Divagar divagarinho

Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!
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17 de agosto de 2020

 

Fé dogmática



A modernidade trouxe a humanidade à razão com a mesma falta de critérios que a geração anterior teve com a religião. Não que razão e religião sejam duas faces da mesma moeda, mas tanto a razão quanto a religião, usadas ou vividas sem critérios, se transformam (figuradamente) em armas de destruição em massa.

Se a religião antigamente pecava (como força de expressão) por negar a razão, a modernidade peca (idem) por negar a religião. A cristandade (no ocidente, bem como Islã e o judaísmo no Oriente Médio) pagaram pela negação. A modernidade também.

Quanto mais a modernidade tenta varrer a religião para baixo do tapete como se fosse o resto do lixo deixado pelas gerações anteriores, mais o ímpeto religioso reage convulsivamente vivendo à margem das estruturas da modernidade, causando uma outra reação convulsiva racional (que tem seus espasmos apesar da aparente frieza), ambas as reações dirigidas uma contra a outra, e assim ambas dão-se as mãos na cultura de morte.

A Igreja Católica (que não é a única religião, mas é a que eu mais conheço mal - porque as outras eu conheço pouco e conheço mal) tem entre suas doutrinas os dogmas que eventualmente podem despertar sentimentos de repulsa nos dias atuais, ou desprezo, talvez escárnio, também. Mas são estes dogmas que impedem que a religião na Igreja se torne um instrumento de opressão - a condição de pecadores é um dogma, por exemplo, esquecido por pessoas como Torquemada ou os cruzados que, agindo como paladinos da justiça divina, apenas confirmaram o dogma em suas ações, o que ao menos deveria servir para relembrá-los disto.

Que o aborto seja um pecado é inegável, mas a frente anti-aborto não lembra, ou talvez não saiba, que também é composta por pecadores tão pecadores quanto seus oponentes. Seus meios de atuação, mesmo bem-intencionados nos seus fins, trazem à tona outra doutrina católica (que não sei se é dogmática - mas nem tudo precisa ser dogma para estar correto) que diz que os fins não justificam os meios.

Assim como é pecado abortar, o terrorismo também é. Deus que é Deus todo-poderoso age na base do amor e não do terror, e poderia, sendo Deus todo-poderoso, tocar o terror se quisesse. Se por um lado é verdade que a mera consciência (do dogma) de que somos pecadores, por si só, não serve para corrigir ninguém, serve como ponto de partida para, ao menos, questionar se a cruzada moral em que nos envolvemos está dentro de parâmetros religiosos e racionais aceitáveis. Particularmente no que diz respeito à religião, São Paulo, uma espécie de Tony Stark apostólico (se os apóstolos fossem os Vingadores), foi lá e conversou com os hereges, pagãos e descrentes de todo o tipo - e não consta  que foi formar um cordão de isolamento em volta dos templos pagãos.

A razão é, apesar de parecer o contrário, muito mais bem distribuída do que a religião (outra doutrina católica: Deus deu a capacidade da razão a todos os seres humanos junto com a vida), pois a religião, mesmo que possa ser esboçada pela razão, precisa ser revelada (pois do contrário continua sendo razão). Isto significa que é mais fácil religiosos serem racionais do que o contrário - ou talvez menos difícil, pelo menos.

Embora os dogmas sejam revelações extraídas da Palavra de Deus, não são inferências racionais, e por isto são dogmas, ou seja, verdades (como as verdades racionais) mas de fé. E se os dogmas fossem um pouco mais bem conhecidos e estudados, especialmente pelos fiéis religiosos, isto evitaria cenas como as do domingo passado.

Se as verdades (dogmáticas) religiosas tem precedência sobre as verdades da razão, isto não significa que (com raras exceções entre as quais não se conta o terrorismo) quem conhece e acredita nas verdades religiosas tenha autorização para agir como animais irracionais. Por mais que conheçamos a verdade, a conhecemos "como se víssemos por um espelho" (parafraseando 1Cor 13,12), e isto, já que a caridade parece não servir como argumento, deveria servir para que "o bom combate" contra o pecado seja feito com prudência, e não se servindo de pecados para combater outros pecados.


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