Divagar divagarinho

Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!
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25 de novembro de 2007

 

Eu enquanto pessoa ridícula

Sempre existem sobre uma pessoa no mínimo duas perspectivas: a da própria pessoa e a dos outros. “Perspectivas” porque, no final das contas, nem uma nem outra têm maior valor, nenhuma das duas é mais verdadeira; “no mínimo”, porque falo de duas perspectivas só para facilitar, pois acho difícil alguém ter sobre si somente uma perspectivas, e todas as outras pessoas dificilmente terão, todas elas, a mesma perspectiva sobre a mesma pessoa. “Perspectiva”, novamente, porque é somente uma opinião, uma posição, concepções relativas, que se tornam “verdadeiras” por serem aceitas como tal (não quero dizer, com isso, que não existem verdades, não defendo um relativismo total, pelo contrário: existem verdades, existem coisas sobre as quais pode-se descobrir verdades, existem opiniões, existem coisas sobre as quais somente pode-se construir opiniões; mas tanto as verdades e as opiniões quanto as coisas que podem ser verdadeiras ou subjetivas, somente são aquilo que se aceita que são; “o sol nasce”, por exemplo, é uma verdade, mas não é que o sol ou o seu nascimento diário “emane” uma verdade, e sim aceita-se que é verdade que o sol nasce, da mesma maneira, achar a Marília Gabriela linda é somente uma opinião, porque aceita-se que beleza é uma questão de gosto – e “gosto” é uma questão muito importante – que varia segundo cada pessoa).
Assim, a opinião, a perspectiva que as pessoas tem sobre alguém é somente uma opinião, assim como a opinião que alguém tem sobre si é, também, somente uma opinião. Em geral é mais saudável uma pessoa levar mais em conta a própria opinião sobre si (até mesmo fazer dela uma verdade, caso isso seja mais efetivo) do que a opinião alheia (“não é possível agradar gregos e troianos” diz o ditado), mas a opinião alheia, de uma maneira ou de outra, em maior ou menor grau, é significativa.
Considerando isso, chegamos a mim – que sou o assunto mais interessante deste blog. Alguém pode não me achar interessante, eu sei, e “alguém”, no caso, é a maioria; mas eu aceito as conseqüências disso, que são registrar o menor número de visitas no maior tempo possível (talvez seja um recorde) continuamente, quando o ideal de um blog, me parece, seria registrar o maior número de visitas no menor tempo possível, continuamente.
Uma visão panorâmica sobre mim: uma pessoa ridícula.
Pelo menos é um panorama rápido. Mas se você não entendeu, eu explico: é só um aspecto meu, que é o aspecto do qual quero falar. Isso quer dizer “não pense que eu me resumo a ser uma pessoa ridícula” – e não quero que você pense, por causa do último entre aspas, que meus outros aspectos sejam menos ridículos, ou mais legais. Só quero dizer que restrinjo o assunto a mim enquanto pessoa ridícula (“mim enquanto pessoa ridícula”, aliás, é uma construção frasal ridícula, digna do assunto do texto – e por isso também é o título desse texto).
Mas eu sou uma pessoa ridícula, veja bem, na opinião alheia. Para mim, sou uma pessoa interessantíssima, com detalhes contraditórios, espaços mal-ajustados, coincidências surpreendentes, méritos inigualáveis, deméritos colossais, etc. Como todas as pessoas, aliás, e é isso que faz com que as pessoas sejam interessantes para mim.
Simone de Beauvoir adorava mulheres (no sentido mais sexual possível) mas nunca admitiu isso: logo ela que derrubou o grande Castelo do Machismo (que todavia ainda refugia-se muito bem dentro de pequenas e odiosas construções) com um livro, não conseguiu chutar a pedrinha da sua bissexualidade (e, maldade minha, sempre me pergunto se era por realmente gostar de homens que ela amou um tão feio quanto Sartre, ou se ficar com um cara tão feio seria sinal de que o negócio dela mesmo era mulher). Heidegger foi nazista e se apaixonou por uma judia, depois largou o nazismo e a judia. São exemplos de pessoas famosas, mas as pessoas comuns são ainda mais interessantes.
Eu sou, também, uma pessoa comum – portanto, muito interessante. Mas essa é a minha visão. Minhas dúvidas e inseguranças, minhas crenças e descobertas, são ridículas para as outras pessoas. E incríveis para mim. A maneira como penso, como me comporto, são como eu sou, e simplesmente não posso fazer nada, nem pela opinião das outras pessoas, e nem pela minha.
Talvez o meu mal seja pensar assim: se você não gosta de mim, que pena, eu gosto. Isso somente me traz complicações quando a frase é “se você não gosta de mim, que pena, eu gosto de você”. Claro que me traz complicações desde que a maneira como eu sou seja intolerável, desagradável ou incômoda para as outras pessoas de quem eu gosto. Acho que tanto quanto gostar, eu deveria aprender a desgostar das pessoas. É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, mas também é preciso aprender a não gostar delas, quando necessário. Tim Maia se arrependeu de ter exortado as pessoas a seguirem o caminho do bem (embora sejam músicas ótimas). Devia ter dito que seguissem algum caminho, e aprendessem a escolher seus caminhos de acordo com seus próprios critérios.
Desta maneira é que eu aceito que sou uma pessoa ridícula: respeito vossa opinião. Uma das maiores pragas da vida – da qual não sei se quero me livrar, porém – é respeitar (ia dizer “amar” mas não seria sinceridade minha) a liberdade. Não é nenhuma afirmação heróica, e nem o contrário. É, como qualquer posição, apenas uma.
Você pode amar sua liberdade: que bom. Mas isso quer dizer que você ama a si: o que é ótimo. Mas amar sua liberdade não é amar a liberdade. Amar a liberdade é colocar a liberdade acima da sua própria liberdade. Explico-me: eu, tanto quanto você, posso fazer qualquer coisa; qualquer coisa mesmo (meio à la Sociedade Alternativa: “faze o que tu queres pois é tudo na lei”). Se eu prezo mais a minha liberdade do que a liberdade (será que eu deveria escrever “Liberdade”?), eu vou escolher a minha própria, caso ela entre em conflito com a liberdade alheia; se eu prezo mais a liberdade, eu vou prezar tanto a minha quanto a sua.
A minha preferência recai sobre a segunda alternativa. Só não posso dizer que amo a liberdade porque eu não tenho um compromisso assim tão grande com a liberdade alheia. Além de tudo sou irresponsável.
Por causa disto que, quando alguém me toma por uma pessoa ridícula, sei que é uma idiotice desse alguém. Mas não me explico, nem me defendo: pense de mim o que quiser, é um país livre (força de expressão). Eu deixo: deixo as pessoas pensarem o que quiserem de mim. E como a voz do povo é a voz de deus, deus diz “tu és uma pessoa ridícula”. Quem sou eu para querer calar a voz do povo?!?
Disse isso tudo apenas para explicar de que maneira e porquê eu posso me dizer uma pessoa ridícula. Pois só o que eu tinha para postar era isso:
Eu sou mesmo uma pessoa muito ridícula.

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