Divagar divagarinho

Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!
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30 de abril de 2007

 

Futura

Este blog está virando bundão. Chatinho, sem assunto, maré calma, só falta uma pelota de pó passar rolando como nos filmes de faroeste. Estará virando um diário?



Agora, por exemplo, vou escrever sobre uma preferência televisiva minha: o canal futura.



No RS, existem dois canais mais ou menos alternativos para você escolher fora do sistema Globo-SBT-Record: a TV2 Guaíba e a TVE.



A Guaíba é um canal exclusivamente gaúcho, muito legal porque passa filmes, seriados e documentários antigos: às vezes passa Sabrina, Aprendiz de Feiticeira, já assisti Barrados no Baile, Missão Impossível original, quando tinha um laptop que falava com o velinho grisalho, explicando a missão e dizendo que, se o grupo fosse pego, o ministério negaria qualquer conhecimento, e que a mensagem vai se auto-destruir em cinco segundos, o que é a deixa para sair uma fumacinha do laptop com cara de Pense Bem.

 Heheheh, muito bom. O problema é que enjoa. Coisas antigas são muito legais, mas eu, pelo menos, sinto falta, depois de um certo tempo, do visual clean das coisas feitas atualmente. Não assisti ao filme Missão Impossível, mas assisto outro seriado, chamado Aliás, que é atual e muito parecido com o outro, e vejo que os problemas que eles resolviam naquela época com uma antena parabólica portátil do tamanho de uma mesa, agora são resolvidos com uma escuta do tamanho de uma ervilha e invasão de redes.





A TVE é um canal cultural cheio de programas legais. O mais supremamente legal era Castelo Rá-Tim-Bum, onde tinha o Mau e sua Gargalhada Fatal, o Tíbio e o Perônio, a Caixinha de Música, muito bom. E tanto tinha quanto tem programas legais, como o do Não-Sei-O-Quê Abujamra, um programa com uma senhora rouca que tem entrevistados interessantes, coisas assim. Mas enjoa porque muitos programas são muito parecidos, têm cara de Orquestra Sinfônica de Berlim, e esse tipo de música é legal, mas há limites.



"Alternativos" é forçar um pouco: a TV2 Guaíba é uma emissora comercial, e a TVE, parece um pouco mal-explorada, com cara de repartição pública que não recebe investimento - com muitas excessões, como o Roda Viva, por exemplo. Mas são alternativas, que se tornam ainda melhores quando você só pode escolher entre Faustão, Raul Gil, Gugu ou alguma mesa redonda de futebol.



E tem o Futura. Quase todos os programas que assisti são interessantes, e muitos deles são legais mesmo, dão vontade de ver de novo. Eu, pessoalmente, adoro o Passagem Para... , que é feito a partir de viagens do apresentador por outros países, quase todos americanos. E tem também dois programas com a Regina Casé: Minha Periferia e Um Pé de Quê?. Adoro a Regina Casé, e vê-la fazendo dois programas legais e interessantes é muito bom. Outro programa é com Zeca Baleiro, que conta histórias do foclore brasileiro, misturando música, narração e animação.



A única coisa chata do futura é a programação infantil: eu não entendo porquê canais assim, educativos, pensam que crianças são retardadas. A excessão é a Turma da Teca. E também não se trata de uma coisa alternativa: quem faz o Futura é a Globo. E aí eu, que adoro criticar a Globo, que, na dúvida, acho que errada está a Globo, preciso tirar o chapéu para a emissora: é incrível que, com vontade, seja possível fazer programas interessantes sem chatices ou as mesmas coisas de sempre.









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Sem assunto

Meu blog é pouco comentado, o que é a base da minha suposição de que seja pouco lido. Da última vez em que escrevi algo semelhante, surgiram duas ótimas leitoras que são ainda melhores autoras, com dois blogs muito interessantes (digo o mesmo de suas vidas, que volta e meia aparecem nos seus blogs). Apareceram, depois, outros comentários, pelo que eu me lembre todos interessantes, o que me faz supor que o meu blog seja o mais bem-frequentado do mundo - ao mesmo tempo em que é o menos frequentado.



É um blog seletivo, talvez. Não sei mais se essas pessoas lêem essa bagunça que são minhas idéias (onde às vezes aparecem pedaços da minha vida), mas é interessante escrever para, virtualmente, ninguém.



Existem três tipos de, digamos, público para quem eu escrevo.



Primeiro: eu. Por mais que eu tenha ânsias de apagar tudo o que escrevi depois que publico, seja por mudança de opinião, falta de clareza ou por achar irrelevante o que escrevi, e por mais que eu realmente releia algumas coisas e pense em processar as pessoas que disseram que eu era uma pessoa alfabetizada, ainda assim gosto do que escrevo, pelo menos enquanto estou escrevendo. É livrar-se de algo que estava incomodando. Não que eu escreva sobre coisas que me incomodem (que, de qualquer modo, também são assunto), mas me incomoda ter vontade de dizer e, às vezes, não ter onde - e essas coisas vão para o blog. Coisas legais e chatas, agradáveis e incômodas.



Segundo: as pessoas que já comentaram. "50%" significa que tanto pode ser quanto pode não ser. É uma porcentagem agnóstica, que diz "não sei". Existe 50% de chances de que as pessoas que já comentaram, e que portanto leram, voltem para ler de novo. Eu não sei se lêem, porque ninguém comenta - e não se trata, aqui, de pedir "comentem!". E digo por experiência própria, porque acompanho uns três ou quatro blogs interessantes sem dar um pio. Mas não consigo deixar de pensar que essas pessoas lerão algum post. É como se fosse um hábito: não sei se me lêem, e não tenho porque pensar que de fato isso aconteça, mas sempre penso nesse "público", quase como um reflexo condicionado.



Terceiro: pessoas eventuais. Vale praticamente o mesmo que para o segundo grupo, com a diferença de que nunca vou saber que estiveram por aqui - novamente: isso não é um pedido de "comentem!". Se for só para dizer "estive por aqui", não diga. Vivemos em um país livre, é claro, ou, pelo menos, eu não mando e você, portanto você não tem obrigação de seguir minha recomendação. Mas para mim não fará a menor diferença esse tipo de comentário. O silêncio, nesse caso, me fará muito feliz.





Com excessão de "moi", o restante do meu público é virtual. Quero dizer: um blog já é uma coisa virtual, mas sempre suponho que quem o leu, comentando ou não, exista concretamente. Mas escrevo para... não posso dizer "para ninguém", por causa dos 50%. É como se eu escrevesse para potencialidades, possibilidades. Eu poderia imaginar, por exemplo, que escrevo para macacos, ou civilizações alienígenas. Claro que, na prática, suponho que sejam pessoas. Mas é mais uma maneira de dizer, porque eu apenas escrevo para, com excessão de mim, por escrever. Tive sorte de apenas gente interessante ter comentado até agora. Mas esse blog é, com todas as limitações e censuras que eu me imponho, a coisa mais sincera, ou, pelo menos, mais completa, sobre mim.





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29 de abril de 2007

 

Grunf!

Aí um dia você estava pensando: "Orgulho gay? Mas não há motivos para se ter um orgulho gay. Nem hetero. Nem preto. Nem branco. Nem do Brasil. Ter orgulho da orientação sexual é que nem ter orgulho de gostar de massa: é só massa, e não uma vitória de copa do mundo - que, aliás, nem é grande coisa (a não ser em ano de copa do mundo)"



Aí outro dia você ouve: "... imagina que o cara me disse que quer fazer arquitetura, e não é veado: o mundo está peogredindo!" Quer dizer que o mundo progride assim?



Aí você repensa: "Viva Stonewall".



É irritante como você se vê na obrigação de assumir uma posição política como apoiar uma coisa como o orgulho gay só porque ainda existem pessoas que celebram o fato de um cara heterosexual fazer uma coisa estereotipadamente homossexual. Homossexualidade não deveria ser assunto. Nem heterossexualidade. A orientação sexual deveria entrar em pauta só em casos óbvios ("quer ficar comigo?" "sou homossexual."). Isso em um mundo em que houvesse respeito. Mas é irritante que ainda se tenha que falar sobre respeito à diversidade sexual - não irrita o fato de falar sobre, mas que se tenha que, pelamordedeus, ouvir coisas como "ai, que bom que ele não é veado, que bom que ela não é lésbica, que gente depravada...".



Que droga!... Sei lá, nem sei o que pensar, nem o que dizer.





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"Caminhando contra o peso, sem lanche, sem carobidrato, no sol de quase dezembro, eu vou..."

Fazer regime é complicado, mas é gratificante.



É complicado porque você, de repente, passa a planejar toda a sua alimentação, desde à noite anterior, quando você começa a pensar no que vai comer pela manhã, até a semana, que você planeja compensações para possíveis excessos, e coisas gostosas e engordantes que você comerá caso não cometa excessos ou consiga compensá-los satisfatoriamente.





Exige disciplina, para que você não coma agora, e sim só depois, na hora programada, a quantidade adequada, para que você identifique se o que está sentindo é mesmo fome ou vontade de comer - e, na dúvida, decida que é vontade de comer, para que você troque o delicioso açúcar pelo insosso e pingado adoçante (o adoçante não deixa aquele restinho no fundo do copo do café, e você não pode mais pescar esse restinho com a colherinha...), e para que você pense o quê e o quanto está comendo antes de comer, enquanto está comendo e depois de ter comido. Você precisa também pensar nos convites dos amigos: "vamos comer uma pizza hoje?", melhor amanhã, porque hoje você já cometeu as extravagâncias proibidas. "Só posso hoje!", tudo bem, amanhã você compensa duplamente, comendo só uma fatia de pão no café da manhã, como sempre faz (depois do regime), dois biscoitos a menos no lanchinho da manhã (e compensa a dimunuição com café preto e água), toneladas de verdura para cada milímetro quadrado de massa, arroz ou carne que você almoçar (e como a comida é por quilo, você come uma floresta inteira com meia dúzia de coisas amarelas ou cozidos perdidas ali no meio, e tudo isso sem GPS para localizar as coisas gostosas), o lanche da tarde, que era ocasião de pequenas extravagâncias, como um rissoles ou um copo de nescau, fica igual ao lanche da manhã, e a janta continua sendo a mesma boa e velha fatia de pão com manteiga, e você fica pensando em trocar o copo de leite por litros de água.



Exige também paciência, para encontrar a indicação da quantidade de carboidratos no rótulo (às vezes, em locais praticamente inacessíveis, ou então ilegíveis), para calcular toda a porcaria (em um saco com mil biscoitos dentro, eles colocam a quantidade de carobidratos presente em dois biscoitos e meio, e você fica fazendo cálculos aproximados de quantos carboidratos teria em três biscoitos, ou então em 100 gramas de biscoitos, e você tem vontade de abrir o pacote e pedir à moça das verduras no supermercado que pese quantos biscoitos equivalem a 100 gramas); paciência também para equilibrar tudo o que você vai comer; paciência para descobrir como se prepara a tal berinjela; paciência para inventar coisas diferentes utilizando somente carne moída, miojo e berinjela; paciência quando descobre que uma farinha de bolo normal custa três vezes menos do que farinha de bolo light; e paciência para descobrir que tudo, mas absolutamente tudo o que existe tem carboidratos (menos meia dúzia de coisas como carnes, ovos, coca-cola zero ou light, frios e poucas outras coisas mais - como ar, água e, possivelmente, terra, que não experimentei, todavia).





Você precisa também de força de vontade, mas isso vem do estímulo que você tem para emagrecer: paixão, medo da morte, vaidade, todas essas coisas dependem do grau com que afetam você.



É difícil, mas é gratificante. Mais ou menos, pelo menos para mim, como terminar um trabalho da faculdade antes do tempo, chegar cedo nos compromissos, ou conseguir concretizar algum projeto. Eu não faço isso para ouvir o reconhecimento alheio, mas é ótimo ouvir as pessoas dizendo "puxa, você emagreceu...", "olha, você em versão light" e "mas o que você está comendo para isso dar certo??". Anima muito.



Eu só procuro evitar sofrer de fome (alguma fome eu sinto às vezes, mas por, no máximo, uma hora, quando muito); e procuro evitar me transformar em algo parecido com um pastor do regime, conclamando a todas as pessoas em volta que façam o mesmo, que comam pouco, façam regime, se restrinjam de comer coisas gostosas muitas vezes no dia para fazer isso algumas poucas vezes por semana, enfim, é um regime e não uma religião. Não me irrito com quem não respeita meu regime, e não dou muita satisfação também.





É interessante como às vezes dá vontade de fazer muito grau com isso. Ainda tenho uma barriga, se bem que menor do que era (não consigo mais deixar um copo de refri equilibrado nela, à lá Hommer

Simpson, mas ainda tem muito diâmetro a desaparecer). Mas, mesmo assim, sei lá, deve ser um mecanismo de estímulo, que é muito fascista. Eu faço o regime para mim, agradeço os estímulos, ignoro educadamente as indiferenças e compreendo as oposições e recomendações (do tipo "olha a anorexia..."). Um regime pode virar um verdadeiro regime fascista, e é impressionante como uma sensível redução na minha linha do equador pode quase subir à cabeça. O pior que já fiz foi comer iogurte natural na frente das minhas colegas, propositalmente, só para ouvir elogios à minha alimentação saudável e aos visíveis resultados conseguidos até então. Um afaguinho na minha vaidade às vezes cai bem. Hehehe.





Ainda não me sinto leve como uma pluma, e nem a brisa ameaça me levar junto, ainda. Mas é legal, no fim das contas, me sentir mais leve. Coisa que ninguém tem obrigação de fazer, e que, por isso mesmo, se torna mais agradável.





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25 de abril de 2007

 

Entrevista comigo

Eu perguntando - Porque você gosta do seriado Xena?



Eu respondendo - Porquê é um seriado com uma idéia, uma história muito boa, desde o fato de a Xena ser uma princesa guerreira (geralmente, nas histórias, princesa e guerreira não são coisas compatíveis, ou, no máximo, trata-se de uma guerreira que luta por seu amado ou para salvar os filhos ou quaisquer outros parentes; são sempre guerreiras por ocasião, que lutam em guerras ocasionais, donas-de-casa guerreiras - e nada contra esse tipo de guerras ou de guerreiras, é que a maioria das histórias é assim, e na Xena é diferente); tem também a relação entre as duas, e as lutas são bem coreografadas - e eu gosto de coreografias.



E.p. - Cite algum episódio que você tenha gostado.



E.r. - Assisti um chamado "A Peça", onde a Gabrielle monta uma peça sobre o caminho que ela segue, ao lado de Xena, em direção ao bem. Uma das coisas mais legais é ver os personagens tratando a si mesmos como personagens - não é mais a autora do seriado narrando Xena e Gabrielle diretamente, mas sim narrando-as através delas próprias, e, também, são elas (as personagens) falando de si mesmas. É interessante que o seriado trata de metalinguagem de maneira mais divertida e exata do que o faz a filosofia.





E.p. - Você vê na Xena um tipo diferente de guerreira do tipo que geralmente aparece no cinema ou nos livros, e gosta de coreografias...



E.r. - Certo.



E.p. - ... mas o que você vê de interessante na relação entre as duas?



E.r. - Elas tem uma relação amorosa, do tipo casal apaixonado, e isso é uma questão de perspectiva, porque nada impede que alguém diga que elas se amam como se amam duas irmãs, por exemplo. Mas a minha opinião é a primeira. Porém, não se vê filmes nem livros (eu pelo menos não conheço) onde os personagens têm uma relação livre assim ("livre" não quer dizer que eu suponha que elas tem algum tipo de relação aberta, como Sartre e Simone de Beauvoir, por exemplo, e também não suponho que não seja assim a relação). Oscar Wilde disse que homossexualidade é um amor que não ousa dizer o nome, e, de maneira geral, hoje em dia esse amor ainda diz seu nome de maneira tímida quando não é dia de parada gay. O amor entre Xena e Gabrielle não tem esse problema de não ousar dizer o nome. É um tipo de amor que não está preocupado com seu nome. A questão do nome desse amor não é relevante, não interessa em Xena, ao contrário dos filmes e romances onde sempre é implícito que trata-se de um amor chamado heterossexual, ou é explícito o nome homo ou bissexual. O nome, a classificação do amor, é muito importante nos livros e filmes atuais. A coisa mais parecida com Xena, em relação a isso de nome do amor, é o livro Lado B - Histórias de Mulheres, onde na maioria dos contos o amor não é classificado, mas somente mostrado. Na minha opinião.



E.p. - Agradecemos a sua atenção.



E.r. - Eu é que agradeço.





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19 de abril de 2007

 

Apenas um comentário sem necessidade

Gosto da palavra "estapafúrdia".





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Estapafurdices

Assim como no Brasil, na Espanha a justiça pode ser muito estapafúrdia.

Um juiz espanhol arquivou um processo de violência psicológica contra um marido porque achou inadmissível que uma mulher com a formação intelectual que esta tinha, tenha suportado por tantos anos esse tipo de violência sem denunciá-la. Eu não sei se eu expliquei bem a idéia do juiz (porque nem eu mesmo entendi muito bem a frase que escrevi quando fui reler): se você é uma mulher e tem uma formação intelectual avançada (tipo doutorado) ou, como diz minha avó, é uma mulher muito estudada, é impossível que você suporte qualquer tipo de violência sem uma reação legal; e se você, uma mulher pós-pós-graduada, demorar muito para ter essa reação, você se fudeu e vai ter que aguentar isso pelo resto da vida.





Ao contrário do Brasil, na Espanha esse tipo de notícias têm destaque e, mais importante (ou pelo menos mais eficiente), esse tipo de fato causa reações realmente eficazes.



A Espanha, tanto quanto o Brasil, é um país bastante machista. Mas lá, pelo que percebi, existe uma movimentação muito maior contra esse tipo de violência (quem vê pensa que eu conheço a Espanha como a palma da minha mão: mas me baseio somente pelo que leio na Internet).





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16 de abril de 2007

 

No ar puro de bosta, gelado.

Várias vezes quando eu ando pela rua eu "capto" fragmentos de conversas alheias. Esses fragmentos, às vezes, dão margem à minha imaginação supor muitas coisas. São frases do tipo "...e aí eu disse 'Não mesmo! Tá pensando que eu sou o quê?..." ou "...quatro vezes na mesma noite, incrível!...". Claro que pode ser qualquer coisa, e eu elaboro umas conco versões para cada fragmento, quando eu estou com paciência para isso.



Mas hoje de manhã, indo para o trabalho, eu ouvi o fragmento mais interessante até agora: "No ar puro de bosta, gelado??"



Grande parte da graça está na maneira, na entonação que a mulher usou. Não sei se vou conseguir descrever, mas é aquele tipo de entonação de quando se responde na mesma hora, com indignação, com um bem-humorado sarcasmo apesar de todo o mau-humor. Ela estava falando isso para um homem ao lado dela.



Às sete da manhã, à caminho do trabalho, eu não tinha muito o que fazer nas próximas quadras, e fiquei imaginando do que se tratava.



A primeira coisa que pensei foi que tratava-se de um casal. Ele convidando ela,  talvez, para acampar na Serra, passar a noite sob as estrelas, tudo muito romântico, todo aquele ar puro e ela respondendo "No ar puro de bosta, gelado??". Talvez até fosse em alguma fazenda o destino proposto, e ela estivesse pensando nas vaquinhas, ao pensar no ar puro com cheiro de bosta de vaquinha, de cavalo, de boi, de qualquer bicho fazendário. Além de fedorento, gelado.



Ou, então, poderia ser passar alguns dias na sogra dela, que mora na serra (talvez até em uma fazenda), e ela, para não complicar, não arranjar briga àquela hora da manhã, não disse que não queria ver aquela velha impertinente de bosta, e sim que não queria saber daquele ar puro de bosta, e gelado. A "bosta" no meio da frase foi um ato falho.



Talvez fossem irmãos, e não casados. E ele, espírito aventureiro, estivesse cantando a irmã para ir junto. Quem sabe ela tivesse carro, a única da galera a ter um. E ele tentando argumentar, tornar a aventura interessante, falando dos malefícios da cidade, da poluição, e ela replicando com "Naquele ar puro de bosta, gelado??". Talvez ela - independente de ser irmã ou esposa - tenha vindo do nordeste, e não goste desse frio do sul, desse "ar puro de bosta, gelado" que é uma das grandes contribuições gaúchas ao Brasil - além das piadas sobre gays para o Casseta e Planeta.



Pode ser que fossem dois amigos combinando o fim de semana. Ela acorda sempre de mau-humor (e nesse caso me solidarizo com ela), ou estava com TPM - ou ambas as coisas - e, às sete da manhã, indo para o trabalho em uma segunda-feira, ao ouvir uma proposta de programa para domingo dessas, largou um "No ar puro de bosta, gelado??" para descrever a sensação mais imediata que lhe ocorria diante da proposta.



Eu não ouvi o que veio antes dessa conversa, nem o que veio depois - até porque fiquei rindo e me segurando para não rir alto. Mas deixo registrado meu agradecimento à dupla de pessoas desconhecidas, que divertiu um pouco meu começo de semana.





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15 de abril de 2007

 

Nada

Faça o dawnload de NaDa™ : Não ocupa nada, não instala nada, não funciona nada, nada de nada. Muito útil.

 

Poema sobre o meu blog

Cecília Meireles nem sonhava com Internet, muito menos com blogs (eu imagino). Mas ela escreveu um poema não muito exato, mas muito adequado ao meu blog. Viva a e-Cecília



Discurso

E aqui estou, cantando.



Um poeta é sempre irmão do vento e da água:

deixa seu ritmo por onde passa.



Venho de longe e vou para longe:

mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho

e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes andaram.



Também procurei no céu a indicação de uma trajetória,

mas houve sempre muitas nuvens.

E suicidaram-se os operários de Babel.



Pois aqui estou, cantando.



Se eu nem sei onde estou,

como posso esperar que algum ouvido me escute?



Ah! se eu nem sei quem sou,

como posso esperar que venha alguém gostar de mim?



Cecília Meireles





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Poema sobre mim

A Cecília Meireles consegue falar de mim não de uma maneira completa - mas de uma maneira exata. (Coisas que podem ser mudadas, mas que até aqui foram assim)



Timidez     



Basta-me um pequeno gesto,

feito de longe e de leve,

para que venhas comigo

e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.



Uma palavra caída

das montanhas dos instantes

desmancha todos os mares

e une as terras distantes...

- palavras que não direi.



Para que tu me adivinhes,

entre os ventos taciturnos,

apago meus pensamentos,

ponhos vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.



E, enquanto não me descobres,

os mundos vão nevegando

nos ares certos do tempo

até não se sabe quando...

- e um dia me acabarei.



Cecília Meireles





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14 de abril de 2007

 

passado

Uma dobra em uma coisa plana acontece quando um ponto (ou muitos pontos) dessa coisa plana se eleva e arrasta junto de si o entorno.



Às vezes eu tenho impressão que o passado funciona assim. Um evento, ou uma pessoa do passado reaparece, e não é o tempo que voltou, nem eu que voltei do passado. O tempo fez uma dobra.



Isso porque, algumas vezes, quando uma pessoa ou um evento do passado reaparece, traz consigo, pelo menos no começo, todo aquele passado, ou parte do passado.



Mas o tempo não volta. Pessoas e eventos, sim. O tempo, não.



Pessoas e eventos que voltam podem desencadear outros eventos que também são reaparições, vem tudo junto porque aquele ponto da superfície plana trouxe junto seu entorno.



Isso tanto pode ser definido como um reencontro feliz ou, então, como um trauma. E depende da memória.



Toda reaparição depende da memória (se eu não me lembrasse de uma pessoa ou coisa, não seria uma reaparição). Quer dizer que o passado é sempre imaginação.



Isso não significa que uma cicatriz é imaginação, por exemplo. Uma cicatriz é uma coisa presente, e não passado.



Mas a lembrança é sempre imaginação. E imaginação sempre depende de criação.





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Gostar de alguém

Existem duas maneiras de se gostar de alguém: gostando disso e não gostando disso.



Me explico: você pode gostar de alguém, e isso lhe faz muito bem, você gosta de gostar da pessoa. É, de certa maneira, um pouco libertador gostar dessa pessoa, não porque ela seja o messias, mas porque junto dela o ar fica mais leve, é mais fácil de sorrir, de se interessar por outras coisas.

E você pode gostar de alguém sem gostar disso. É um gostar um pouco sombrio, um gosto genuíno, mas que se expressa sempre calculadamente. É um pouco nocivo, na medida em que é um bem que faz mal, ou um mal que faz bem, dependendo de como vai a relação.



Nenhuma dessas duas maneiras é melhor do que a outra. São duas maneiras. Claro que existe o gosto, e eu tenho minha preferência por uma ou outra - poderia, inclusiva, gostar das duas, ser indiferente, etc.



E isso também não se confunde com o "perigo" que a pessoa representa:



Por exemplo, as duas personagens principais de Xena (e, para entender o exemplo, pouco importa se você conhece esse seriado ou não): Gabrielle gosta de Xena, mas tem medo de um certo lado sombrio da última. Isso não significa que ela se enquadre nas pessoas que não gostam de gostar daquilo que gostam; sei lá se a personagem gosta ou não do seu gosto pela Xena, e eu prefiro supor que sim - mas é suposição minha, e não parte da história.



Dedos cruzados.





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12 de abril de 2007

 

Flores in the head

Eu me torno em uma pessoa muito chata quando me apaixono. Espero que não para a pessoa por quem me apaixono.



Me torno uma pessoa chata porque daí só fico falndo disso.



Eu não sou uma pessoa que se possa dizer experiente nesse terreno de manter um relacionamento amoroso por mais tempo do que a validade de um leite longa-vida. Aliás, só uma vez tive uma oportunidade concreta, mas eu tinha 14 anos e naquela época larguei tudo para, veja só, servir ao senhor.



Depois disso (de ir nessa de servir ao senhor), conversa daqui, coisas dali, beijo de lá, mas nada que durasse, como eu já disse, mais tempo do que um leite longa-vida.



É que as pessoas têm, eu acho, a mania de dissociar amizade e amor, e ninguém tem obrigação de ser diferente disso. Quer dizer, todo mundo ama seus amigos, mas - pelo menos no caso das pessoas que conheci - ninguém tem amizade por quem ama.



As pessoas dissociam muito sexo de amizade. E não estou falando de fazer sexo com amigos (nada a dizer contra e nem a favor, é que não é esta a questão). Você não pode dormir com a pessoa que é a sua melhor amiga (estou falando, espero que tenha dado para notar, de mim - conheço casais que funcionam assim e, claro, não participo de nenhum deles). Você pode até transar com ela, mas não namorar (mais um parêntesis, mas só para fazer uma observação: me sinto uma peça de museu falando "namorar").



E isso é que fode (no sentido figurado) minha vida amorosa. E eu também não sou flor que se cheire: em certas ocasiões eu demoro para confiar. Aliás, na maioria.



Mas como, enfim, o mundo dá voltas, lá vou eu de novo me apaixonar.







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Amor, ou Condição necessária e condição suficiente

Uma condição ("condição" no sentido de "pré-requisito") necessária é uma condição sem a qual alguma coisa não acontece de maneira nenhuma. Mas nem sempre esta condição necessária é suficiente: pode ser que seja preciso algo além da condição necessária, sem que se dispense a última.



Por exemplo: os ingredientes são a condição necessária para que você faça um bolo, mas não é condição suficiente, porque sem um forninho, você pode ter todos os ingredientes que não fará o bolo, por isso, o forninho é a condição suficiente. É só um exemplo, e não serve de regra.



Uma condição necessária pode ou não ser suficiente. Mas uma condição suficiente sempre é necessária.

Dito de outra maneira: toda condição suficiente é necessária, mas nem toda condição necessária é suficiente. Isso sim serve de regra.



Me apaixonar por uma pessoa é uma condição necessária para que eu a ame. Mas não é uma condição suficiente. A amizade é a condição suficiente.



Eu posso me apaixonar perdidamente por uma pessoa, mas sem amizade, eu pelo menos acabo sofrendo, porque não rola.



Quando eu me apaixono, eu procuro a amizade dessa pessoa. Claro que nem todas as pessoas de quem eu procuro amizade são pessoas por quem me apaixonei (embora a amizade também contenha paixão, mas é aquela paixão própria da amizade que é diferente do amor da sua vida). Mas de todas as pessoas por quem eu me apaixonei eu procurei a amizade. E ainda faço isso.



Às vezes eu acabo ficando só com a amizade. O que, para mim, é o suficiente. Não considero uma amizade uma perda.



Eu espero que, desta vez, haja amizade nessa paixão. Que haja também alguma paixão recíproca. E, que se não houver uma paixão recíproca, que pelo menos haja amizade. Minha vida amorosa não vai mudar nada nesse último caso, mas uma amizade é sempre uma amizade, algo do qual eu gosto muito.



Mas tomara que a coisa toda vire, quem sabe, amor.





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Xena

Lhe acorrentaram as mãos às suas costas e lhe atiraram no fundo de um calabouço. Lá fora, sua alma gêmea está em uma forca, esperando apenas uma ordem para ser morta. Muitos metros acima de você, há uma grade no teto, onde equilibra-se precariamente o seu disco super afiado. À sua frente, um toco de alguma coisa ao alcance da sua boca. A solução mais viável e mais impossível seria pegar o toco com a boca, atirá-lo metros acima (utilizando a boca) e acertar seu disco, com o cuidado de fazê-lo cair com o fio virado de maneira que arrebente a corrente em volta das suas mãos, para que você possa atirá-lo a muitos metros de distância, acertando a corda da sua amiga prestes a morrer enforcada. Você conseguiria?



A Xena consegue.



E depois ficam cultuando o Chuck Norris!







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9 de abril de 2007

 

Título

Quando eu resolvi fazer esse blog, era para fazer uma geografia de mim. "Geografia" porque eu não estou escrevendo minha história, e sim descrevendo o meu lugar. Não é, também, uma descrição "científica", da mesma maneira que, se eu estivesse escrevendo minha história, não seria uma biografia.



Li, eu acho, muito de alguns autores franceses contemporâneos e isso, somado ao fato de eu viver no tempo em que vivo - quer dizer, hoje em dia - fez e ainda faz com que eu coloque muito em questão o "eu", a personalidade (não quero dizer "personalidade" como quem fala do caráter de alguém).



Não que você precise colocar essas coisas em questão quando lê essa gente, mas eu coloco.



E, sei lá, mas é difícil descrever um lugar. Eu não sei se eu ocupo um espaço muito amplo, ou se ocupo muitos lugares na minha vida.



"Lugar" eu quero dizer coisas como minhas opiniões, meus desejos, meus traumas, coisas assim. Esse tipo de coisas colocam a pessoa em determinado lugar, um lugar ideológico, um lugar político, um lugar educacional, um lugar sexual, um espaço onde me movimento.



Esse espaço é um espaço que inclui também o espaço físico, mas vai além disso: tenho um espaço conceitual, um espaço afetivo, um espaço emocional, um espaço estético, etc. E é esse (ou esses) espaço que me interessa nesse blog.



***



Eu tinha idéia de escrever sobre outra coisa, mas essa coisa me fugiu, aí esse post fica com esse textinho mesmo.





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Enlatados

Sem poder alugar DVD´s, com saudade de séries que eu gosto e devido a preguiça de fazer uma lista de filmes (adoro listas), vou listar as séries mais legais que acompanho ou que acompanhei:



Gilmore Girls

Conta a história de uma mãe e sua filha (ambas chamam-se Lorelai Gilmore, mas a filha é mais conhecida pelo apelido, Rory) em uma cidadezinha chamada Star Hollows. A relação entre as duas é mais de amizade do que de mãe e filha. Lorelai era, na adolescência, algo como uma junkie, embora fosse filha de um rico e respeitado casal em uma outra cidade. E Star Hollows é uma cidadezinha daquele tipo em que todas as pessoas sabem da vida de todas.



Aliás: Codinome Perigo

Conta a história de Sidney Bristow, que trabalha como agente do FBI. A história é cheia de reviravoltas: gente morre, amigos revelam-se como inimigos e vice-versa, e praticamente qualquer coisa na vida de Sidney pode revelar-se uma farsa.



Xena - A Princesa Guerreira

Esse eu só consigo acompanhar quando chego em casa a tempo, e faz pouco tempo que eu descobri que a Record passa (antes dava no SBT). Não sei bem qual é a história da Xena, mas ela era uma guerreia malvadona, e aí se arrepende do mal e vira uma defensora dos fracos e oprimidos. Houve uma época em que as pessoas ficavam debatendo se elas eram ou não lésbicas, e, independente de qualquer resultado do debate, todas as lésbicas do planeta adoravam a série (eu não conheço todas as lésbicas do planeta, mas gosto de exagerar nas minhas colocações). Como a série se passa na Grécia Antiga, quando a sexualidade não era uma coisa assim tão delineada (pois hoje uma pessoa pode ser homo, hetero, bi, trans pansexual - basta marcar um X na opção que mais lhe agrade), na minha opinião, elas eram sim um casal, mas de uma maneira inconcebível hoje em dia.



Eu, a Patroa e as Crianças

É a história de um casal criando seus filhos. Nada demais, mas é muito engraçado (desde que você faça certas concessões em nome da vontade de rir).



Blossom

Era (porque não passa mais) a história de uma garota às voltas com a sua vida, seu pai solteiro pianista, um irmão ex-drogadito, e outro sem cérebro. Tinha a sua amiga Six, que hoje em dia seria classificada como TDAH, meia dúzia de namorados e os problemas típicos de uma adolescente norte-americana da época.



Alf, o ÉTeimoso

Alf era um seriado muito sem noção. Um ET foi parar em uma família terrestre, simples assim. Mas o Alf era muito engraçado, não conhecia os costumes terrestres, precisava manter-se oculto das outras pessoas, e veio de um planeta onde o alimento mais popular era gato.



Claro que todas essas séries tem seus defeitos: a Rory, de Gilmore Girls, é uma chatinha, a coisa mais divertida da série é a Lorelai Gilmore; Xena às vezes é forçado demais (quando ela vira a cabeça, às vezes, dá aquele barulinho de "vupt!", o que me faz lembrar filmes de ninjas); o defeito de Aliás é, ao mesmo tempo, sua maior qualidade: o estilo clubber, ou techno (ou sei lá) do seriado, que às vezes fica muito forçado (já vi críticas que diziam que o problema do seriado são as reviravoltas excessivas, mas, para mim, essa é uma das qualidades do seriadinho); Alf e Blossom faz muito tempo que não vejo, só me lembro que a Blossom era certinha demais, sempre estava às voltas entre fazer o bem e o mal - o que a torna muito parecida com a Rory de Gilmore Girls, embora esta última não seja tãããão certinha quanto a outra, embora seja mais chata.



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8 de abril de 2007

 

mensalmente

para arranjar uma grana: assalto

para comer no almoço: verde

para assistir um filme: TV

para atender os credores: passe no mês que vem



(mas ainda posso tomar uma coca com drops)





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7 de abril de 2007

 

Certas coisas que merecem links





Adeus aos espelhos

hehehe...





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selfirélpi

Eu devo estar em um fase de descoberta dos meus preconceitos. Um dos mais recentes é meu preconceito contra a auto-ajuda.



Esse preconceito segue uma cracterística dos preconceitos em geral: eu tenho pouca experiência com literatura de auto-ajuda (tanto que chamo de "literatura" apenas por convenção). - Claro, no que toca ao preconceito em geral, a experiência não acaba necessariamente com o preconceito; mas a falta de experiência ajuda na formação do preconceito, acho yo.



Gosto muito de ler, e recomendo isso para todas as pessoas. Mas também sei que muitas vezes a leitura pode se transformar em deixar que um livro ou um autor pense pela própria pessoa. Se alguém quer outra pessoa pensando por si, tudo bem, seja feliz. Mas eu não gosto disso.



Pessoas cultas, eruditas, sábias, podem muito bem estabelecer esse tipo de relação com os livros: conhecer todo o pensamento de Kant, Sartre, Kafka, Machado de Assis, Clarice Lispector, e não pensar nada próprio. Claro que é difícil estabelecer o que seria um "pensamento próprio", mas geralmente é fácil perceber quem vive de reproduzir verbalmente o pensamento alheio lido em um livro.



E isso, dentro da minha preconceituosa perspectiva sobre a auto-ajuda, é quase uma regra nesse tipo de leitura.



"Auto-ajuda", para começar, deveria ser um movimento iniciado pela própria pessoa. Se a ajuda vem de um livro, não é "auto", mas - sei lá qual é o prefixo - externa. Quero dizer, é um engano que começa pelo nome do gênero literário.



Depois, uma pessoa que escreve um livro desses conhece (eu espero) a própria vida, sua própria maneira de lidar com as coisas, e tem (também espero) uma sensibilidade grande para detectar comportamentos nocivos nas pessoas. Por isso, quem escreve, escreve pensando em situações gerais, ou em soluções gerais.



A maioria das pessoas têm problemas financeiros, amorosos, de relacionamento, de emprego (entre outros), e cada esfera problemática dessas tem linhas gerais características. Além disso, existem também determinadas soluções gerais que são recomendáveis, como pensar a favor da resolução dos problemas, agir também de maneira favorável à resolução, reflexão, coisas asim.



Mas uma pessoa, por mais sensível que seja, não tem um domínio absoluto sobre situações originais nas vidas das pessoas. E, mesmo que tivesse, diferentes pessoas possuem diferentes posturas e diferentes facilidades e dificuldades nesse ou naquele tipo de atitude, de ação. O que me interessaria quem teria mexido no meu queijo se o meu problema é que não mexem nele, por exemplo?



A vida das pessoas, suponho eu, assume configurações muito pouco previsíveis, muitas vezes, e os problemas que se apresentam podem não seguir as linhas gerais da condição humana em geral (nossa, que frase profunda).



Seria mais auto-ajuda livros que fornecessem princípios de ação, ou seja, livros que possibilitassem as pessoas a se auto-ajudarem, e não que ajudem eles próprios as pessoas. Claro que, muitas vezes, as pessoas estão muito perdidas e precisam de um norte, de um conselho objetivo e direto. Mas a auto-ajuda é composta apenas e tão-somente disso, e não de princípios de auto-ajuda.



Eu não consigo esclarecer muito bem o que eu quero dizer com princípios de auto-ajuda, mas é algo, acho, semelhante a ensinar a pescar ao invés de dar o peixe. E "ensinar", nesse caso, algo diferente de doutrinar, adestrar, que é a maneira como geralmente se dá o ensino e a educação em geral. Mas vai mais além de ensinar a pescar, e sim se trata de proporcionar às pessoas condições de resolverem seus problemas.



Em breve: novos preconceitos.





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6 de abril de 2007

 

Fios

Li um livro que é, de certa maneira, do Schoppenhauer. "De certa maneira" porque são textos dele, mas selecionados por outra pessoa. Também não interessa. Interessa é que nesse livro, ele se bate contra os textos mal-escritos. Um dos critérios pelos quais ele identifica um texto mal-escrito é a falta de conteúdo (você só escreve um bom texto se tem algo para dizer nele); outro é a falta de clareza. Eu me enquadro em muitos dos critérios de má-escrita que li, com alguns concordo, com outros não, tem os que procuro corrigir em meus textos, e com outros critérios nem me importo. - Tudo isso para dizer que o que vou escrever não vai ficar claro. É bom avisar de antemão porque daí quem está lendo pode decidir se quer perder seu tempo lendo isso ou indo fazer outra coisa, né?



Bom...



Eu acho impressionante as relações entre pessoas. Gosto muito das maneiras como se estabelecem as relações entre pessoas.



Eu imagino cada pessoa com vários fios saindo do seu corpo, e de cada lugar podem sair muitos fios. Quando as pessoas se encontram, esses fios de umas e outras pessoas se ligam uns nos outros, às vezes de maneira mais firme, às vezes menos, às vezes esses fios realmente não são capazes de ligações mais fortes, outros somente conseguem fazer conexões fortes. Há os fios que estão visivelmente ligados, e outros cuja ligação é sutil. E existem muitas maneiras diferentes de ligarem-se uns aos outros, às vezes acontece de ocorrerem ligações imprevistas, incompreensíveis. Ocorrem também ligações nocivas a alguma das ou a todas as pessoas ligadas. Algumas ligações são simplesmente ligações, e não importa a forma como estas ligações se comportem. Existem ligações raras, existem ligações mais comuns, e dentre essas algumas podem se tornar incomuns por um ou outro detalhe.



Talvez até esses fios tenham, eles mesmos, outros fios, que ligam-se tanto de maneira análoga, ou de maneira independente das ligações do fio do qual procedem.



E, embora existam ligações mais comuns, estas somente transformam-se em regra por força de alguma convenção, mas os próprios fios ignoram essas convenções e ligam-se alheios às expectativas das pessoas.



E são essas ligações entre as pessoas que eu gosto muito. São surpreendentes.





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4 de abril de 2007

 

Ecletismo S.A.

Não gosto do termo "Ecletismo" e seus derivados (eclético, eclética, não me ocorrem outros). Mais por preconceito, já que, talvez desgraçadamente, eu me enquandre entre as pessoas "ecléticas" do mundo.



Meu preconceito - assim como qualquer preconceito - é besta: não gosto de ecleticidades porque todo mundo é eclético. Veja bem, não tenho problemas em ser como todas as pessoas, quando é o caso: assisto Big Brother (ou assistia, pois terminou - pena que a Analy não ganhou), dou boa noite ao William Bonner, adoro o sorvete do MacDonalds, detesto os EUA, adoro brechós, defendo a natureza, essas coisas assim.



Só que ser uma pessoa eclética é quase como ter nacionalidade brasileira ao nascer no Brasil - quer dizer, é uma regra. Todas as pessoas são ecléticas. Você pergunta "que tipo de música você gosta?" e a pessoa é eclética. "Que tipo de filme?", "que tipo de livro?", "que tipo de refrigerante?": Ecletismo S.A.





Dentro de meu achismo, "ecletismo" e ouvir de tudo são coisas bem diferentes. Você ouve de tudo para conhecer mais músicas, tipos de músicas, artistas, nacionalidades musicais. Mas você seleciona.



Tudo bem, outro preconceito meu: só porque eu seleciono não quer dizer que todas as pessoas sejam seletivas musicalmente. Mas - dentro do meu preconceito - não consigo imaginar alguém que goste de tudo que ouça, que ame tudo que ouça, que identifique-se com tudo que ouça.



Não falo de gostos supostamente disparatados. Se uma pessoa gosta de sertanejo, hardcore e Edith Piaf, tudo bem, é o seu gosto e ninguém tem que ver com isso.



(Aliás, um pequeno parêntesis: o gosto não segue cânones lógicos para as pessoas dizerem que se alguém gosta disso, gosta daquilo também e não gosta daquele outro. Mais achismo meu, claro.)



Mas uma pessoa que gosta de tudo, não gosta de nada. E nunca é demais frisar que isso é uma opinião.



E ecletismo, acho eu, é ter um gosto variado ou não, "contraditório" ou "coerente", mas ter gosto, quer dizer, gostar de alguma coisa - porque, repito, gostar de tudo é o mesmo que não gostar de nada.



É uma coisa bastante preguiçosa gostar de tudo. Todas as pessoas tem direito à preguiça, inclusive à preguiça musical - não sou eu quem vou dizer "você deve selecionar suas músicas!" Mas eu não tenho essa preguiça: quer dizer, nada contra outras pessoas serem "ecléticas", mas eu não me enquadro nessa definição.



Essa coisa toda de ecletismo era para ser um ou dois parágrafos de introdução sobre outro assunto, mas ficou grande demais e era isso.





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3 de abril de 2007

 

Pequena notícia

Bolsa de miss Paraná desaparece após visita ao Senado





Seria mais seguro visitar um presídio...











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1 de abril de 2007

 

feminismo

Eu já não sei mais de nada agora.

Sempre defendi que prostituição é uma profissão como outra qualquer, que, como outra profissão qualquer, tem suas particularidades.

Qualquer trabalho que você faz, você faz em troca de dinheiro. Uma pessoa digita, outra canta, há quem opere máquinas, quem instale a rede elétrica, enfim, etc, e na prostituição, se faz sexo. Em todos esses caso, se fazem essas coisas em troca de dinheiro.





Aí eu vejo um artigo na internet que fala da Síndrome de Estocolmo em mulheres prostituídas.

De cara, há uma diferença entre mulheres que se prostituem, e mulheres prostituídas. Uma mulher que se prostitui é algo como alguém que trabalha por conta, e uma mulher prostituída é uma mulher que faz sexo para dar dinheiro a outra pessoa - isso se se pensar a prostituição como trabalho. Eu não quero reduzir o problema a um problema de linguagem: uma mulher que se prostitui, pode ser que se possa dizer dela que a sociedade fez com que se prostituísse, pois pode ser que o faça somente devido às condições econômicas em que se encontra. E talvez eu esteja sendo inocente (sinônimo simpático para burrice muitas vezes) pensando que existam prostitutas que o sejam por que querem, ou que, pelo menos, não sofram com isso mais do que sofre uma caixa de supermercado que trabalha o dia inteiro para, no fim do dia, ainda ter que esperar o supermercado fechar, e pegar o ônibus da empresa e perder nisso tudo mais três horas. Quer dizer: estupro é uma coisa, exploração sexual é outra e prostituição seria outra coisa diferente das duas anteriores.



Claro que esse tipo de trabalho é majoritariamente feminino e, na medida em que geralmente o trabalho das pessoas acaba sendo explorado, a prostituição acaba sendo explorada por outras pessoas que não são as prostitutas, geralmente um cafetão, ou um namorado.



Mas isso é cheio de questõezinhas que fazem toda a diferença.



E todas elas se resolvem legalizando esse tipo de trabalho.



"Legalizar a prostituição" significa, porém, igualar essa profissão às outras, que também são exploração do trabalho das pessoas. Ninguém se escandaliza com o fato de que, por exemplo, uma operadora de telemarketing "prostitui" a sua voz para a empresa, um estivador "prostitui" sua força para o porto para o qual trabalha, etc. O "prostitui" nesses casos vai entre aspas porque são explorações comuns, aceitas por todo mundo - ninguém em sã consciência hoje em dia se revolta contra isso, mas essa acomodação não torna a exploração menos exploração do que é.



Acho que existem dois caminhos nesse caso.



Ou você luta para que todas as formas de exploração sejam extintas - o que poderia ser feito estimulando e dando condições às pessoas para que prestem serviços de maneira autônoma, ou em caso de empresas, de maneira que a empresa seja dos empregados; e eu sei que isso é uma coisa bem comunista, mas o que o comunismo queria era que todo o capital fosse de todas as pessoas, e o que eu estou dizendo é que a empresa deveria ser de quem trabalha nela, e não do vizinho.



Ou você luta para que a prostituição seja legalizada, como todas as outras explorações.



Claro, se pode lutar para que a prostituição seja extinta. Mas é algo meio quixotesco de se fazer.





Acho que não existe O Feminismo, mas sim vários feminismos. E alguns acho muito nocivos ao feminismo em geral. Se eu fosse alguém que pouco ligasse para essas coisas, e me deparasse com coisas assim, iria rir e - dentro do machismo que me caracterizaria - diria que é bem coisa de mulher; e não iria perceber que isso não é coisa de mulher, e sim de gente que, sem querer ou não, não consegue se situar em um mundo onde certos aspectos da vida são condicionados pela coletividade.



O que às vezes alguns movimentos feministas fazem (e isso vale para qualquer movimento social) é imaginar que ninguém mais tem razão além deles próprios. Como uma pessoa autista, que não consegue relacionar-se com outras pessoas. Nada no mundo impede que uma pessoa ou um grupo lute pelo mundo ideal, mas pouca gente leva a sério uma pessoa ou um grupo que pense que dizendo "Shazam!" o mundo vai mudar.



Existe uma diferença muito grande entre o olhar crítico que você tem, e as possibilidades concretas de ação disponíveis. A maioria da população é explorada, e isso não impede que mesmo pessoas exploradas explorem outras, que acabam duplamente (triplamente, quadruplamente...) exploradas.



Não adianta fazer coisas como "A mulher e a água" porque isso demanda toda a sociedade, e retira o foco do feminismo para a exploração comum das mulheres comuns. Quer dizer, juntam um monte de mulheres para tratar do tema da água, a escassez de água, a poluição, o ecossistema, essas coisas, e nem meia dúzia se reúne em outro lugar para encontrar meios de se evitar que as mulheres - geralmente as heterossexuais - tenham de arcar com uma dupla jornada sub-remunerada diariamente.



Ou então juntam um monte de mulheres para glorificar a maternidade e dizer que uma mãe ama mais seu filho do que qualquer outra pessoa, enquanto que isso faz com que as responsabilidades sobre uma criança recaiam principalmente sobre as mães, enquanto os pais são superficialmente responsáveis.



Eu sei que eu posso estar sendo um pouco radical, mas cada vez que eu vejo uma mulher - heterossexual - saindo correndo do trabalho porque precisa limpar o banheiro de casa, eu me pergunto cadê as feministas. E elas estão reunidas discutindo a guerra no Iraque. E a guerra no Iraque tem que ser discutida, mas não é um problema de gênero.



Claro que todas essas coisas são um plus do feminismo, essas atividades de formação, de fazer com que as mulheres se posicionem diante dos fatos no mundo em que vivem. Mas eu conheço um monte de mulheres com posições ideológicas, políticas e tudo o mais muito bem claras e definidas, mas que refletem sobre elas enquanto lavam a roupa do maridão, e esfregam o chão, e fazem comida, e cuidam das crianças e tudo o mais.









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