Divagar divagarinho

Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!
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30 de junho de 2008

 

Tudo pelo social

E, lendo coisas e mais coisas, pensando nas minhas reações passadas, de repente eu me dou conta de que tenho fobia social.

Primeiro, eu preciso observar que isso não é um diagnóstico, embora geralmente minhas opiniões sobre mim mesmo estejam certas.

Segundo, eu preciso observar que, com excessão das incuráveis e das fatais, eu poderia ter uma doença dessas mais chiques, ou então com maior apelo popular, tipo anorexia, LER, uma esquizofrenia leve talvez (doença de gente pós-moderna), ou uma depressão não muito forte.

Terceira observação: me fudi de qualquer jeito, porque ou eu tomo remédio para isso, ou pago uma psicóloga (um preconceito meu: não confio em psicólogos. Não confio em psicólogas também, mas desconfio menos - que fique claro que em ambos os casos o preconceito refere-se à profissão, ao contrário, por exemplo, do meu preconceito contra advogados, que vai além da profissão e chega à própria pessoa. Já conheci advogados e advogadas admiráveis, mas essas pessoas não foram o suficiente contra o meu preconceito contra a classe). Ainda na terceira observação: meu bolso também tem lá suas doenças, no caso, uma fobia a dinheiro, embora talvez o problema não seja do meu bolso, e sim do dinheiro, que talvez tenha fobia ao meu bolso. Talvez não seja nada disso, claro, pode ser simplesmente uma fatalidade, mas o fato é que eu estou sempre sem dinheiro, o que torna difícil o meu acesso tanto à psicologia profissional quanto aos remédios (no máximo, um paracetamol).

Da mesma maneira, aliás, que estou sempre angustiado com o fato de que o trabalho maravilhoso que eu fiz talvez não seja apresentado com alguma desculpa esfarrapada (esqueci o trabalho no banco do ônibus e a senha do meu e-mail!!!) porque eu não entendo como alguém pode sobreviver a uma apresentação de trabalho. Se eu tivesse depressão, por exemplo, todo mundo seria solidário comigo. Pelo menos eu imagino que uma crise de depressão seria menos ridícula e mais convincente do que uma crise de fobia social.

Eu tenho medo de altura, também, e de aranhas e de baratas, e de dormir com a luz apagada. Mas nenhum desses medos tem a ver com o trabalho que eu tenho que apresentar amanhã e que não consigo nem escrever porque eu fico imaginando o que eu vou dizer. O_o

29 de junho de 2008

 

Porque The L Word é tão bom?

Aviso: esse texto contém spoilers sobre o seriado em alguns parágrafos. Se você não assistiu até a terceira temporada e não quer estragar sua diversão (no caso de você não gostar de saber de coisas que aconteceram na história antes de assisti-la, e no caso de você assistir à série, é claro), não leia.

a) há uma concepção de arte que define obra de arte como algo (um livro, um filme, um quadro, qualquer coisa) que causa impacto. Eu não sei explicar muito bem, mas é um impacto do tipo "uau!!!", quer dizer, algo que impressiona quem está vendo (ou ouvindo, pois pode ser uma música - e vale para os outros sentidos também). Claro, se você atirar uma criança de uma janela você também vai causar impacto (em ambos os sentidos da palavra), mas acho que impacto, nesse caso, se refere a um impacto emocional que não coloque em risco a vida de ninguém, sejam crianças, cachorros ou outras coisas vivas.

b) eu acho que um seriado, tal como um filme ou uma peça de teatro, é uma obra de arte. O fato de ser geralmente concebido como entretenimento não retira, de um seriado, o aspecto de obra de arte que ele contém. Não é só porque Lost é um seriado que vamos jogar todos os seriados na mesma vala comum das coisas idiotas. (observação: isso quer dizer que até Lost é obra de arte - mas eu tenho o direito de julgar certas obras como ruins, não imprta o que milhões de espectadores digam). Aliás, algo que seja concebido como entretenimento, ou que acabe virando entretenimento por acidente, não deixa de ser uma obra de arte só por causa disso (pois você pode ler Sheakspeare ou O Sangue dos Outros só para passar seu tempo, se entreter, sem que essas coisas deixem de ser arte).

c) mesmo que uma obra de arte seja engajada socialmente, não quer dizer, também, que deixe de ser arte. Claro que mesmo uma pintura surrealista, um quadro cheio de borrões, por exemplo, se insere dentro de uma cultura e, como tal, é resultado de alguma relação politica, e causa outras relações políticas (política, aqui, não se refere à tosquice partidária, que é só um aspecto, desagradável, aliás, da política), ainda que essas relações não sejam determinadas. Quer dizer, uma obra de arte, mesmo que não possua pretensão política alguma, está inserida dentro de uma relação política qualquer (porque ela existe em um mundo onde habitam pessoas que estabelecem relações políticas, e uma obra de arte não é imparcial, mesmo que seu autor quisesse que ela fosse - até porque o próprio autor não é imparcial, mesmo que quisesse ser). Se uma obra de arte que se pretende imparcial ou apolítica ainda assim acaba por estabelecer relações políticas e engajamentos sociais sem deixar de ser uma obra de arte, o contrário também vale, ou seja, uma obra de arte declaradamente política, que possua um corte determinado (como The L Word), ou uma intenção política clara (como os romances de Sartre), ou mesmo uma posição de defesa de tal ou qual coisa (como um rap), não deixa de ser obra de arte, sem prejudicar em nada suas posições políticas.

d) The L Word funciona como um porta-voz das lésbicas dos EUA, e, como a maioria dos outros países (com excessão, até onde eu sei, apenas da Espanha) não tem um seriado assim, acaba sendo porta-voz das lésbicas de todo o mundo. Claro que o seriado não defende o lesbianismo (ninguém defende o lesbianismo, uma pessoa é lésbica: o que se defende são direitos para as lésbicas, e a liberdade de amar a quem se quiser), mas mostra a vida de mulheres lésbicas (e meia dúzia de outras orientações sexuais). Não que o seriado seja um porta-voz do tipo "porta-voz do governo", que fala pelo governo; mas, sim, fala sobre a vida de lésbicas, que, fora do seriado, costumam viver como lésbicas (e "viver como lésbicas" não é muito diferente do que viver como qualquer outra coisa, como heterossexuais, por exemplo, mas há peculiaridades comuns à maioria das lésbicas, como a felicidade ou o preconceito, por exemplo, que não são categorias exclusivas das lésbicas, mas que assumem um conteúdo semelhante quando voltados às lésbicas), mas não costumam ver sua vida representada na TV (convenhamos, Assunto de Meninas pode valer para uma menina que estuda em um colégio interno e ser uma coisa muito boa na promoção da diviersidade e bla blá blá, mas não tem nada a ver com a América Latina, por exemplo, a não ser nos aspectos gerais de descoberta do amor, incompreensão, etc). Mas não é uma Ladyfest - assim como Um Maluco no Pedaço não é um quilombo. O seriado tem um publico-alvo claro (lésbicas), mas geralmente obras de arte não se limitam a atingir somente o grupo que o autor tinha em mente. E, mesmo, pelo que sei, as próprias autoras não definem o seriado como um programa para lésbicas. Mesmo que ele acabe se tornando uma febre entre elas, a palavra L forma muitas palavras.

e) os seriados costumam criar um mundo próprio. Se você nunca assistiu Alias não vai entender que a música perfeita para Sloane seria Used to Love Her (But I Had To Kill Her), mesmo que nunca tenha tocado no seriado; ou se nunca assistiu The Early Edition, não faz sentido pensar na relação entre o gato amarelo e o jornal. Leia Harry Potter ou Dom Quixote que você vai entender bem isso. O mundo que The L Word cria, ainda que seja focado na vida de mulheres lésbicas, lida com questões que tocam praticamente todas as pessoas (eu ia dizer "todas as pessoas", mas acho que nada no mundo toca todas as pessoas do mundo, com excessão talvez das necessidades fisiológicas ou orgânicas ou biológicas, como respirar ou ir ao banheiro). Relações de amizade, amor, gente filha-da-puta, gente chata, essas coisas todas fazem parte desse mundo. E, ao contrário de algo como, por exemplo, Lost, não é um mundo quimérico - até Harry Potter é mais realista do que Lost. Não que um seriado tenha que ser realista. Se você assistir Gilmore Girls, pode morrer de inveja de uma cidade como Star Hollows, mas não existe uma cidade como Star Hollows, você nunca vai morar num lugar assim (se existir, me avise), mas as coisas pelas quais as duas Lorelais passam, as histórias que se desenrolam, os sentimentos e as atitudes - e as opiniões e reações - dos personagens do seriado são coisas muito reais. Até porque é impossível alguém fazer algo que seja absolutamente desligado da vida real (Lost quase consegue isso).

L) (esse parágrafo contém spoilers) o que faz com que The L Word seja tão bom, afinal, na minha opinião, é que é uma obra artística que inevitavelmente causa emoções inesperadas, e bastante intensas. Sei lá, coisas do tipo Alice ir revirar o lixo atrás do cartaz da Dana, além da questão da obsessão, foi uma das cenas de amor mais legais que eu já vi (mais do que o Bruce Willis indo para o inferno atrás da esposa, ou o Jack morrendo congelado pela Rose, por exemplo); ou, então: eu nunca fiquei tão indignado com um acontecimento em um filme ou um seriado quanto como fiquei quando vi que a Kit estava, sem saber, dentro de uma clínica anti-abortista sem saber que a clínica era anti-abortista. Ainda mais, são histórias bem contadas, cenas bem-feitas, enfim, é algo além de mais um seriadinho sobre aviões caindo em ilhas perdidas ou donas de casa chatas desesperadas.

15 de junho de 2008

 

Família

Uma das consequências de você viver em sociedade é que cada pessoa possui um determinado grau de força. Se algumas pessoas reúnem suas forças, cada qual contribuindo com uma parcela do seu grau de força, serão mais fortes contra coisas que têm força igual ou maior do que a força de uma pessoa isolada.

Isso vale também para pequenos grupos, como as pessoas que moram em uma mesma casa. Você, isoladamente, tem uma força x, e as outras pessoas reunidas, digamos, outras três pessoas reunidas, têm uma força xxx. Lógico e natural.

Aí você quer estudar, e as outras pessoas não tem nada contra o estudo. Mas querem ver TV, falar berrando (por incapacidade em falar em um tom com uma altura apenas necessária para chegar aos ouvidos apenas da pessoa com quem fala), comer, fazer outras coisas, que acabam atrapalhando seu estudo. Você somente tem acesso aos recursos da casa quando outros já os utilizaram, ou quando chega primeiro e tem que disputar e defender seu direito de quem chegou primeiro. E tudo isso converge para seu estudo (sair, fazer festa, vc já desisitiu porque todo seu dinheiro vai ou para a manutenção do trabalho ou do estudo): quer dizer, o que atrapalha isso atrapalha seus estudos e vice-versa. Então você descobre que não tem mais forças para lutar contra todos sempre. Que não dá para resistir o tempo inteiro. Que precisa trocar para um curso "menos teórico e mais prático", onde você dependa menos de ler e produzir textos, e possa fazer coisas que não demandem tanto tempo, e, de quebra, paguem melhor no futuro. Mas a única motivação que você tem para todo este esforço é seu gosto, é fazer a merda que vc gosta.

Só que todas as forças em seu entorno pressionam contra aquilo que vc quer, que vc gosta. É como se afogar, mas não na água, e sim em uma massa de interesses contrários ao seu. E você cada vez tem menos dinheiro, menos tempo, menos dias que você consegue encontrar a lavadora de roupas disponível, menos roupas quentes, menos tempo de sono, menos silêncio quando precisa, menos de tudo o que precisa e mais de tudo o que atrapalha.

Aí vc vê se aproximar o momento em que terá que decidir entre jogar fora tudo o que você fez até aqui, e começar alguma outra coisa, ou continuar, não mais para chegar até onde vc quer (que no fim das contas é realizar-se), mas apenas para ir até onde seja possível ir antes que destruam vc.