«De muitas pessoas também saíam demônios, gritando: “Tu és o Filho de Deus”. Jesus os ameaçava e não os deixava falar, porque sabiam que ele era o Messias.» (Lc 4,41)
Quem pode nos libertar com a verdade é Deus. Não somos suficientemente livres para nos libertarmos, nem conhecemos o suficiente para conhecer a verdade. Nem sempre parcialidade significa ser tendencioso: às vezes, como neste caso, somos parciais na medida em que conhecemos a verdade parcialmente. A existência de Deus é uma verdade, por exemplo, mas não é toda a verdade, e aí podemos avançar até a Trindade, a divindade-humanidade de Cristo que é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade e, daí, percorrer toda a doutrina da Igreja que é, toda ela, verdade, mas não é, ela, toda a verdade.
Não é um princípio que deva servir para encontrar as verdades extra-doutrinais, pois Deus não deixou cacos de uma verdade despedaçada distribuídos aleatoriamente pelo mundo, mas é um princípio que serve para termos cuidado com a verdade.
Mentir é um pecado e não mentir é ter cuidado com a verdade, e portanto, é óbvio (além de repetitivo), falar a verdade também é ter cuidado com a verdade.
Eu li aqui uma boa explicação de porque Jesus impedia os demônios de falarem que ele é o messias: os judeus da época esperavam um messias político, mais ou menos como o que os eleitores do Bolsonaro esperam dele, o salvador dos valores judaico-cristãos, ou algo parecido; mas Cristo, que realmente era o messias e nisto os demônios estavam falando a verdade, não oferece uma salvação política, e definitivamente não é militante de nenhum partido, e nisto a verdade que os demônios falvam confundia mais do que esclarecia.
Por mais que a verdade não deva ser escondida, e sim pelo contrário, deva ser proclamada, é necessário verificar bem porque certas verdades são ditas. Denunciar o pecado, por exemplo, é necessário, mas quais pecados estão sendo denunciados em detrimento de quais outros? Um pecado homossexual é pior do que uma fornicação heterossexual? Os pecados sexuais desqualificam as virtudes dos pecadores? E o pecado da ganância pode ser mais tolerável que os sexuais desde que o ganancioso pague o dízimo regularmente, seja em prol da construção de um santuário ou da alimentação dos pobres?
Eu também não sei. Mas sei que a verdade realmente liberta, como a luz que ilumina o caminho. Quando ela é proclamada como uma lança para machucar o outro, porém, apesar de ela não deixar de ser verdade (assim como Cristo não deixou de ser o Messias dependendo de quem o proclamasse), ao invés de iluminar, fere. E quando fere, se torna apenas um instrumento de dor. É verdade que Deus nos ensina, às vezes. pela dor, mas isto porque ele é Deus e sabe curar a ferida para uma condição melhor ainda do que a anterior. Algum de nós tem autorização de Deus para fazer o outro sofrer por algum motivo nobre?
Toda verdade jogada na cara com um tapa serve, provavelmente, apenas para satisfazer os desejos medonhos de quem a jogou, mas se Deus pode transformar até essa dor em salvação, isto não significa que quem a jogou tenha feito isto em nome de Deus. Significa apenas que transformou a verdade, iluminada e bela, em mesquinhas mini-certezas (vamos pedir piedade).
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