Divagar divagarinho

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4 de agosto de 2020

 

Cura d'Ars




São João Batista Maria Vianney queria ser padre desde pequeno, mas só pôde estudar na adolescência, por dois anos, quando aprendeu o francês (pois sua família falava em um dialeto regional), teve a oposição do pai, dos jacobinos e dos homens de Napoleão, que queriam soldados e não padres.

Apesar disto, conseguiu entrar no seminário - mas não encerrou sua saga repleta de obstáculos: lá ele era considerado um camponês rude incapaz de aprender teologia e filosofia, portanto aprendeu apenas história, geografia e aritmética; foi reprovado nos exames e só foi ordenado graças à intervenção do seu mentor, mas mesmo assim, impedido de ouvir confissões, uma atribuição que julgaram acima das capacidades dele.

Depois da morte do seu mentor, permitiram que o padre pudesse passar a ouvir confissões, e se tornou um ouvinte de confissões tão brilhante que se formavam filas e mais filas de gente querendo se confessar com ele, a ponto de se tornar necessária a criação de um sistema de transporte entre Ars, sua cidade, e Lyon, para comportar o deslocamento das massas que seu brilho como confessor criara.

A falta de estudos, a oposição do pai, a perseguição napoleônica, a falta de reconhecimento dos educadores, o insucesso nos exames, o impedimento dos superiores, nada disto impediu que o santo Cura d'Ars (o apelido de Vianney) se tornasse quem ele quis ser: um padre e confessor.

Isto prova que, na vida, só não vence quem não quer, quem não corre atrás, quem não se dedica àquilo em que acredita, e que a força de vontade só pode ser impedida por quem a possui, mesmo que culpe os outros.

Só que não é bem assim.

Responsabilizar a pessoa que fracassou pelos seus fracassos (cuja culminância é culpar a vítima, já que ambas as coisas dão no mesmo, apenas em proporções diferentes) é uma técnica muito eficiente para iludir as pessoas com a solução que algum iluminado (seja por Deus ou por quaisquer forças mais ou menos místicas) apresenta logo após convencer seu interlocutor que a culpa é deste. Esta falsa atribuição de culpa joga com meias-verdades, pois quem fracassou realmente cometeu algum erro, mas não se fala dos erros cometidos no caminho ao sucesso (não erros de competência, mas as coisas erradas que podem levar ao sucesso); realmente quem quer vai atrás, mas para muitas pessoas faltam o equivalente a pernas para ir, desde infraestrutura material, como dinheiro ou acesso aos locais onde está o que é necessário, até estrutura emocional - sem contar quem é preterido pelas estruturas sociais, veladamente ou não; realmente quem quer consegue, mas quem não deseja pagar o preço da maldade, a quem deveríamos exaltar, torna-se exemplo de fracasso.

Eu também tenho a solução, pois se todos podem apresentar os seus pulos do gato, eu também posso, e já adianto que a resposta é Deus (para quem eventualmente não acredite não perder o seu tempo com argumentos cuja premissa é algo que, apesar de real, não acredite).

Mas também não é uma receita (para quem eventualmente queira uma resposta fácil também não perder o seu tempo). E também não é nenhuma novidade (pois só o cristianismo já conta mais de dois mil anos, e antes disto já se acreditava em Deus).

O fato é que o Cura d'Ars pôs seus desejos em paralelo aos desejos de Deus, e embora seja sutil, a diferença disto para pôr os desejos de Deus em paralelo com os nossos é enorme, e o resultado são todos estes messianismos que não ousam dizer o nome. Não adianta desejar dissociadamente dos desejos de Deus, porque os resultados serão sempre frustrantes, mas quase sempre estas frustrações são postas de lado em nome da possibilidade de ir além - o que resulta na falta de limites cujo melhor exemplo é o da ganância de quem tem muito dinheiro e se esforça por acumular ainda mais e mais, mas vale também pra tudo: comida, prazer, sexo, conhecimento, fama, poder, até mesmo para santidade.

Pôr os próprios desejos em paralelo aos de Deus é o único caminho para qualquer coisa que buscamos em todos os outros caminhos, mas implica em um comprometimento do desejo que facilmente parece ser indesejável.

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