Divagar divagarinho

Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!
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26 de janeiro de 2020

 

Pelo amor ou pela dor

A frase "pelo amor ou pela dor" chegou até mim como o título de um livro espírita. Eu não sei nem se é mesmo, mas na época as conversas eram de que isto é mesmo verdade: encontraremos o caminho correto, o caminho da luz, o caminho do bem (alô Tim Maia) por bem ou por mal, seja pelo amor, seja pela dor.

Eu, que concordei com essa ideia, hoje descordou dela. A frase que deveria culminar o texto deveria vir no fim mas minha inabilidade literária já traz ela agora: a dor até corrige, mas só o amor ensina.

Estou pensando, por esta frase, em dois eventos mais ou menos paralelos. Um deles é o retorno de Cristo, a segunda e definitiva vinda, utilizada tantas vezes como argumento para as pessoas se corrigirem. Mas acredito que ameaça-las com o Julgamento Final não vai corrigi-las. 

Os pequenos e constantes julgamentos parciais, aos quais todos estamos sujeitos, ajudam (ou podem ajudar), a nos corrigir, mas não ensinam. Se a dor ensinasse alguma coisa, a maldade e a corrupção seriam uma novidade destes tempos em que palmadas em crianças são questionadas e o uso da violência é recriminado em diversas instâncias. Os antigos batiam, e também tiveram seu quinhão de maldade e corrupção - "há tempos nem os santos tem ao certo a medida da maldade" já cantava a Legião.

Quando Cristo prega "convertei-vos porque o Reino de Deus está próximo" é mais a título de informação ("evangelho" significa "boa [nova=] notícia" e uma notícia é uma informação) e de estímulo do que de ameaça. A sempre iminente instauração do Reino definitivo é uma meta, e não uma causa.

A escatologia cristã possui um paralelo laico que é a hecatombe climática: ecologizai-vos porque o colapso ambiental está próximo. E tem o mesmo efeito da segunda vinda de Cristo utilizada como argumento para voltar-se ao bem: pode até corrigir, mas não educa.

O cuidado com a casa comum é um imperativo. A sustentabilidade, a reciclagem, o controle da emissão de poluentes, etc., são necessidades, mas dificilmente serão consequência da ameaça do colapso ambiental.

Assim como é necessária a educação para a preservação do planeta, algo semelhante é necessário ao cristão: além de educação, amor.

A dor é inevitável, mas percorrer o seu caminho é inefetivo. Já o amor, também inevitável, oferece um caminho eventualmente tortuoso, mas nos aproxima mais de Deus do que a dor.

25 de janeiro de 2020

 

Conversão de S. Paulo

Às vezes eu tenho a impressão de que Paulo foi muito arrogante. Mesmo sabendo que ele tinha a necessidade de defender seu apostolado, não sendo um discípulo "regular" de Cristo como os outros apóstolos, ainda assim esta sensação perdura.

Mas perdura até perceber que Paulo é o protótipo do cristão atual. Não como inúmeros autoproclamados apóstolos da atualidade que defendem sua autoridade fazendo um paralelo ao chamado de Paulo, mas por ser um discípulo assim torto.

Paulo não só não era discípulo, mas era um perseguidor. Não era um sujeito indiferente ao cristianismo, mas um inimigo. E depois de convertido, teve de lidar com situações fora do esperado e teve de tomar decisões heterodoxas também.

Tudo em S. Paulo é uma constante inconstância, e diante desta inconstância, uma luta - não contra os inimigos, não contra os pagãos, não contra os judeus, uma luta contra nada, a não ser - pela preservação da fé.

Claro que ele fundou as comunidades, escreveu cartas que se transformaram em normas, combateu o bom combate etc., exerceu sua autoridade e sua humildade conforme as circunstâncias o exigiram...; mas aquilo no qual nos igualamos a ele hoje em dia é em ter que matar um leão por dia (e às vezes até morrer na boca dele) sem perder a fé, sem perder a esperança e nem a caridade. 

Esta perseverança é graça de Deus, obviamente, seja a de Paulo, seja a nossa. Mas é uma graça que funciona melhor (ou apenas funciona) no sujeito que se esforça, mesmo inutilmente, por manter a fé e todo o resto.

Sabemos que não podemos, como Paulo também o sabia. Mas vemos nele o exemplo de tentar o impossível para que, mesmo impossibilitados por nossas forças, Deus faça frutificar o impossível. 

7 de janeiro de 2020

 

Pouco com Deus

Colocar o apego ao dinheiro - ou a quaisquer outras posses - acima do bem comum é uma atitude nefasta cuja maldade se manifesta na miséria, no egoísmo e na cultura de morte contemporâneos.

Por outro lado, o bem alheio não se encontra em nossos bolsos necessariamente, ou seja, não dependemos de ter dinheiro para fazer o bem.

Quando os discípulos perguntam a Cristo "Queres que gastemos duzentos denários para comprar pão e dar-lhes de comer?" (Mc 6, 37), ele não diz "é, é isso mesmo! Vamos todo mundo coçando os bolsos.", nem "não, porque somos maiores do que estas coisas mundanas", mas apenas pede que alguém vá ver quantos pães tem - e descobrimos que eles tem cinco pães e dois peixes.

Talvez daí que tenha surgido a expressão "o pouco com Deus é muito" (e seu corolário: "o muito sem Deus é nada"), mas esta expressão omite um aspecto fundamental do pouco multiplicado: compartilhar.

Dividir o pouco entre todos não sugere dinheiro, rios de dinheiro, embora supostamente (para a alegria dos defensores do "não existe almoço grátis") alguém tenha comprado estes pães, e também a rede onde foram pescados os peixes. Mas o que está em jogo é o que se tem para compartilhar, e não o que se poderia ter, e nem mesmo está em jogo o que se deveria ter. A questão é ajudar-se mutuamente com aquilo que se tem.

O milagre da multiplicação dos pães não é um milagre gastronômico e nem econômico: é sim o milagre de, querendo fazer o bem a um grande número de pessoas sem ter tantos recursos para isto, Deus agir para multiplicar o pouco e, assim, dividir o pouco entre muitos 

1 de janeiro de 2020

 

A impotência do cristianismo

Entre terapias e espiritualidades que prescindem de religião, o cristianismo não tem, eu acho, nenhum tipo de prática ou técnica salvadora para oferecer neste mercado místico contemporâneo.

Mesmo ir à missa, a oração, a leitura e o estudo da Bíblia e os atos de caridade, que por si só são mais do que úteis, necessários; ainda assim são, como todo o resto, coisas úteis e ou necessárias, mas não nos fazem circular por todo o nosso ser, sejam as periferias, seja o centro, como o que o cristianismo nos faz circular.
Até mesmo um pai-nosso ou um almoço doado a quem tem fome, embora não se percam, podem ser fruto de uma satisfação egoísta e não de uma manifestação da caridade de Deus.

O cristianismo exige comprometimento e entrega, coisas que implicam em esforços e renúncias que se, por um lado, não são comportamentos exclusivos do cristianismo (até o ladrão que cava um túnel embaixo do cofre do banco para roubá-lo precisa ter compromisso, precisa se entregar àquela atividade, precisa de esforço e faz renúncias), somente nele encontram um sentido que não os transforme em um sofrimento pelo sofrimento ou.em um masoquismo disfarçado.

O cristianismo exige também atenção, ponderação, um equilíbrio por sermos pecadores lidando com pecadores junto a Deus que é santo; ou seja, é preciso confiar como crianças, mas ser astuto como uma serpente e sem deixar de ser sensível como uma pomba.
Não há dez pai-nossos e cinco ave-marias que bastem para nos transformar, embora sem isto também seja cem vezes mais difícil a salvação.

O que o cristianismo pode oferecer entre curas, prazeres, experiências sensoriais inefáveis e poderes que todos os outros "players" deste mercado oferecem com tanto empenho e desenvoltura? A resposta é nada, e é por causa da única coisa que o cristianismo pode oferecer: Cristo.

Apenas Cristo, e Cristo Crucificado, é o que o cristianismo tem para oferecer ao mundo - e ao mercado místico contemporâneo. E somente Cristo que, no fim das contas, pode nos fazer caminhar em direção à plena realização que sentimos e sabemos ser nosso destino, que somente nele pode ser encontrada.