Divagar divagarinho

Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!
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14 de outubro de 2020

 

Migração

O blog está migrando para outro endereço: https://mrcl.wordpress.com/. Por favor, continue acompanhando lá :)


5 de outubro de 2020

 

Precedente paulino

Paulo vive insistindo em suas cartas que é um apóstolo pela vontade Deus e não pela vontade de qualquer outra pessoa. De perseguidor do cristianismo passou a ser o mais fervoroso cristão (um ex-cristofóbico, portanto) depois de ter sido escolhido por Cristo em pessoa!

Eu lembro de ter lido há anos atrás que o bispo Edir Macedo evocou a conversão de São Paulo para legitimar a própria vocação de bispo: aparentemente, na reportagem foi questionado que era a hierarquia católica que deveria dar o aval a um bispo, e aí, se não me falha a memória, ele levantou este precedente paulino. Se São Paulo pode, porque eu também não?

Não tenho a certeza de que Edir Macedo tenha dado esta declaração, pois faz muito tempo que li isto, e não saí procurando pelo Google a reportagem, mas quer ele tenha dito isto, quer não, este precedente paulino costuma ser invocado, não necessariamente fazendo-se uma relação explícita a Paulo, mas ao longo da história houve um considerável número  de pessoas que, assim como o apóstolo, foram chamadas diretamente por Cristo à revelia da Igreja. Nenhuma delas lembra, porém, que mais tarde Paulo encontrou-se com Pedro, e o próprio São Pedro deu o seu aval (que não deve ter sido solicitado por Paulo) em uma de suas cartas, sem contar que este aval já havia sido dado no Concílio de Jerusalém pelos próprios apóstolos, incluindo Pedro.

Não é que Cristo não chame as pessoas, muito pelo contrário. Mas o caso de São Paulo não é um precedente legítimo para nenhum outro caso, ou, pelo menos, não serve como desculpa para ninguém arrogar-se autoridade alguma.

Na carta aos Gálatas, logo no versículo 8 do primeiro capítulo, o próprio Paulo, depois de reafirmar sua eleição por Deus, nega qualquer possibilidade de haver uma outra revelação de Deus diferente da própria revelação do Evangelho, mesmo que um anjo do céu venha fazê-la.

Isto serve, ou deveria servir, para qualquer maluco que pensar ter recebido alguma ordem de Deus, conferir na Bíblia e nos escritos da Igreja se esta ordem está  em conformidade com o Evangelho. Mas serve também para eventuais discípulos destes malucos conferirem se o seu mestre não está chamando suas próprias ilusões de Deus e explorando a boa-vontade tanto dos discípulos quanto do próprio Deus. Se estas revelações divinas incluírem qualquer coisa sexual, então, nem precisa ler nada, venham estas revelações de quem vierem.

Se, por um lado, a Bíblia precisa ser interpretada, por outro lado, já dá para descartar, de antemão, qualquer interpretação que revele que o discípulo deva agradar o mestre, seja sexual ou materialmente. Mesmo a lembrança de 1Tm 5,18 ("o operário merece o seu salário") ou de qualquer outra passagem do Novo Testamento que ampare o sustento de quem trabalha na obra de Deus, não deve deixar de lado de que isto é responsabilidade  de uma comunidade, e não uma cobrança que possa ser feita a um indivíduo específico, muito menos pelo próprio beneficiário.

Aliás, qualquer tipo de exploração, seja ela amparada em uma distorção da Bíblia ou não, já se pode saber de antemão que pode vir de qualquer um, mas não de Deus.


2 de outubro de 2020

 

Santo anjo do Senhor...


 


1 de outubro de 2020

 

Teologia da Libertação, ou quase


 


30 de setembro de 2020

 

Jó 9,8-10

 

A natureza dispensa apresentações no que diz respeito à sua encantadora beleza exuberante que, ainda por cima, é acompanhada de todos os outros benefícios que nos dá além desta beleza. Quem crê em Deus vê em toda esta beleza e neste socorro que a natureza nos proporciona a manifestação de Deus, o que certamente dá um sentido renovado à natureza, à beleza e ao socorro que ela nos presta.

Ocasionalmente o crente procura utilizar-se disto, a beleza da natureza, como um argumento em prol da existência de Deus, especialmente quando tenta convencer algum cético. E pode até ser que aqui e ali ele funcione. No livro Cérebro e Crença o autor, um cético, aliás, narra o testemunho de um cientista, outrora também um cético, que foi forçado a aceitar a existência de Deus diante da visão maravilhosa de uma cachoeira congelada.

Mas, no geral, o crente não percebe que esta associação entre a gloriosa beleza divina e sua manifestação na natureza quase sempre só funciona porque, a princípio, ele já acreditava em Deus e, se esta beleza reforça a sua fé, não foi o que o levou a ela.

A beleza da natureza é só um dos aspectos magníficos dela, e todos eles remetem a Deus justamente para quem crê nele: a proteção, a beleza, o socorro, a força e o poder que chegam até nós pela natureza são reflexos da proteção, da beleza, etc., de Deus, e quem crê nele deveria observá-la mais em prol da própria fé do que em prol da conversão alheia.

Há uma prece, rezada pela Igreja a cada quatro domingos pela manhã, que pede a Deus "mostrai-nos vossa bondade, refletida em todas as criaturas, para contemplarmos em todas elas a vossa  glória." Esta prece resume o olhar cristão sobre a natureza, cuja própria glória é reflexo da glória de Deus, e se não é só isto que nos coloca sob o dever de protegê-la, é a partir disto que se coloca este dever.

Mas a prece se estende a todas as criaturas, o que inclui os seres humanos, seja por também serem parte da natureza (ainda que alguns a destruam), seja por também serem, afinal, criaturas de Deus.

Como nós também somos reflexos desta glória de Deus, o amor-próprio fundamentado nela fica mais bem assentado do que fundamentado em qualquer outra coisa. Você não é reflexo da glória de Deus pelo que faz, e sim pelo que Deus fez (ou seja, você), mas também pode fazer-se reflexo desta glória de Deus em si, e é nisto que consiste o sentido de reencontrar-se.

Além disto, assim como você, o outro, independente de crença ou de qualquer outra condição, também é reflexo desta glória de Deus, e é nisto que consiste amar o próximo - inclusive aos inimigos, e Cristo deixou isto bem claro porque o infeliz o desgraçado o inimigo também é uma criatura de Deus e, pelo menos por isto, digno de ser amado.

Se dependemos da proximidade com Cristo para podermos amar - seja a si, seja aos outros, ver em todos o reflexo da glória de Deus (mesmo em quem tenta escondê-la o quanto for possível) assegura ao olhar que inclua também a dignidade alheia, pois às vezes o que é feito em nome de amar o próximo é justamente o contrário. Todo o amor e o respeito que se tem para com Deus leva, necessariamente, ao amor e ao respeito para com o outro, e se não for assim, a própria religiosidade se transforma em uma obra de ficção de péssima qualidade.


29 de setembro de 2020

 

Uma defesa desnecessária

 





28 de setembro de 2020

 

Fé e circunstâncias

 



25 de setembro de 2020

 

Sacrifícios e injustiças

 


Jesus Cristo sofreu por nós para que este sacrifício saldasse nossas dívidas e ofensas a Deus, então a partir disto, temos o nome limpo diante Dele. Também a partir disto, todo o sofrimento que vivemos é o sofrimento de Cristo, que vivido apenas em nós seria somente um sofrimento inútil e sem sentido, mas atrelado a Cristo (por ele mesmo), este sofrimento passa a ter algum sentido - qual seja, a salvação do mundo.

Eu não sei se os sofrimentos de uma determinada pessoa valem pela salvação dela ou se funcionam mais ou menos como uma vaquinha em que todos contribuem com o seu sofrimento e Deus os redistribui convertidos em graças para quem precisa - ou, ainda, se são as duas coisas; no fim pode ser talvez não seja nada disto e baste saber que nossos sofrimentos estão atrelados ao de Cristo e pronto. 

Se existem santos que procuraram ocasiões para sofrer voluntariamente (como aqueles que pediam a Deus para serem mártires, indo pregar em locais de conflito ou simplesmente indo fazer qualquer coisa em locais onde era arriscado declarar-se cristão), esse exemplo deles, em particular, eu não sigo. Primeiro porque declarar uma covardia requer outro tipo de coragem (lições de poesia aprendidas no Poema em Linha Reta, aqui) e tomara que Deus leve em conta esta coragem em declarar a covardia; mas também eu tenho a impressão de que hoje em dia não é necessário sair correndo atrás do sofrimento, porque ele está a nossa espreita em todos os cantos.

Certamente há os sofrimentos menores, quase patéticos de tão ridículos (como a chave que quebrou na fechadura, e pelo lado de fora; a mistura que roubaram da marmita na geladeira da firma; a água que faltou bem na hora do banho, e ainda por cima religaram depois que a pessoa deu um jeito e já estava saindo de casa; coisas assim sem gravidade ) que, no entanto, podem acumular-se no coração de alguém propenso a guardar nele os sofrimentos, ou até mesmo no de alguém que, sem esta propensão, está numa fase assim.

E há também os maiores sofrimentos, e nem todos dão boas manchetes no noticiário. Qualquer um destes sofrimento está à espreita de qualquer um, e se é verdade que para cada um ele vai ter um peso diferente, também é verdade que no fim é inevitável passar por sofrimentos. Então, por isto, acho que não é necessário sair  correndo atrás de problemas, porque eles já estão por aí nos rondando.

Mas entre todos estes problemas, há aqueles causados por conta das condições sociais estabelecidas em nosso meio: o trabalho precarizado, a violência que os governantes condenam (e às vezes nem isto) ao mesmo tempo em que se omitem em coibir, a seletividade da violência que coíbem quando o fazem, a omissão quanto às mazelas na estrutura da educação e da saúde pública, aliás, a omissão do governo em geral, que agora deixou de ser vergonha mas virou um projeto político para ser implantado, em nome do combate ao comunismo e da eficiência do governo, a extorsão, legalizada ou não, dos preços e dos juros quando os preços caem, a conivência da população com tudo isto, etc.

Quem padece destes sofrimentos, está sofrendo com Cristo e este é o único sentido que é possível dar a eles. Mas sofrer com Cristo não significa deixar que estas condições sociais permaneçam assim, opressoras e homicidas. Quem sofre com a precariedade está se santificando, mas quem promove esta precariedade não está santificando nem aos outros e nem a si mesmo, nem que estivesse fazendo isto na melhor das intenções de santificar os outros (mas muito raramente a perversidade de quem oprime é acidental). Se fosse assim, o príncipe dos apóstolos seria Judas e não Pedro, e os maiores santos seriam os carrascos de Cristo.

Por isto que combater estas estruturas opressivas, e também se policiar para não dar-se licenças pontuais de reproduzi-las nas próprias ações cotidianas, é, como o é viver os próprios sofrimentos juntamente com Cristo, unir os próprios esforços aos de Deus para salvar e redimir a humanidade.


22 de setembro de 2020

 

Super Trunfos religiosos

O IHU publicou uma reportagem sobre a audiência do Papa Francisco com uma comunidade de católicos LGBT onde ele disse (já no título da reportagem): "A Igreja ama os vossos filhos do jeito que eles são, porque são filhos de Deus". Nos comentários da publicação do facebook, não há, felizmente, manifestações particularmente homofóbicas (há um "Esse aí [provavelmente o papa] joga pra torcida. Só não vê quem não quer..." que não chega a ser necessariamente homofóbico, mas levemente "franciscofóbico", o que é mais ou menos o assunto deste post).

Na verdade o motivo deste post é outro comentário, que diz "Papa repete o Catecismo da Igreja Católica redigido por Ratzinger e promulgado por João Paulo II." Ainda que diga uma coisa óbvia, pode muito bem ser um comentário de apoio a um papa que não só remete à fidelidade à doutrina, como reconhece que o papa Francisco continua fazendo o mesmo trabalho e seguindo na mesma linha dos dois papas anteriores, como todos os papas, por sinal.

Mas eu me acostumei a compreender o jeito que as pessoas se referem a Bento XVI como uma indicação de apoio ou crítica (com grandes riscos de estar errando na avaliação, é claro): apoiadores (quase sempre conservadores e saudosos da Igreja das catacumbas) se referem a ele pelo nome papal, críticos, por Ratzinger, um nome associado (na minha imaginação fértil) à perseguição à teologia da libertação, a Leonardo Boff, à Congregação para a Doutrina da fé enquanto sucessora do Santo Ofício, etc. Então eu interpretei este comentário como uma crítica a Bento XVI e, por extensão, a João Paulo II, ao papa Francisco e também ao catecismo.

Já li em algum lugar (e acho que foi em outro artigo do IHU) que o atual catecismo da Igreja está impregnado da mentalidade retrógrada e conservadora de Bento XVI, mentalidade que contava com a simpatia e o apoio de João Paulo II, e o exemplo era a condenação à masturbação, no parágrafo 2352 do catecismo, como um pecado grave.

Eu não sei sobre a mentalidade retrógrada de Bento XVI e a simpatia de JPII, mas arrisco dizer que o primeiro é contraditório e complexo como todo mundo o é, liberando missas em latim para delírio dos conservadores, e renunciando para surpresa de todos, numa atitude nada conservadora, por exemplo. E João Paulo II é um personagem ainda mais complexo. Acho estes posicionamentos pró-um-papa ou anti-outro-papa um tanto quanto rasos superficiais limitados aborrecedores, porque isto vira um jogo de Super Trunfo que funciona bem com aviões ou carros, e mais ainda na sua melhor evolução, que foi Pokémon, mas não com figuras como papas ou padres (porque há também o Super Trunfo dos padres, que faz uma disputa entre "cartas" como Júlio Lancelotti e Fábio de Melo, por exemplo). Só que eu não queria escrever sobre papas e padres, e sim sobre o meu Super Trunfo particular, o arriscado Super Trunfo dos pecados (pois sempre há o risco de errar a avaliação, mas como eu não vou ser lembrado no futuro pelas minhas avaliações corretas sobre coisa nenhuma, é um risco  que eu já assimilei).

Masturbação e homossexualidade são pecados sim, mas não há nada na doutrina da Igreja que sirva para justificar a homofobia ou acusar a Igreja de um preciosismo como combater a masturbação, a não ser na medida em que qualquer pecado, seja ele um homicídio ou um palavrão, deve ser combatido. Só que ao mesmo tempo em que nenhum pecado é defensável, há pecados piores (e outros ainda muito piores) e pecados menos relevantes. Em algum lugar do catecismo, e eu não vou ir lá procurar agora o parágrafo, há esta distinção entre graus de gravidade dos pecados e, também, entre circunstâncias agravantes e atenuantes de um mesmo pecado, com a ressalva de que não se deve negligenciar os pecados mais irrelevantes por um motivo que pode ser resumido no ditado "de grão em grão, a galinha enche o papo".

Estes dois pecados servem como exemplo de como é possível distorces a doutrina em favor de um preconceito ou de outro, pois não há nada no catecismo que condene ao inferno nem homossexuais, nem quem se masturba.

No já mencionado parágrafo 2352, a masturbação é uma grave desordem que não tem como ser uma coisa positiva; no parágrafo 2357 os atos homossexualidade são  qualificados como "intrínsecamente desordenados". Como Deus se chama (citando não sei qual vídeo do Porta dos Fundos) "Deus e não bagunça", qualquer desordem é algo a ser evitado. Mas nem a inclusão da masturbação na lista de pecados justifica uma campanha contra uma desordem (no máximo, justifica organizar o que está bagunçado, e o perigo que há na masturbação consiste justamente em deixar tudo sem resolver), nem muito menos a desordem dos atos homossexuais justifica as cruzadas anti-LGBT que se promove "em nome" da doutrina e da virtude.

A pornografia, por exemplo, "é um grave atentando contra a dignidade das pessoas" (no parágrafo 2354), e a fornicação, "gravemente contrária à dignidade das pessoas" (no parágrafo 2353), ou seja, contrariedades graves à dignidade são piores do que desordens, pelo menos dentro dos meus achismos, que, aliás, são o fundamento deste texto. Por isto fica difícil explicar que haja tanta atenção para uma falácia como a "cura gay" e não exista uma mobilização tão grande e espalhafatosa contra algo muito pior (um "grave atentado") como a pornografia, a não ser a instrumentalização da doutrina em nome de um preconceito, o que dá apenas um verniz religioso a uma atitude criminosa e contrária ao cristianismo.

No fim das contas, a Igreja e a sua doutrina acabam servindo para fins completamente alheios aos de Cristo, que afinal é a origem dela, e os cruzados conservadores não percebem o quanto são aliados de quaisquer detratores da Igreja (que eles sonham estar defendendo contra as trevas, o que é um trabalho de Cristo e não de qualquer outra pessoa), pois atribuindo-se a condição de paladinos da sã doutrina,e da moral, deturpam estas duas coisas e, embora justifiquem as críticas contra a Igreja, aumentam e alimentam estas críticas mais ou menos como o combustível alimenta um incêndio.


21 de setembro de 2020

 

De onde menos se espera...


Há muitos meios de ser uma pessoa desprezível: trair o povo, enriquecer por uma atividade em que a corrupção é generalizada, ou ser responsável por cobrar os impostos para o governo, por exemplo. E São Mateus conseguiu ser uma pessoa desprezível por todos estes meios.

É verdade que os traidores, os corruptos e quem arrecada impostos recebe afagos, seja daquele que se beneficiou de uma traição, seja quem lucra com a corrupção (que dificilmente é um ato solitário) ou com o dinheiro arrecadado. Mas são afagos pontuais, ao contrário da vileza cotidiana apontada pelos outros.

Exceto por posturas políticas indefensáveis (como a relativização de coisas como o racismo ou a homofobia, por exemplo), em ambos os lados políticos há gente desprezada apenas por seu pensamento político (no mínimo, o desprezo do lado antagônico). Também há condições pessoas que podem levar alguém a ser injustamente desprezado - para aproveitar o exemplo dos parêntesis acima, os negros e os homossexuais, e também as mulheres, os imigrantes, os idosos, etc. Há pessoas desprezadas por algum defeito físico, ou por extrapolarem os padrões inalcançáveis de beleza, por causa do status social, etc. 

Na lista acima é possível perceber a diferença que há entre ser desprezado e ser desprezível: uma posição política, uma diferença com qualquer padrão ilusório de como se deve ser, podem levar ao desprezo alheio; já São Mateus certamente era alguém desprezível pela atividade que exercia.

Embora o Barão de Itararé tenha eternizado a ideia de que de onde menos se espera, daí é que não sai nada, mesmo alguém tão baixo como São Mateus (embora este apequenamento dos publicanos tenha sido marcado em Zaqueu, tão baixo que precisou subir em uma árvore para conseguir ver a Jesus) foi capaz de converter-se e se tornar não só um apóstolo, mas também um Evangelista (um círculo ainda mais restrito do que o dos apóstolos); praticamente um integrante da nata celestial, uma surpresa para quem não tinha a menor perspectiva de ser lembrado no futuro, a não ser anonimante como integrante de uma classe  desprezada. 

Mesmo que ele não tenha roubado ninguém, ainda assim era  uma espécie de pelego (pelo menos no sentido de que trabalhou, antes de ser chamado por Cristo, para os opressores). Isto também reforça que, mesmo se tratando de pessoas desprezíveis, elas não devem ser desprezadas (embora suas posturam devam ser combatidas), quanto mais não se deve desprezar quem quer que seja por puro preconceito,


19 de setembro de 2020

 

A verdade na Bíblia


Estes erros e contradições demonstram que a Bíblia foi escrita por seres humanos, e como este fato não elimina a sua inspiração divina, é necessário esclarecer quais são os limites deste texto que Deus escreveu utilizando as limitações dos seus autores inspirados.

O propósito da Bíblia é a salvação das almas, e não oferecer um guia prático para o dia a dia. «À luz do que foi exposto [outras considerações do autor, incluindo as listas com erros bíblicos que eu copiei ao longo desta semana] deve-se distinguir não somente entre ignorância e erro, mas também entre verdade histórica e científica e verdade salvífica na Bíblia … É antes a segunda, a verdade salvífica, que constitui o propósito imediato da Bíblia.» (Eduardo Arens, A Bíblia sem mitos: uma introdução crítica, p. 232).

É verdade que a Bíblia não contém erros, mas esta inerrância vale apenas para a verdade salvífica que era o objetivo de Deus ao inspirar seus autores a registrarem estas inspirações – e eles o fizeram segundo os dados que possuíam, utilizando os recursos que havia à mão, expressando-se através de ideias e imagens próprias do tempo em que viviam, e estas ideias e imagens se tornaram ideias e imagens da salvação.

A Bíblia não é uma fonte de informação: se por um lado ela oferece certeza absoluta a respeito da verdade salvífica, por outro, quando acerta em outras áreas é mais por uma coincidência involuntária do que pelo mérito de seus autores.

E mesmo no que diz respeito à verdade salvífica, a Bíblia tem limites: tudo o que está escrito nela é verdade, no que diz respeito à salvação que Deus nos oferece, mas a verdade salvífica não está inteiramente registrada nela, e sim a parte que é o essencial para a salvação (cf. o mesmo livro, p. 233).

Fixar estes limites não diminui o tamanho da Bíblia, mas preserva-a de ser dilapidada para fins completamente alheios ao seu escopo salvífico.

É necessário crer na Bíblia, mas além da Bíblia há a Igreja, e além das duas, a consciência. Somente uma ou duas destas instâncias levam a fanatismos variados. O livre acesso à Palavra de Deus pressupõe a livre interpretação da Palavra, mas fixar-se na própria interpretação sem levar em conta a interpretação da Igreja é tão obtuso quanto aceitar a interpretação da Igreja como se ela tivesse recebido diretamente das mãos de Deus no Sinai. Não que o esclarecimento da Igreja não seja proveniente de Deus, pois é Deus que revela à Igreja o que ela proclama, mas ainda que a Igreja seja inspirada por Deus, esta inspiração recai sobre seres humanos, que devem discernir a inspiração que recebem tanto quando qualquer um de nós deve discernir a verdade que recebe da Igreja. Mais ou menos como o som precisa de um meio para se propagar, tanto a Bíblia quanto a Igreja são o meio pelo qual a voz de Deus se propaga.




18 de setembro de 2020

 

Divergências entre conceitos teológicos na Bíblia*


 Por favor leia também o alerta depois do fim da lista :)

«Como se tudo isto [as listas das outras três postagens anteriores desta semana] fosse pouco, a bem da verdade, deve-se reconhecer que existe uma série de textos e de conceitos teológicos divergentes na Bíblia, que são mais chocantes. ... Vejamos alguns exemplos [retirados do livro A Bíblia sem mitos: uma introdução crítica, de Eduardo Arens, das páginas 222 e 223]:

* Nenhuma destas incoerências, discrepâncias, contradições e erros da Bíblia serve para fundamentar qualquer acusação de ilegitimidade da Bíblia, mas sim para fundamentar a necessidade do estudo do contexto no qual cada texto foi redigido, partindo do pressuposto de que nosso conceito de "verdade" contemporâneo implica a coerência entre o dado empírico e o que se diz dele, enquanto que no tempo em que os textos foram redigidos (depois de terem sido, em alguns casos, transmitidos oralmente), "verdade" implicava na autenticidade, ou seja, na ideia de ser "fiel, estável, merecedor de confiança", conforme o que o autor diz na página 214 deste mesmo livro de onde copiei a lista.


17 de setembro de 2020

 

Incoerências entre coisas ditas por Deus na Bíblia*

Por favor leia também o alerta depois do fim da lista :)

«... alguns exemplos de discrepâncias entre textos nos quais supostamente Deus teria revelado algo que, depois de tudo, resulta incoerente com outra revelação ou informação [retirados do livro A Bíblia sem mitos: uma introdução crítica, de Eduardo Arens, das páginas 220 a 222].

* Nenhuma destas incoerências, discrepâncias, contradições e erros da Bíblia serve para fundamentar qualquer acusação de ilegitimidade da Bíblia, mas sim para fundamentar a necessidade do estudo do contexto no qual cada texto foi redigido, partindo do pressuposto de que nosso conceito de "verdade" contemporâneo implica a coerência entre o dado empírico e o que se diz dele, enquanto que no tempo em que os textos foram redigidos (depois de terem sido, em alguns casos, transmitidos oralmente), "verdade" implicava na autenticidade, ou seja, na ideia de ser "fiel, estável, merecedor de confiança", conforme o que o autor diz na página 214 deste mesmo livro de onde copiei a lista.