Divagar divagarinho

Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!
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3 de janeiro de 2007

 

Confiança

Confiança não é coisa para qualquer pessoa. Da minha parte, por exemplo, é difícil de se obter. Veja bem, "difícil" não quer dizer "raro". Eu sou bastante trouxa, o suficiente para que me façam de idiota com facilidade. Já desisti da malandragem. Não sei se funcionou para a Cássia Eller, mas fazem anos que eu canto "Eu só peço a deus um pouco de malandragem", e nada. Só consigo ser mais trouxa. Talvez por isso... "Ou não", como diria "Caê" (conheço pessoas que chamam Caetano Veloso de "Caê", pessoas que eu sei que o cantor não faz a menor idéia que existem; me divido entre ter raiva de uma pessoa tão medíocre a ponto de tratar um artista como se fosse seu camarada, mesmo que este artista não saiba da existência desse camarada, e ter pena dessa mediocridade. Mas eu também tenho minhas mediocridades; espero apenas que sintam por mim o que quiserem, menos pena - mesmo quando eu queira que sintam pena de mim).
Mas, sobre a confiança, a recíproca é verdadeira: é difícil conquistar, também, a confiança de outra pessoa. É difícil ser confiável. Têm pessoas de quem sei que tenho, ou acredito ter, confiança. Outras, não me interessa o mínimo se confiam em mim ou não. Tem também aquelas que, para seu próprio bem, espero que não confiem em mim, porque destas (poucas, mas contundentes) eu não teria o menor pudor em trair a confiança, a menos que isso fosse muito imprudente na hora. Mas existem pessoas, pouquíssimas, acho que talvez apenas uma, de quem eu gostaria de ter a confiança. Que pudesse deixar algo como, por exemplo, seu diário comigo e confiasse que eu não leria. Não importa se eu leria ou não (e, desta que tenho em mente, eu não leria mesmo). Mesmo sendo uma pessoa bastante fuxiqueira, curiosa além do que é de minha conta, estas poucas pessoas (talvez somente "esta" pessoa) merecem meu supremo esforço em não bisbilhotar onde sei que seria invasivo fazer isso. Até porque, por mais que realmente haja esforço de minha parte, de certa maneira é mais fácil não trair a confiança de quem eu gosto.
Mas "de quem eu gosto", no fim das contas, não tem confiança em mim. E é aqui que ou eu descobri algo muito importante, fundamental, ou então estou fazendo uma tempestade em um copo d'água.
Acontece que o fato de eu confiar em alguém não gera um compromisso de reciprocidade: ninguém em quem eu confio tem obrigação de confiar em mim. Nem "de quem eu gosto". Mas "de quem eu gosto", por mais que eu goste, não tem confiança em mim. E isso muda tudo. Não tenho como esperar, como desejar, como me permitir alimentar expectativas por alguém que não confia em mim. Pessoas que eu espero que confiem em mim, mas que não confiam, tenho bastante no trabalho, na faculdade, na rua da minha casa... mentira, ninguém na rua da minha casa tem, da minha parte, esta expectativa. Eu não sei se eu me faço entender, e deve ser porque nem mesmo eu entendo bem. Mas uma amizade precisa ter confiança. Já me afastei de gente muito querida e importante por sentir a desconfiança alheia. É algo que você sente na nuca, um arrepio nos cabelos da nuca, mas, no caso, era ciúme, não de mim, mas ciúme da namorada, como se eu fosse calhorda o suficiente para trair a confiança de duas pessoas assim (porque quando você faz amizade com um casal, e imagina que as duas pessoas confiem em você, você trai as duas ao dar em cima de alguma das pessoas do casal, e o ciúme alheio na sua nuca, ainda mais sem motivo, apenas por paranóia espontânea, é realmente desagradável). A questão agora não é o ciúme de ninguém. É tão somente desconfiança. É colocar-se em posição de defesa, mesmo que seja de maneira muito sutil, quando vêem que você coloca a mão nos bolsos, com medo que você tire dali uma faca. É pensar que você seria alguém filha-da-puta o suficiente para agir de ma-fé. Não se trata tanto da mágoa que isso me causa. Mágoa passa, se passa por cima, dá trabalho, e muito, mas quando você gosta de alguém, vale o esforço. Se trata mais que uma coisa prática, uma questão funcional. Eu não posso querer conviver com alguém que não confie em mim. Tudo bem que me cobrem, mas cobrar lealdade constantemente seria o fim. Quando você convive com alguém, não precisa ser um relacionamento amoroso, em certos momentos é necessário tanto saber que eu posso fechar meus olhos e me deixar cair que alguém vai me segurar, quanto que a pessoa com quem eu convivo também seja capaz de fechar os seus olhos e confiar que eu estarei ali, que não a deixarei cair. E se a pessoa não for capaz de fechar os olhos perto de mim, se não for capaz de baixar a guarda, não é que não sirva, como se fosse uma tesoura sem fio, mas é que não funciona a relação. Pode-se estabelecer relações onde a guarda fica em alerta - no trabalho, na faculdade onde as cobras peçonhentas estão sempre sibiliando atrás dos murais e nas esquinas dos corredores - e, a´te algumas vezes, uma relação assim, mesmo permeada de desconfiança, pode ser muito agradável, porque você não espera que aquela pessoa confie muito em você, mas confie um pouco, níveis ordinários de confiança. Mas certas relações não vingam com desconfiança.
Talvez eu é que seja exigente demais (talvez seja por isso que, afinal de contas, eu nunca tenha amado, por exigir confiança demais). Talvez eu queira das pessoas - de certas pessoas, ou de uma em particular - algo que ela não possa, ou quem sabe até nem queira me oferecer. Mas, por mais que isso seja quase como ter que cortar um pedaço da minha carne, e sem fazer escândalo, isso, a confiança, a confiança em mim, não é possível ficar faltando. Isso é como "avião sem asa, fogueira sem brasa": não existe - ai, espero nunca ter que pagar por dizer isso - amor sem que confiem em você.

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