Divagar divagarinho

Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!
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31 de julho de 2020

 

Santo Inácio de Loyola




A democracia só é o melhor sistema de governo que temos na medida em que prezamos a liberdade. Perde-se muito com com este sistema (como eficiência, agilidade, coerência, etc.), e tudo o que se perde com ele não vale a liberdade que o fundamenta, o que faz da democracia até hoje e provavelmente por todo o futuro, a única opção aceitável de governo.

O maior risco na democracia é a parte do "demo" (que é "povo" em grego, nada a ver com a Bíblia aqui), pois a vontade soberana do povo sempre pode ser o pior que poderia haver entre as opções disponíveis, sem contar que é o próprio povo quem aceita e, de certo modo, cria estas opções. A voz do povo é soberana, mas não é a voz de Deus.

Um governo de especialistas, que se não me engano era o que Platão sugeria em algum livro cujo nome eu não me lembro, não seria melhor do que a democracia, e é o que vemos pelo resultado das últimas eleições, os escolhidos pelo povo prometendo especialistas governando o país para salvá-lo do PT, do comunismo, do Lula, etc., etc.

Nestas eleições a voz do povo não foi considerada apenas a voz de Deus: a voz do povo elegeu o próprio Deus nos representantes que passaram a representar ao mesmo tempo o povo e Deus - pelo menos no que diz respeito à imagem que o governo Bolsonaro vende de si próprio.

Isto por si só não abala a democracia, mas o "viés" totalitarista deste governo abala a democracia e também abala Deus, ou melhor, as nossas relações com Ele. Afinal, Deus não é como Bolsonaro "profetiza", mas o presidente tem, sim, uma voz poderosa que confunde até quem se esforça para ouvir a Deus apesar da barulheira governamental ("apesar da" e não "na" barulheira governamental).

Isto não é novidade, e Jeremias - este sim um profeta e a voz de Deus - foi preso pelo povo, o mesmo povo a quem Deus se dirigia por meio do profeta. O mesmo povo que elegeu Bolsonaro. Se politicamente o povo é soberano, religiosamente não o é. Assim como também não o são os especialistas, que no texto da primeira leitura de hoje, são os sacerdotes e os profetas. Assim como no governo Bolsonaro o povo e os especialistas erraram, do mesmo jeito o povo errou prendendo Jeremias.

São todos santos, santos demais: os profetas, os sacerdotes, o povo, o governo Bolsonaro, os pastores fenômenos-de-popularidade que o apoiam (ou "apóiam"? - agora eu entendo os idosos que ainda não se acostumaram a ler "farmácia" sem o "ph"), até padres e quem sabe quais bispos não deram este apoio à eleição dele - todos santos, todos muito santos.

É por isto que Santo Inácio de Loiola deixou escrito (nos seus Exercícios Espirituais que eu nunca li, pois peguei a citação no Wiquiquote) que «Muita sabedoria unida a uma santidade moderada é preferível a muita santidade com pouca sabedoria.» Certamente não foram critérios santos nem sábios que levaram à eleição deste governo, mas talvez um excesso de santidade que, sem sabedoria, é nefasta, e a situação do país comprova o ensinamento de Santo Inácio.

Talvez a eleição de Bolsonaro faça parte do projeto de Deus, como a minha mãe uma vez me deixou encostar no ferro de passar quente só para eu aprender a não tocar mais nele (e, como brinde, hoje ainda tenho uma ótima desculpa para não gostar de passar roupa); talvez (quem sabe?) o presidente fosse mesmo o eleito de Deus mas meteu os pés pelas mãos (pois Deus dá corda prá todo mundo, e não tem culpa que alguns a usem para se enforcar ao invés de usá-la para ajudar a salvar os outros); eu particularmente acredito que Deus aguenta este tipo de burrice porque, sendo Deus, sabe tirar o bem até do mal - as famosas linhas tortas da escrita certa de Deus.

Mas com uma santidade moderada e um pouco mais de sabedoria, talvez  não precisácemos entortar tanto estas linhas, o que talvez dê um pouco mais de trabalho para Deus, mas no que nos diz respeito, estas linhas que nós entortamos acabam arriscando as nossas vidas, como vemos diariamente acontecer diante desta pandemia.

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30 de julho de 2020

 

postagem de quinta, 30/07




Eu lembro que há anos atrás a reciclagem de materiais era assunto ou de quem estava sem dinheiro para comprar uma coisa nova e improvisava com o que tinha e economizar dinheiro com isto, seja para comprar a versão industrializada do que improvisou, seja para ficar com o improvisado e gastar o dinheiro com outra coisa.

Tempos depois, a reciclagem se transformou em um ato de consciência ecológica, para reduzir o disperdício de materiais cuja fonte não é renovável, para não produzir lixo que não se decompõe na natureza, ou pelo menos para  fugir do consumismo que, de modo geral, contribui significativamente para a degradação do meio ambiente, tanto por causa do lixo quanto por causa da exploração nociva dos recursos naturais.

E embora hoje essa preocupação esteja em evidência nos debates, objetivos e programas das organizações oficiais e das organizações coletivas, ainda fazemos pouco pela reutilização e reciclagem das coisas que usamos, mesmo que já o façamos muito mais do que antigamente.

Mas esta preocupação revela também uma perversidade, que não está na preocupação ecológica em si, e nem na reciclagem, mas na incapacidade que nós temos de fazer o mesmo com as pessoas, que descartamos muito mais facilmente do que qualquer pote de margarina usado depois que ela acabou.

As empresas normalmente demitem funcionários sem a menor consideração, mesmo quando respeitam todas as leis trabalhistas que, depois das reformas nos governos Temer e Bolsonaro, legalizaram a desvalorização dos trabalhadores. As pessoas, nas suas relações particulares, também descartam umas às outras com menos dó do que a uma roupa velha. Existem exceções, e muitas, mas elas apenas confirmam a regra.

A maior expressão desta atitude são os presídios, que formalmente servem para a reinserção de pessoas na sociedade, mas que hoje são o mais próximo que podemos chegar a uma pena de morte que, felizmente ainda proibida pelas leis, acaba sendo executada nas prisões. Não que todos morram dentro dos presídios, mas lá dentro já não são mais tratados com a dignidade devida às pessoas que ainda são. Na maioria das vezes eles não estão presos para pagarem pelos seus crimes, e sim para ficar a vida inteira marcados por eles, quer saiam da vida criminosa, quer não.

Esta poderia ser a atitude de Deus, que não é obrigado por nada nem por ninguém a nos aguentar (tomando por base eu mesmo, com quem Deus tem a mais infinita paciência, mais até do que a paciência que eu tenho comigo mesmo), e não só aguenta como quer "reciclar", que nem o oleiro de Jeremias, ao preferir refazer o vaso a jogar tudo fora.

Deus nos moldou e nós nos deixamos deteriorar (uma deterioração que se manifesta especialmente na degradação das relações entre as pessoas), mas Deus se prontifica, gratuitamente, a nos remoldar e, mais do que isto, em vez de remoldar-nos ao "projeto original", remoldar-nos a uma condição inimaginavelmente plena - que se por um lado não tem como concretizar-se aqui neste mundo e nesta vida, por outro lado, também não tem como realizar-se se não começar a acontecer hoje.

29 de julho de 2020

 

Egito prende cinco mulheres influentes por postagens em Tiktok

(Reportagem traduzida no tradutor do Google, do original disponível em https://allafrica.com/stories/202007280954.html )


 Por Menna A. Farouk

 4-5 minutos

 As mulheres foram acusadas de administrar contas online que violavam os valores e princípios do Egito

 Um tribunal egípcio condenou cinco influenciadores das redes sociais a dois anos cada uma na prisão na segunda-feira, depois de considerá-las culpadas de promover a imoralidade e o tráfico de pessoas, incentivando as mulheres a ganhar dinheiro construindo seguidores nas mídias sociais.

 As mulheres, que também foram multadas em 300.000 libras egípcias (US $ 19.000), foram acusadas de administrar contas online que violavam os valores e princípios do Egito, uma nação muçulmana conservadora.

 Haneen Hossam, 20, uma estudante da Universidade do Cairo, foi acusada de incentivar mulheres jovens a conhecer homens através de um aplicativo de vídeo e a fazer amizades com elas, recebendo uma taxa de acordo com o número de seguidores que assistem a esses chats.

 Mawada al-Adham, uma influenciadora do TikTok e do Instagram com pelo menos 2 milhões de seguidores, foi acusada de publicar fotos e vídeos indecentes nas mídias sociais.

 As três outras mulheres foram acusadas de ajudar Hossam e Al-Adham a gerenciar suas contas de mídia social, de acordo com a promotoria pública.

 O advogado de Al-Adham, Ahmed el-Bahkeri, confirmou as sentenças e disse que apelariam do veredicto.

 Várias mulheres no Egito já haviam sido acusadas de "incitar deboche" por desafiar as normas sociais conservadoras do país, mas essa batalha mudou on-line à medida que o uso da mídia social por jovens egípcios aumenta.

 No mês passado, o Tribunal Econômico de Contravenções do Cairo prendeu a dançarina do ventre egípcia Sama El-Masry por três anos por incitar devassidão e imoralidade como parte de uma repressão às mídias sociais.

 Hossam, que tem cerca de um milhão de seguidores no TikTok e no Instagram, foi preso em abril depois de publicar um videoclipe descrito pelo Ministério Público como "indecente".

 Em um vídeo agora expirado no Instagram, ela explicou como as mulheres poderiam trabalhar com ela para ganhar até US $ 3.000, transmitindo vídeos em troca de dinheiro usando a plataforma de criação de vídeos de Singapura Likee, de propriedade da chinesa Joyy Inc ..

 Sua mensagem foi interpretada pelas autoridades como uma promoção para as mulheres jovens venderem sexo on-line, com o promotor público dizendo que suas ações se aproveitaram do fraco estado financeiro das mulheres e menores.

 Um tribunal a libertou sob fiança em junho, mas ela foi presa novamente depois que a promotoria encontrou novas evidências.

 Al-Adham foi preso em maio por vídeos postados no TikTok e Instagram.

 Ativistas de direitos humanos e usuários de mídias sociais lançaram uma campanha digital este mês exigindo que as autoridades egípcias libertem as mulheres, chamando as prisões de "violação da liberdade de opinião e expressão".

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 Enquanto isso, parlamentares egípcios exigiram que o governo suspendesse o aplicativo TikTok de compartilhamento de vídeo no Egito, dizendo que promoveu nudez e imoralidade.

 Nehad Abu El Komsan, chefe do Centro Egípcio dos Direitos da Mulher, disse que tem reservas quanto à frase "violando os valores e princípios da família", mas vê o tráfico de seres humanos e a exploração de meninas por dinheiro como um "crime horrível".

 "Temos que diferenciar entre liberdade de expressão e o uso de menores para gerar dinheiro", disse ela à Thomson Reuters Foundation.

 "Dessa forma, é chamado tráfico de seres humanos e prostituição, que são proibidos pela lei egípcia".

 De acordo com a lei de crimes cibernéticos do Egito, emitida em 2018, qualquer pessoa que crie e administre uma conta na Internet para cometer um crime enfrenta pelo menos dois anos de prisão e uma multa de até 300.000 libras egípcias.

 ($ 1 = 15,9200 libras egípcias)

 (Reportagem de Menna A. Farouk; Edição de Belinda Goldsmith e Claire Cozens. Credite à Thomson Reuters Foundation, o braço de caridade da Thomson Reuters, que cobre a vida de pessoas em todo o mundo que lutam para viver de maneira livre ou justa.  //news.trust.org)


 

Santa Marta




Os mártires da Igreja podem parecer meio suicidas às vezes, tamanha a sua disposição para morrer. Na verdade, em um contexto de perseguição, eles mantiveram a fé mesmo diante da morte, e o que se celebra no seu martírio é a fidelidade que mantiveram ante a opressão extrema de quem lhes exigiu escolher entre a fé e a vida.

Esta divisão entre fé e vida não existe, mas foi forjada pelos seus perseguidores para forçar aqueles mártires a abandonar a fé em troca de manter a vida. Se às vezes as declarações de alguns deles ou os relatos sobre eles sugerem um desejo pelo martírio, é porque nem sempre as ideias de uma pessoa são muito claras, e nem sempre quem fez um relato consegue evitar um certo sadismo, porque nem os mártires nem quem fez os relatos são perfeitos.

Portanto, descontando os arroubos emocionais do santo e os de quem relatou o martírio dele, o que estes sacrfícios demonstram é justamente o apego à vida - pois a morte injustamente imposta pelo perseguidor não pode vencer a vida, que é mantida por Deus e recebida pela fé depositada Nele.

E é a fé em Deus e na vida que esta fé em Deus torna eterna que Marta afirma quando eleva, com todo o esforço que isto supõe, a fé acima da dor pela morte do irmão. A fé em si, por mais indispensável que seja agora, é passageira - pois junto a Deus no céu não será mais fé e sim realidade plena; a fé se orienta a Deus e, por causa disto, à vida. E é por isto que tanto os mártires quanto Marta fazem o mesmo movimento: submersos na dor, no medo e no desespero, elevam as mãos acima da superfície das águas do sofrimento segurando nelas a fé em Deus. E o fazem não porque isto impeça o sofrimento, mas permitem que Deus em seu coração segure esta onda, ou seja, deixam-se amparar por Deus, enquanto sofrem.

Se por um lado o sofrimento não pode ser evitado, também não deve ser procurado. O que se deve tentar evitar são as situações que levam ao sofrimento, dentro de um contexto razoável, é claro.

Mas como na alegria podemos manter a fé em Deus, no sofrimento também podemos. Não que isto seja tão fácil de fazer quanto é fácil de escrever. Mas os momentos de alegria são um bom espaço de treinamento para manter a fé não por causa da alegria, mas ao mesmo tempo e apesar dela. Por que é do mesmo jeito que é necessário manter a fé nos momentos de sofrimento: ao mesmo tempo que ele, e apesar dele. Porque a alegria se mantém sustentada por causa da fé, e o sofrimento, pelo contrário, só se dissolve pela mesma fé que pode manter a alegria.





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28 de julho de 2020

 

As maldades de Deus





Quando Jesus Cristo, que é a segunda pessoa da Santíssma Trindade, assumiu as culpas da humanidade pagando por todas elas na Cruz, ele fez algo novo mas não muito diferente do que Deus vinha fazendo ao longo de todo o Antigo Testamento.

Deus, que não é mau, passou o Antigo Testamento inteiro sendo apontado como o responsável por não sei quantos males, chagas e doenças, seja do seu próprio povo, seja dos inimigos de seu povo. Esta atribuição é característica do pensamento religioso daqueles tempos, e embora até o próprio Deus tenha assumido o personagem do Deus malvadão, o fato é que as manifestações de misericórdia e bondade divina são muito mais significativas do que a sua "maldade" (mesmo que às vezes esta misericórdia venha acompanhada da irritação de Deus, que muitas vezes diz que vai salvar, voltar atrás da promessa de castigo, perdoar, etc., apesar de o povo merecer a maldade evitada).

Tudo isto, o retrato do Deus muito malvado, às vezes é o reconhecimento, por parte do profeta, do povo, de quem esceveu o texto bíblico, do poder de Deus (que não vai dizimar a humanidade, mas só porque não quer e não porque não pode).

Este olhar do profeta Jeremias, que chora lágrimas sem fim lamentando o sofrimento alheio, é mais próximo do olhar de Deus que, mesmo irritado (não sem razão), sofre o sofrimento das pessoas, de cada uma delas. Tanto é que Cristo, no fim das contas, não lançou fogo e enxofre sobre quem o matou, mas deixou-se crucificar e ainda perdoou todo mundo enquanto pagava pelos pecados que não tinha cometido.

Deus, que é santo, sem pecados, puro e inocente (sem deixar de ser poderoso e inigualável), oferece a paz e o amor a nós, que somos pecadores, impuros e culpados (além de nada poderosos, mas muito comuns); mas nós apontamos o dedo para os outros quase mais rápido que o diabo fugindo da cruz: pedimos segurança e nos contentamos que ela seja às custas de gente sofrendo dentro de presídios, pedimos paz e nos contentamos que ela seja às custas de policiais que não sabem se vão voltar para casa no fim do turno, pedimos amor e nos contentamos que ele seja às custas de quem não consegue receber amor; pedimos justoça e nos contentamos que ela seja às custas da injustiça alheia, pedimos pão e nos contentamos que ele seja às custas da fome dos outros (etc.).

Aí não é que Deus não queira dar o que pedimos, mas enquanto nós mesmos promovemos a maldade para nos beneficiarmos disto, porque Deus iria impedir a maldade alheia quando não impede a nossa própria maldade? Enquanto os outros sofrem com os nossos pecados, Deus, que é Pai de todos vai isentar apenas meia dúzia de sofrerem dos pecados alheios?

Em várias passagens do Novo Testamento está escrito que o importante é crer em Cristo e isto basta para ir para o céu. Mas toda a longa e complexa rede de conselhos, exortações, proibições e obrigações serve para não ir para o céus às custas do sofrimento alheio. Não que eu saiba quem vai ou não e nem determine as condições de um ou outro resultado, mas, seja no céu ou no inferno, todos corremos o risco de passar a eternidade tendo que encarar - eternamente - as pessoas que desprezamos, odiamos matamos ou deixamos morrer. Se for no céu, melhor passar a eternidade de bem com todo mundo que estiver lá.


27 de julho de 2020

 

Crise do governo na Somália (notícia do L'osservatore Romano)

https://www.osservatoreromano.va/it/news/2020-07/crisi-di-governo-in-somalia.html

(Traduzida abaixo pelo tradutor do Google)

Crise do governo na Somália
 27 de julho de 2020

 Crise do governo na Somália.  O parlamento do país do Chifre da África prometeu ontem o primeiro-ministro Hassan Ali Khaire com 170 votos em 178.  Decisão aprovada pelo Presidente da República, Mohamed Abdullahi Farmajo.

 Khaire, 52, nomeado em 2017 por Farmajo, levando em consideração o equilíbrio entre os principais grupos étnicos do país, foi retirado com uma decisão decidida de surpresa, depois que os parlamentares descobriram que as planejadas eleições diretas de sufrágio universal não haviam sido organizadas  para o próximo ano, os primeiros democratas desde 1969. "Quando soube que o governo não havia prometido traçar um caminho claro para as eleições de 2021, nas quais o voto de cada pessoa vale um", disse o presidente do parlamento a repórteres,  Mohamad Mursal - a Assembléia Nacional escolheu o caminho do voto sem confiança contra o governo e seu primeiro ministro ".  O cargo de Khaire foi ocupado provisoriamente pelo deputado Mahdi Mohamed Guled, enquanto Farmajo escolherá um novo primeiro ministro.

 O atual sistema eleitoral prevê a nomeação de deputados de confiança pelos delegados;  e os deputados elegem posteriormente o presidente.  O governo federal e seu presidente Farmajo, apoiados pela comunidade internacional, mal controlam a capital Mogadíscio e menos da metade do território nacional, onde desde 2008 a guerra de guerrilha dos terroristas islâmicos da Al Shabaab, ligada à Al Qaeda, continua.

 Deve-se dizer que a Somália está atualmente enfrentando uma emergência humanitária muito séria devido às inundações que atingiram os estados do sul: mais de 150.000 crianças, dizem as ONGs, foram forçadas a fugir junto com suas famílias.

 

Justiça divina



Há muito tempo atrás uma professora do Magistério explicou à turma que o problema em castigar crianças nunca foi o castigo em si, mas a motivação: um castigo "pedagógico", que ensine alguma coisa à criança, não só é válido como é necessário (desconsiderando o "aprendizado" de castigos dolorosos ou violentos); já descarregar raiva de quem castiga é a pior motivação para um castigo, e geralmente castigos dolorosos ou violentos servem apenas para isto: um adulto descontar sua raiva em uma criança.

Esta ideia se aplica também à esta passagem de Tiago: vemos maldades e pecados correrem livres e soltos diariamente diante dos nossos olhos e se encolerizar diante disto é fácil, muito fácil. É quase necessário, pelo menos do ponto de vista que a indiferença apenas piora.

Mas esta raiva, esta cólera, não resolve, e reagir com raiva diante da maldade serve apenas ao mesmo propósito descarregar a raiva que fundamenta muitas vezes os castigos dados às crianças (embora estas maldade e pecados aos quais me refiro sejam feitas por adultos). Descarregar a raiva serve exclusivamente para isto: descarregar a raiva. Mas há quem descarregue esta raiva em nome de Deus, até porque há quem sinta raiva até do que não deveria ser objeto de raiva. Justa ou não, a raiva de ninguém vai fazer bem algum que seja (se Deus consegue extrair disto um bem, é porque ele é Deus, e não porque este possível bem justifique a raiva e a cólera).

Nem o mais santo entre nós tem permissão para ser o justiceiro de Deus, seja com uma espada, seja com uma caneta em suas mãos.

25 de julho de 2020

 

Festa de São Tiago


Os santos são santos e merecem a veneração que lhes dedicamos. Mas é mais fácil para nós, agora, venerá-los, do que no tempo que lhes foi contemporâneo. Há uma certa relação entre santidade e perseguição, que não implica na atribuição de santidade ao que quer que seja apenas por sofrer a perseguição, mas não existe santo que não a tenha sofrido.

Hoje podemos ver São Francisco, São Bento, São Benedito, Santa Joana D'Arc, etc., já consagrados pela história depois de o terem sido por Deus, mas em seu próprio tempo, e sabe-se lá por quanto tempo depois, é mais provável que eles tenham sido vistos como São João Paulo II, Santa Madre Teresa de Calcutá ou São Josémaria Escrivá, canonizados mas, ainda assim, suspeitos.

O fato é que os santos não nasceram santos, e o seu caminho rumo à santidade dificilmente terá sido um caminho reto e plano. Justamente pelo contrário, quem caminha, mesmo rumo à santidade, dificilmente evitará se sujar na poeira da estrada. Isto não justifica qualquer pecado que seja, mas dentro de uma redoma de cristal totalmente esterilizada dificilmente se encontrará a santidade, a não ser no caso de relíquias e estátuas de santos que já estão com Deus no céu.

São Tiago, o Maior (de quem celebramos a festa hoje), por exemplo, ficou mal-visto pelos outros apóstolos, junto com seu irmão São João, graças ao pedido da mãe deles para que os filhos ficassem um à direita e o outro à esquerda no Reino de Deus, que os queria destacados entre os apóstolos como o eram para ela. Além disto, ele e o irmão foram repreendidos por Jesus, que lhes explicou que não veio para perder, e sim para salvar almas, depois que eles sugeriram a Jesus queimar com o fogo do céu aos samaritanos que haviam recebido mal o Senhor (o que rendeu aos dois o apelido de Boanerges, que significa Filhos do Trovão, por causa do seu temperamento). Depois da ressurreição de Cristo, a crença popular sugere que passou por Portugal e Espanha (onde termina o famoso caminho de Santiago de Compostela), mas por fim, morre martirizado por Herodes em Jerusalém mesmo, e se torna o único apóstolo cuja morte foi narrada na Bíblia (em At 12).

Talvez São Tiago possa ter sido visto como um "filinho da mamãe", na melhor das hipóteses, ou como um homicida em potencial, depois de querer queimar os samaritanos, mas não estamos mais nos primórdios da Era Cristã para saber o que poderiam ter pensado dele, além do relato bíblico de que os outros apóstolos não gostaram do pedido da mãe dos Boanerges.

Seja como for, o santo não foi um santinho bonitinho e este é o ponto sobre 2Cor 4,7: nós somos estes vasos de barro, tais como qualquer santo, nos quais está contido o tesouro que é o esplendor da luz de Deus. Quando este esplendor se confunde com o barro no qual está contido, surgem os triunfalismos e as teologias da prosperidade que levam tanta gente a julgar que pode se apropriar do esplendor de Deus. Isto é uma lástima, mas ao menos serve para identificar de onde a santidade passa longe: destes vasos que se julgam pura luz.

Na dúvida, sempre é melhor desconfiar de qualquer santo que não tenha sido canonizado e que ainda não tenha ido para o céu junto de Deus. Incluindo cada um de nós, também. Mas é igualmente bom e conveniente não descartar os meio suspeitos, que pode ser que não valham nada mesmo, já que não é o serem suspeitos que os faz santos - mas não existe santo que não tenha sido meio suspeito (a começar por Cristo, que além de suspeito, foi julgado, condenado e executado ante de ressuscitar gloriosamente).

24 de julho de 2020

 

Crescei e multiplicai-vos


Jeremias repete a expressão "crescei e multiplicai-vos", ordem dada por Deus à humanidade no Gênesis (mas não como coelhos, complementou o Papa Francisco em 2015).

Aqui esta expressão aparece reafirmando aquela ordem, e também parece o marco de uma promessa: "quando vos tiverdes multiplicado e crescido na terra...".

Para além da reprodução humana, isto também deve significar o quão distantes estamos disto, seja como uma ordem, seja como meta. Pois crescemos em número, mas ao invés de nos multiplicarmos, nos dividimos cada vez mais.

Esta divisão constante é o contrário do que o que Deus promove entre nós, a união que resulta do amor.

Não podemos apenas pensar em "crescei e multiplicai-vos" numérica e biologicamente. Se gerar filhos é uma graça dada por Deus, é uma graça para nós, porque Deus mesmo não depende das nossas relações sexuais para nos criar.

"Crescer" é muito diferente de engrandecer-se, mas estamos cumprindo a ordem de Deus apenas neste sentido, como se ela fosse "engrandecei e proliferai-vos". Precisamos de pessoas, de mais pessoas neste mundo, e precisamos tratá-las como tal, assim como precisamos tratar a Terra como outra graça de Deus, e não tratar ambos - as pessoas e a Terra - como algo a ser explorado.

Enquanto tratarmos e permitirmos tratarem as pessoas como números, como coisas e como recursos, estaremos reforçando os ódios e as divisões que são obstáculos ao projeto de Deus. Sendo o projeto de Deus, ele vai se cumprir, sejam quais forem os obstáculos - é apenas para nós que estes obstáculos dificultam tudo.

23 de julho de 2020

 

Desejos artificiais


Nós dependemos uns dos outros para sobreviver. A coletividade humana que assume um rosto nas pessoas com quem cruzamos no dia a dia é interdependente, por isto até mesmo quem recebe ajuda está contribuindo tanto quanto quem dá esta ajuda.

Esta união coletiva não substitui Deus, e sim depende dele para que possa existir - inclusive por ser desejada por ele. Mas se a tentação de substituir Deus pela união entre as pessoas é proporcionalmente mais nefasta, o perigo de se aproveitar desta interdependência é mais iminente.

Isto porque o capitalismo é regido pelo acúmulo de bens e quem possui este acúmulo faz dos outros reféns na maioria das vezes. Os donos do dinheiro, os donos do poder, os donos dos meios de produção, os donos do conhecimento, todos eles acumulam alguma coisa e quase sempre exploram os que não possuem estas coisas ao invés de compartilhá-las com justiça.

Eles se aproveitam assim da interdependência coletiva para impor aos outros as condições de acesso ao que possuem, negando por princípio este acesso a quem não lhes satisfazer - exigindo quase sempre dinheiro, sexo ou humilhação para se sentirem satisfeitos.

É verdade que os explorados podem ser também exploradores dos outros, reafirmando assim esta estrutura injusta. Mas eles apenas reafirmam a ação dos grandes exploradores que não dependem destas reafirmações para explorarem os outros - estas são uma ajuda valiosa, mas dispensável.

Os bens acumulados, que de outra forma seriam apenas coisas necessárias a serem usadas, são trabalhados por estes exploradores para se tornarem objetos de desejo e é principalmente pelo estímulo à satisfação destes desejos artificiais que eles exploram a maioria que tem pouco ou nada. E estes desejos artificiais são como as cisternas que não podem reter água, mencionadas pelo profeta Jeremias.

Aproximar-se de Deus, que é a fonte de água viva, compensa e recompensa a falta dos bens negados por quem os acumulou, mas não apaga a injustiça deste acúmulo e o preço da exploração que cobram pelo que possuem.

O distanciamento de Deus nos expõe ao risco de enxergar nestas cisternas uma água viva que não está lá, mas também nos expõe ao risco de acreditar que o acúmulo reterá esta água viva, ou pior, acreditar que este acúmulo é a própria água viva (e a maioria destes grandes exploradores talvez acredite nisto mesmo).

Não é só por isto, mas é também por isto que Deus nos chama de volta a ele: para não perdermos a vida buscando a morte disfarçada de água viva nas cisternas dos exploradores, deixando assim de beber desta água diretamente da única fonte dela que é Deus.

22 de julho de 2020

 

Festa de Maria Madalena



Maria Madalena não ficou esperando sentada para ver no que ia dar a morte de Cristo: no dia seguinte estava lá no túmulo, vigiando contra toda esperança.

Nem tudo é digno de ser vigiado, e nem tudo aquilo digno de ser vigiado é da conta de um ou outro em particular. Mas Maria Madalena foi, como uma sentinela, vigiar o que o Senhor vigiava, e por isto sua vigília não foi em vão.

Fazer as coisas como se Deus não fizesse nada é inútil, e entre isto e deixar de fazer as coisas esperando que Deus o faça, está Maria Madalena, vigiando junto com o Senhor. Nem sozinha, nem sem fazer nada.

Qualquer coisa que construamos só não será vã se for feita junto com Deus.



21 de julho de 2020

 

Intocáveis


O sentimento de revolta diante disto me leva a pensar, primeiro, no caminho mais fácil: correm os salários deles, acabem com os privilégios, etc. Mas isto também não seria certo. 

Mais abaixo tem outra nota dizendo que o STF proibiu o governo de cortar salários do legislativo e do judiciário durante a pandemia, e isto sim está certo. Mas deveria valer para todos nós e não só para o legislativo e o judiciário, que - ambos - aqui e ali aprovam um benefício ou decidem a favor de um trabalhador, enquanto na maioria das outras vezes tomam decisões que prejudicam a maioria das pessoas dizendo que são em benefício delas.

A maioria de nós não é paga pelo executivo e isso deixa os dois casos diferentes, e aí é que as coisas poderiam ser um pouco mais justas. O legislativo e o judiciário não deveriam ter salários cortados nem nada disto, mas deveriam poder receber o tanto a mais que recebem na medida em que a população recebesse mais. São eles que decidem, no fim das contas, se o salário mínimo vai aumentar e quanto, se um funcionário foi demitido por justa causa ou não em casos controversos, etc., e por isto a sorte da população deveria ser também a sorte deles - mas do jeito que está somos uma casta diferente e inferior, mesmo que ninguém chame isto de casta.

 

Aquilo que surpreenderá a todos pelo fato de poder ter estado oculto quando terá sido o óbvio*


Os mandamentos de Deus parecem difíceis, e pelo visto são mesmo - mas não são difíceis demais.

Eles são palavras ao nosso alcance, em nossas bocas e em nossos corações. Aqui já descobrimos que não é necessário aprender latim, aramaico, grego, sânscrito para aprender estes mandamentos. Se são palavras que já estão em nossas bocas, elas não estão ocultas em textos místicos mais ou menos secretos escritos em uma língua antiga, nem correm o risco de terem se perdido em traduções mal-feitas. 

Que palavras podem ser estas que estão em nossas bocas? Amor, justiça, verdade, bem, liberdade. Tudo isto está nestes mandamentos. E em nossas bocas.

Mas também estão em nossos corações. O que nos falta não é encontrar as palavras (Deus já nos deu), mas sim encontrá-las em nossos corações, porque já estão lá.

Estão em um lugar reservado em nossos corações com os sentidos que Deus quer dar a elas, que não é necessariamente o sentido que nós damos. O que nós procuramos nas análises linguísticas somente encontraremos em Deus - em Deus habitando nossos corações.

Por isto o amor, a verdade, a justiça, a liberdade, etc., parecem às vezes apenas palavras: retiramos elas de algum lugar secreto dos nossos corações e depositamos nelas os sentidos que bem entendemos e depois não entendemos porque elas não "funcionam" e parecem vazias. Parecem vazias porque resta nelas apenas o sentido de Deus, que só pode ser encontrado junto dele, neste lugar secreto habitado por Deus em nossos corações.

Depois de reveladas aos nossos corações, talvez possamos descobrir que eram muito difíceis por causa dos empecilhos que colocamos, e assim reveladas, talvez nem difíceis sejam.

*Citação truncada da última estrofe da letra de Um Índio.

20 de julho de 2020

 

Oração e poesia


Quando eu era poeta, a poesia brotava incessantemente dentro de mim. Ela esbarrava na falta de talento dos meus poemas, é verdade, mas era ela que mantinha eles, mesmo que fragilmente, de pé.
A fonte não secou, mas não sobrou muito mais poesia para brotar. Ela é um recurso valioso só que não renovável, e o que  pinga de poesia hoje em mim levaria um ano para encher uma xícara, ou dez para um poema.

Este sintoma em si é menos dramático do que os dramas passados (mais ou menos resolvidos) para os quais ele aponta - dos quais o maior é estes dramas beirarem o patético.

Depois que o pior passou tudo piorou mais um pouco, mas se tornou suportável (ou menos insuportável) pela oração. Bem, na verdade não se tornou nem mais suportável nem menos insuportável, mas a oração criou condições de para que fosse possível continuar, mesmo insuportavelmente.

Isto desde que eu retomei a oração da Liturgia das Horas, que a princípio não me interessou tanto como oração mas como poesia, e afinal ela não é menos poética por ser antes disto uma oração.

Quando a Samaritana questiona como Cristo vai lhe dar a água viva prometida nos versículos anteriores sem um balde para tirá-la do poço, ele explica que a água que ele vai dar se tornará uma fonte que jorra para a vida eterna - ou seja: quem beber dela terá dentro de si a fonte de água.

Eu encontrei esta relação entre a oração e a passagem da Samaritana no Catecismo (2560-2561) e enquanto eu lia ficou difícil, a princípio, saber se o texto falava sobre oração ou poesia. E aí eu percebi que, rezando, esta água viva que Cristo nos prometeu também é poesia - pena que não vem com talento junto.

18 de julho de 2020

 

Gente insuportável


A humanidade, em termos gerais, é insuportável.

Nós fazemos guerras, destruímos o planeta fazendo de conta que não, excluímos uns aos outros e ainda damos desculpas sexistas, racistas, homofóbicas, religiosas, e se elas não bastarem, o problema é a pobreza.
Além destes males coletivos, as pessoas entre si às vezes não se suportam.

Isto tudo sem contar que muitos de nós não suportam nem a si mesmos.

De tão insuportáveis que somos, nem Deus aguentou e já condenou a humanidade por vezes sem conta.

Mas Deus é Deus, afinal de contas, e não é insuportável como nós. É dele a palavra final sobre a humanidade, e mesmo depois de condenada, ele reconciliou-se com ela por Cristo.

Se até Deus reconciliou-se conosco, ele que não tem a menor necessidade disto, nós também podemos nos reconciliar conosco e entre nós - mas isto só é possível com Cristo. Claro, também é necessário boa vontade, paciência, estas coisas todas que se lê na Bíblia. Mas muito mais do que tudo, Cristo.

17 de julho de 2020

 

A força de Deus


São Paulo não está sugerindo que permaneçamos na fraqueza, mas sim que nossa força seja a de Cristo. Enquanto nossas próprias forças prevalecem não percebemos o quanto elas são insuficientes - e às vezes até o percebemos, mas ainda assim insistimos nelas.

Mas é em nossas fraquezas que damos a oportunidade para que Cristo nos mostre a sua força, que não é como imaginamos, mas como Deus ama.

 

Códigos religiosos



A frase é uma citação da oração sugeria após a reflexão do Evangelho de hoje (Mt 12,1-8), que fala sobre as críticas dos fariseus aos discípulos que colhiam espigas em um sábado, dia de repouso obrigatório pelas leis vigentes, para comer (tanto o texto do Evangelho quanto a reflexão do padre  Luiz Miguel Duarte estão aqui).

E se fala sobre as leis religiosas, também serve para as leis civis. Mas são assuntos que eu não domino - as leis civis e as religiosas. Mas fico pensando nas "leis" que uma pessoa impõe a outra, quando informa que é pecado ir na missa do sábado à tarde quando tem o domingo livre, chegar atrasado ou sair antes do fim da missa, comer antes da missa, usar saia por causa da modéstia, etc.

Nada disso está errado, apesar de tudo. Se a missa começa em tal hora não tem porque chegar quase na hora do "Graças a Deus", a modéstia é uma virtude santa e por aí vai. Mas os experts em doutrina (e devem ser mesmo, pelo menos os que leio pela internet) respondem mecanicamente, citam título, capítulo e parágrafo exatos, dizem o que pode e o que não pode e quem perguntou que se vire!

Não tem problema - pelo contrário, é ótimo - que tenha gente disposta a compartilhar o seu conhecimento de pormenores que a maioria das pessoas não sabe com pessoas que tem a disposição de saber. Mas falta um cuidado, há uma negligência imensa destes respondedores em ir além tanto da pergunta quanto da resposta.

Sem duvidar da boa vontade de quem fica respondendo estas perguntas, responder o que está escrito é uma coisa que até um robô poderia fazer, e até com mais precisão - mas o robô não vai salvar a alma que não tem por instruir tão bem os fiéis em dúvida, a mesma ausência de alma que têm os "sim", "não", "pode" e "não pode" dos respondedores da internet.

Seria melhor pedir o endereço da pessoa e mandar uma cópia do catecismo, ou - melhor ainda - perguntar àquela pessoa quais são as condições dela dentro das quais ela quer fazer ou deixar de fazer isto ou aquilo. Às vezes pode ser só preguiça ou desorganização mesmo, mas quem sabe em que condições vive quem está procurando se informar? Quem poderia saber não se interessa a não ser em responder, quando poderia encontrar alguém com quem compartilhar (nem que seja o pouco que é possível pela internet) um pouco da vida.

As leis eclesiásticas não são um código mais ou menos aleatório de regras e proibições como um jogo de xadrez (ia escrever "jogo de futebol", mas xadrez fica melhor porque também tem bispos); são, como na citação do padre, balizas que devem servir à vida, mas lançadas assim, como respostas de uma faq, servem ao que quer que seja mas não à vida com Deus, que é ao que deveriam servir quando foram escritas.

16 de julho de 2020

 

Santo é o seu nome



O Cântico de Maria tem ecos das maravilhas que Deus fez com Elias no monte Carmelo, em todo o AT, e ecoa, por sua vez, em cada uma das maravilhas que Deus faz por nós cotidianamente.

Maria, concebida sem pecado, é a Mãe de Deus, Nossa Senhora de várias coisas, rainha dos apóstolos e etc., enquanto que Elias (que tornou o monte Carmelo famoso a ponto de atrair os eremitas que muito tempo depois formariam a Ordem Carmelita) tem um peso tão grande a ponto de a profecia da vinda do messias incluir o retorno do profeta.

Mas não foi a imensidão da fé e da santidade de Maria nem de Elias que provocou as maravilhas de Deus - apesar de a fé e a santidade serem, por si só, maravilhas de Deus também.

Deus faz maravilhas porque seu nome é santo, e é pelo seu próprio nome e pela própria santidade que elas são feitas.

Entre nós certamente somos alguns mais dignos, outros menos, alguns mais esforçados e outros menos, enfim, há diferenças entre nós em relação à dedicação a Deus.

Mas o amor - a maior maravilha de Deus - por nós depende apenas dele, que é muito maior do que as nossas maiores barreiras a este amor (o que não deve estimular nossas barreiras, e sim a ver este amor ultrapassando-as).

Assim como todas as suas outras maravilhas, operadas em nós porque "santo é o seu nome".

15 de julho de 2020

 

É a paz que ele vai anunciar.




Anúncios não são novidade: os preços mais baixos, as melhores relações de custo X benefício, promoções-relâmpago, ganhe dinheiro sem sair de casa, etc. Há também declarações sobre a orientação sexual de alguém famoso, denúncias de crimes, continuações de filmes, compra e venda de grandes empresas, sem contar os anúncios menos divulgados porque não são da conta do grande público.

Em meio a tantos anúncios, o salmo deixa a expectativa de um anúncio de Deus: a paz.

Este anúncio já foi feito, com Cristo, que veio anunciar a paz. Mas ele não só já foi feito, como continua a sê-lo. Cristo é o fiador da paz que vemos em pequenas notícias cotidianas que quase nunca se tornam grandes manchetes nos jornais, e em pequenos fatos que podem parecer nem merecer ser anunciados.

E mesmo já tendo anunciado, e prosseguir anunciando-a, Deus ainda irá anunciar a paz. Definitivamente.

Este anúncio, e esta paz, são obra de Deus, e não nossa. Mas mesmo que ele a promova e realize de qualquer jeito, faz diferença para nós participarmos disto ou não. Deus não deixa de fazer o que ele quer fazer, e convida todos a participarem, só que não obriga ninguém.

E quando a paz for anunciada, quem promove a guerra e o conflito deixará o que sempre fez de lado em prol do anúncio de Deus? Melhor que sim, mas no calor do combate estes gladiadores vão interromper seus golpes no meio da execução, abrir mão da vantagem recém-adquirida no meio da luta, ou deixar passar em branco os golpes que sofreram? Haja força de vontade!

Quem já promove a paz - a paz de Deus, e não a paz do silêncio cúmplice, do cemitérios ou da alienação - terá que lidar somente com a surpresa, pois assim como a paz de Cristo surpreende desde a sua crucificação, morte e ressurreição, a paz que ele irá anunciar está além de qualquer coisa que já tenhamos conhecido ou que possamos ter imaginado.