Divagar divagarinho

Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!

05/07/2008

 

Nietzsche e ecologia.

a) Nietzsche foi um filósofo maldito até certo tempo. Depois disso, virou filósofo da moda - hoje em dia, mais exatamente. Sua legião de fãs considera-se maldita também, alternativa e coisas do tipo. Posso estar errado - e até espero estar - mas provavelmente a metade dos ditos malditos não entende metade do que lê, e entende mal a outra metade. "Deus morreu" não é um teocídio e nem uma frase de efeito gratuita (quer dizer, é sim uma frase de efeito, mas não está lá só pelo efeito, pela sensação que causa); "o homem criou a mulher da costela de seu deus, seu 'ideal'" (citei de memória, provavelmente não é exatamente assim) não é uma frase machista (basta ler Simone de Beauvoir), pelo contrário, vai ao encontro do feminismo; declarar-se um descendente de nobres poloneses não é loucura e nem piadinha, isso não é sobre sua família. Mas é fácil citar Nietzsche por aí.

b) Por isso, eu acho difícil elogiar Nietzsche. Gosto dos seus livros, de muitas das suas idéias e do jeito como escreve. Mas não sou maldito, nietzschiano, alternativo, nem entendedor de Nietzsche. Por isso, fico meio assim de elogiá-lo. Mas, enfim, elogio.

c) Isso só para dizer que não quero falar da obra, nem do filósofo e sua filosofia, nada disso. Só sobre um detalhe fundamental da vida dele:

d) Nietzsche enlouqueceu no final da vida. O sintoma mais conhecido dessa loucura foi sua tentativa de defender um cavalo das chicoteadas que recebia, abraçando-se nele.

e) Se Nietzsche enlouqueceu, é necessário que se interne todas as socialites que dão festas de aniversário para seus cães, e para todas as outras pessoas, independente das condições sociais, que amam seus animais.

f) É necessário internar, junto, ambientalistas, ecologistas, pessoas que economizam recursos naturais, gente que compra ou vende créditos de carbono, enfim, essa malucada toda.

g) Ou, então, ele de louco não tinha nada, pelo contrário: a vida de um cavalo não vale mais do que a de uma pessoa - mas também não vale menos.

h) É difícil afirmar uma coisa dessas, quando nem as vidas humanas valem muito por si sós - aposto que se somarmos a renda de todas as pessoas assassinadas, mortas por negligência médica, balas perdidas, por nada, por assalto, etc, ela não será maior do que a renda das pessoas vivas hoje. O cálculo pode parecer tosco e inclusive pode dar errado, mas o que eu quero dizer é que a vida de uma pessoa, hoje em dia, vale mais ou menos tanto a quantia de dinheiro que ela tiver (incluindo conta no banco, investimentos tipo ações e imóveis, e cargos).

i) Por isso que "loucura" é você pensar (caso pense) que é um ser superior a qualquer bicho que vemos por aí. Eu não estou pregando que se pare de matar mosquitos no quarto, e nem que se pare de tomar Nescau (que, aliás, tem ficado horrível nos últimos anos, e por isso eu só tenho tomado Toddy ou Barra, este último mais barato). Isso, na minha opinião, é uma arrogância que não é diferente da arrogância comum que vemos tanto por aí.

J) E, por incrível que pareça, a arrogância não é o pior disso tudo (e não é tão fácil achar coisas piores do que arrogância - há muitas até, mas não é fácil). O pior é que é essa arrogância que, possivelmente vai acabar com a vida humana no planeta.

K) Que bom se a humanidade conseguir manter-se por muitos e muitos anos sobre a Terra. Mas, se não puder, paciência. O ser humano não é o ápice da criação, e a natureza não tem necessidade de sua existência. Acho que a continuidade da espécie é um bom argumento para a promoção da manutenção da natureza, mas não é um argumento absoluto (tanto porque nem a espécie humana é tão importante para a natureza, quanto porque existem coisas mais importantes do que a perpetuação da espécie).

L) Um argumento que deveria ser indefensável é: viver bem hoje em dia.

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