Divagar divagarinho

Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!
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25 de novembro de 2007

 

alguns livros

Anais Nin dizia que sua primeira visão da terra fora através da água; que pertencia à raça de homens e mulheres que olham todas as coisas através desta cortina de mar e que seus olhos eram a cor da água.
Ponto 1:
A maioria dos homens que eu conheço tem uma verdadeira epifania divina quando vê duas mulheres se beijando (duas mulheres bonitas, bem entendido). Eu sempre me pergunto por que processo isso acontece. O que há de mais excitante em um beijo de duas garotas do que em, por exemplo, apenas uma garota? Acho muito bonito ver duas garotas se beijando, mas porque em geral são beijos mais românticos, gestos mais delicados e suaves e sinto muita inveja por saber que nenhuma garota me tratará assim; mulheres heterossexuais (as que eu conheci, pelo menos) querem Homens, aquela coisa máscula e viril, meio tosca que tem um andar desengonçado mas que, em meio a toda essa falta de graça e beleza, lhes oferecem flores, talvez gostem descobrir que em meio a toda aquela rudeza há algo suave e delicado que faz com que se aproximem. Eu sou um pouco mais confuso do que isso, mas não tenho nem a rudeza máscula e viril, nem a delicadeza e suavidade feminina para oferecer a ninguém. Não tenho nada que uma lésbica queira (as lésbicas que o digam), nem que uma heterossexual queira; mesmo uma mulher bissexual, sublinho novamente que é somente entre as que conheço, mesmo uma mulher bissexual quer masculinidade de um homem e feminilidade de uma mulher. Me fodi de qualquer jeito. Mas só o que eu queria dizer é que não acho a coisa mais excitante do mundo ver duas garotas se beijando – acho bonito, mas já vi beijos heterossexuais, ainda que em menor quantidade, tão doces e carinhosos quanto beijos lésbicos. E nem uma visão e nem a outra me excitam a ponto de me deixar no cio (que é a maneira que os caras ficam quando vêem duas garotas).
A maioria dos homens que conheço, dentre os heterossexuais, também abomina levar uma cantada de um homem. Eu abomino, mas se for um cara feio. Fico com pena dos gays bonitos que, porventura, ficam a fim de mim (mas são poucos e não chego a constituir uma calamidade mundial aos pobre corações apaixonados): é só amizade, colega. Mas aceito um bom papo depois de uma cantada mal-sucedida, quando não é o caso de “eu não te quero como amigo”: quer conversar, ótimo, quer trepar, se deu mal, melhor sorte na próxima. Pode ser que apareça um cara que me convença a ficar com ele – mais exatamente: pode ser que apareça um cara com quem eu queira ficar. Mas até o momento, de barba mal-feita basto eu e nem da minha barba mal-feita me arranhando eu gosto (barba mal-feita só tem uma vantagem, que é ser muito boa para coçar a mão, mas qualquer coisa suficientemente áspera que não machuque serve também, o que significa que eu viveria perfeitamente bem sem minha barba crescendo que nem grama numa casa abandonada). Como eu escrevo demais para dizer pouca coisa, resumo: eu só queria dizer que não tenho maiores problemas com gays também; pode me cantar à vontade que eu sei dizer não com toda a educação, e ainda batendo as pestanas. Não pense também que toda hora tem um cara me cantando. Acho que são os mais desesperados.
Escrevi os dois parágrafos anteriores só para dizer que não sou preconceituoso. E só escrevi a frase anterior para contradizê-la e corrigi-la. Eu sou uma pessoa tremendamente preconceituosa. Mas os meus preconceitos são muito singulares.
Nem em meus preconceitos eu me enturmo. Se eu fosse homofóbico, poderia encontrar o meu grupo na TFP, ou virar católico e participar da renovação carismática, ou pentecostal e participar da oração dos 318 na Igreja Universal, ou então virar skinhead e bater em qualquer homossexual que encontrasse na rua. Mas esse tipo de coisas me dão ânsias de vômito demais, eu não seria feliz.
Mas eu dizia que meus preconceitos são muito singulares. Você é lésbica? é gay? pouco me importa! Mas se você quer conhecer o pior de mim, basta me colocar para conviver com homens. Com exceções, claro: tenho um amigo homem de quem gosto muito, tanto quanto gosto de minhas amigas. Fora ele, tenho um vago sentimento de que o restante dos homens são pessoas e é nesse patamar que os respeito.
É um preconceito odioso como outro qualquer, tal qual nazismo ou homofobia. E não faço a menor idéia de como me livrar dele. Quanto mais convivo com homens, com uma única exceção, mais aumenta meu preconceito. Ah, claro, outra exceção: gays são pessoas extremamente interessantes, também. Não sei porque, gosto dos gays em geral. Talvez eu seja, afinal, um gay reprimido, mas aí precisaria admitir que é uma repressão muito bem feita, porque tudo o que eu reprimo acaba escapando por algum outro lado e de maneira incontrolável, e não consigo identificar nenhum válvula de escape para uma possível homossexualidade reprimida minha. E eu já reprimi muitas coisas durante a minha vida para não reconhecer mais uma repressão. Admito que posso estar errado, mas é uma admissão mais por costume do que por achar mesmo que possa estar errado.
Ponto 2:
Todos os livros que me acertaram em cheio, que me tocaram de uma maneira mais significativa, foram escritos por mulheres. Mesmo alguns livros escritos para mulheres (Lado B é muito mais tocante do que A Insustentável Leveza do Ser, por exemplo). Não é que eu entenda as mulheres, e nem que as mulheres me entendam. Nem todas as mulheres que conheço me causam muito efeito. Mas os maiores efeitos que me atingiram foram causados por mulheres. Especialmente livros escritos por mulheres.
A essa altura, preciso explicar o seguinte: a maioria dos livros que li, os achei muito medíocres – tanto livros escritos por homens, quanto livros escritos por mulheres. Em meio a toda a mediocridade, existem livros muito bons, tanto de homens quanto de mulheres. Mas existem livros cujas palavras realmente fizeram diferença na minha vida: desses, a maioria foi escrito por mulheres.
Nietzsche, Foucault, Deleuze, Marion Zimmer Bradley, Lúcia Facco, Colette, J.M. Simmel (um homem), J.K. Rowling, Margarita Pisano, Simone de Beauvoir, Monique Wittig, J. Butler (uma mulher), Cecília Meireles, uma ucraniana naturalizada brasileira muito famosa cujo nome esqueci, Isabel Allende, Safo, acho que não esqueci ninguém. Não vou contar quantos são homens e quantas são mulheres, mas nem precisa.
Conclusão:
Por algum motivo que eu desconheço, escritoras me compreendem (sem o saber) muito mais do que escritores. Pode ser devido ao meu preconceito contra homens, mas acho que não. E eu disse tudo isso só para dizer do meu espanto com o que li (e escrevi lá em cima) em Anais Nin: como alguém pode me adivinhar assim? De certos livros que leio eu deveria cobrar os direitos autorais: é de mim que estão falando!
Mas também não vou explicar de que maneira isso se refere a mim. Muita intimidade, mesmo para um blog tão sem IBOPE quanto este.
“A minha primeira visão da terra foi através da água. Pertenço à raça de homens e mulheres que olham todas as coisas através desta cortina de mar e os meus olhos são a cor da água.” – É como ela escreveu a frase.

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