Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!
Estes erros e contradições demonstram que a Bíblia foi escrita por seres
humanos, e como este fato não elimina a sua inspiração divina, é
necessário esclarecer quais são os limites deste texto que Deus escreveu
utilizando as limitações dos seus autores inspirados.
O
propósito da Bíblia é a salvação das almas, e não oferecer um guia
prático para o dia a dia. «À luz do que foi exposto [outras
considerações do autor, incluindo as listas com erros bíblicos que eu
copiei ao longo desta semana] deve-se distinguir não somente entre
ignorância e erro, mas também entre verdade histórica e científica e
verdade salvífica na Bíblia … É antes a segunda, a verdade salvífica,
que constitui o propósito imediato da Bíblia.» (Eduardo Arens, A Bíblia
sem mitos: uma introdução crítica, p. 232).
É verdade que a
Bíblia não contém erros, mas esta inerrância vale apenas para a verdade
salvífica que era o objetivo de Deus ao inspirar seus autores a
registrarem estas inspirações – e eles o fizeram segundo os dados que
possuíam, utilizando os recursos que havia à mão, expressando-se através
de ideias e imagens próprias do tempo em que viviam, e estas ideias e
imagens se tornaram ideias e imagens da salvação.
A Bíblia não é
uma fonte de informação: se por um lado ela oferece certeza absoluta a
respeito da verdade salvífica, por outro, quando acerta em outras áreas é
mais por uma coincidência involuntária do que pelo mérito de seus
autores.
E mesmo no que diz respeito à verdade salvífica, a
Bíblia tem limites: tudo o que está escrito nela é verdade, no que diz
respeito à salvação que Deus nos oferece, mas a verdade salvífica não
está inteiramente registrada nela, e sim a parte que é o essencial para a
salvação (cf. o mesmo livro, p. 233).
Fixar estes limites não
diminui o tamanho da Bíblia, mas preserva-a de ser dilapidada para fins
completamente alheios ao seu escopo salvífico.
É necessário crer
na Bíblia, mas além da Bíblia há a Igreja, e além das duas, a
consciência. Somente uma ou duas destas instâncias levam a fanatismos
variados. O livre acesso à Palavra de Deus pressupõe a livre
interpretação da Palavra, mas fixar-se na própria interpretação sem
levar em conta a interpretação da Igreja é tão obtuso quanto aceitar a
interpretação da Igreja como se ela tivesse recebido diretamente das
mãos de Deus no Sinai. Não que o esclarecimento da Igreja não seja
proveniente de Deus, pois é Deus que revela à Igreja o que ela proclama,
mas ainda que a Igreja seja inspirada por Deus, esta inspiração recai
sobre seres humanos, que devem discernir a inspiração que recebem tanto
quando qualquer um de nós deve discernir a verdade que recebe da Igreja.
Mais ou menos como o som precisa de um meio para se propagar, tanto a
Bíblia quanto a Igreja são o meio pelo qual a voz de Deus se propaga.