porque têm medo do que o vizinho vai falar se ela não tiver filhos. E, para não complicar o assunto, nem vou mencionar o machismo da sociedade.
Mas qualquer pessoa pode se colocar como vítima da natureza, se quiser apesar de tudo. "Oh, como sofro por ser mulher"; "oh, as mulheres sofrem tanto: são elas que parem, que cuidam das crianças, que cuidam da casa, que usam salto alto para ir trabalhar, são elas que gastam centenas de reais com cosméticos..." Tudo bem, pense assim se quiser.
Mas querer colocar a culpa em mim?!?
A geringonça toda que eu carrego no meio das pernas não é responsável pela sociedade machista não oferecer meios de as mulheres terem um acesso muitas vezes sofrido à pílula; assim como não é responsável por investirem mais dinheiro em pesquisas com armas do que com métodos contraceptivos menos agressivos. Se uma garota passa por tormentos relativos à sua menstruação, relativos a uma possível gravidez, ou porque se coloca na posição que a sociedade exige dela, não desconte em mim. Se uma garota é casada com um grosseirão insensível que não a respeita, xingue ele, mas não eu - que nem namorada tenho (e, se uma mulher acha que todos os homens não prestam só porque o dela é que não presta, deveria me dar os parabéns por não ter namorada, e não vir me acusar só porque o cara dela é tosco!). Eu não represento os homens, e nem algum em particular, aliás. Minhas opiniões e minha vida não são representativas de outras pessoas só porque elas têm um saco e um caralho no meio das pernas. E, se você quiser, mesmo assim, me julgar com base nos trogloditas que você conheceu, tenha bem claro que você está só falando das suas experiências ruins com os homens que você conheceu, e não de mim que você nem conhece. E se você achar que somente ser amiga de verdade de uma mulher, isso é problema seu e não meu: quer dizer, o fato de você amar o Clube da Luluzinha e desprezar o Clube do Bolinha (clubes criados por você, dos quais eu não participo, por sinal), isso só significa que é você que se entende melhor com mulheres, e não que eu tenho algum problema (e não estou falando de lesbianismo, que não tem nada a ver com o assunto).

Enfim, essa não é uma atitude generalizada, pelos menos não entre as mulheres que eu conheço (eu acho). Mas me irrita que as pessoas sofram nas mãos de outras e queiram me responsabilizar por isso.