Divagar divagarinho

Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!

19/09/2024

 

Mora na filosofia

Eu comecei a escrever neste blog lá pelo início dos anos 2000 (eu nunca entendi muito bem a lógica da contagem dos séculos, mas acho que foi, portanto, no início deste século) porque parecia mais prático e econômico do que a máquina de escrever, que precisava ir atrás de fita, guardar papel, arranjar papel e por aí vai.

Na época eu estava lendo Mil Platôs e pensava em mim mesmo mais ou menos nos termos com que Deleuze e Guattari escreveram o capítulo platô Quem A Terra Pensa Que Ela É?, estratificado em regiões na vertical e na horizontal², com regiões algumas vezes limítrofes, outras vezes distantes entre si, algumas mais conhecidas e outras mais desconhecidas, às vezes relacionadas entre si e às vezes não (sem contar as regiões apenas obliquamente relacionadas entre si, etc) e etc de novo. Por isso o endereço virou “minhageografia” - e porque uma amiga minha cursava geologia, então eu não iria me meter a besta com a área dela³.

As idas e vindas do blog refletem desde depressão⁴ até ter me ferrado um período de quase absoluta falta condições materiais, passando por fases em que ler, escrever ou as duas coisas perderam completamente o sentido, fases de bloqueio criativo (não que o fim do bloqueio tenha trazido a criatividade, enfim, é mais no sentido figurado), falta de tempo, ter esquecido que o blog existe, numa lista não exaustiva.

O retorno atual, que eu espero que se estenda para além desta postagem, tem a ver com… eu não sei.
Eu gosto de escrever⁵ e sinto falta disto. Às vezes esse sentir falta funciona como quando se está com fome mas não se identifica que se está com fome, aí o mau-humor, a fraqueza, a agressividade parecem não ter origem conhecida. Então talvez certos sintomas (não necessariamente os mesmos de sentir fome, mas também não necessariamente diferente) que eu tenha percebido ultimamente possam ser isso. Então talvez esse seja o motivo do retorno atual, mas não é uma resposta definitiva: ainda não abri mão do “não sei”.

O título é uma parte da letra de Filosofia do Samba. A imagem é de Lo Sarno no Unsplash.

¹ Fui ver no pdf e o título do capítulo platô é 10.000 a.C. - A Geologia da Moral (Quem a Terra Pensa que é?). É um livro dividido em 5 partes (não sei também é dividido assim no original em francês, embora eu já tenha sabido um dia) e os capítulos do livro não são capítulos, e sim platôs, de acordo com o “manual de instruções” do livro (que tem mais algumas orientações como, por exemplo, a de que tanto faz a ordem de leitura dos capítulos platôs, exceto o primeiro que deveria ser lido primeiro, e o último que deveria ser lido depois de todos os outros).
² Não lembro direito do que está escrito lá, então estou escrevendo o que eu lembro do que eu pensava de mim mesmo quando comecei esse blog, e não o que Deleuze e Guattari escreveram, nem o que eu lembro do que eles escreveram ou a minha interpretação disso.
³ Apesar de tudo acho que ela nunca chegou a ter o menor conhecimento da existência desse blog.
⁴ Autodiagnosticada.
⁵ O que é diferente de saber escrever.




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