Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!
Acho que eu estou começando a entender o meu interesse por enfermagem.
Estive falando com uma prima, que é enfermeira, sobre as relações entre medicina e enfermagem. Trata-se de uma relação um tanto conflituosa: médicos (sem, é claro, generalizar exageradamente) vêem enfermeiros como "hierarquicamente inferiores", digamos assimn. Quer dizer, a enfermagem é uma coisa menor, uma ocupação mais vil, mais chã.
A coisa toda tem mais detalhes, mas comi muito peru (na verdade era um porco) e isso tira o ânimo da pessoa escrever.
Mas existe uma relação semelhante na filosofia. existe uma filosofia "enfermática" e uma filosofia "médica". Kant, por exemplo, faz uma medicina filosófica - ou uma filosofia médica, se se quiser assim. Ou seja, Kant prescreve, diagnostica, trata a parte pelo todo. Kant investiga o conhecimento, descobre seus limites, suas propriedades, faz uma crítica. Por outro lado, temos alguém como Kierkegaard. Kierkegaard (que, já me disseram, pronuncia-se "kirquigór", com o segundo "r" puxado como o do interior - outra curiosidade fora do assunto: ele chama-se Soren Kierkegaard, meu teclado não tem aquele "o" cortado no meio para escrever certo, e "Soren", em dinamarquês, é "Severino"; imagine Kierkegaard recitando: "meu nome é Severino, não tenho outro de pia..."); enfim, Kierkegaard tem os seus diferentes pseudônimos, ele escreve um livro com um pseudônimo e, com outro pseudônimo, polemiza com o anterior - aliás, os estudiosos (os epsecialistas) de Kierkegaard consideram cada pseudônimo praticamente de forma independente: não foi Kierkegaard quem escreveu Migalhas Filosóficas, mas sim Climacus. Kierkegaard escreveu as Obras do Amor, ou o Diário de um Sedutor, mas não as Migalhas. Interessante. E muito diferente de uma Crítica da Razão Pura.
Kierkegaard, Nietzsche, Montesquieu, esse povo é um pouco escanteado na filosofia - não muito, claro, pois Nietzsche está na moda, Foucault também - mas é uma filosofia tida como de segunda categoria, como a carne mais barata que se compra no supermercado, uma filosofia que não é um Kaaant, não é um Heeeegel, mas é uma filosofiazinha, tem seu valor, é bonitinho. Mas você tem que conhecer, mesmo, é Kant, a filosofia séria de Hegel, Descartes, Habermas....
Não é para parecer um conflito de classes - nem na saúde, e nem na filosofia, embora essa coisa toda também dê margem a isso. Mas mais do que um conflito de classes, é uma postura. O médico que te olha por cinco segundos - e já é muito - e te diz "é uma virose, tome uma aspirina e volte em quinze dias se não passar" ou "mas você
não pode ter dor aí: o raio-x não mostra nada, pode olhar"; possui uma postura diferente do filósofo menor que escreve por aforismas, cria conceitos ou fala em mônadas.
Acho que é por aí.
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