Divagar divagarinho

Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!

03/12/2006

 

Filosofia clínica

Um professor uma vez comentou, em um contexto que não vem ao caso, que as doenças e a manutenção da saúde é tarefa dos médicos; o cuidado com os pacientes, da enfermagem; a pesquisa sobre a formação do corpo, suas características, enfim, sobre a biologia do corpo, é terefa da biologia. Mas o conceito de saúde, a quem cabe? "À filosofia", disse ele em causa própria.
Eh, bien! Vejamos: clínica é o local onde exerce-se a medicina. Centros médicos, hospitais, postos de saúde, são clínicas. A medicina é o exercício da manutenção da saúde do corpo (em geral, humano). Operações, tratamentos, investigações; consultas, são tarefas dos médicos. Você se sente mal, com dor de cabeça, tonturas, engravidou, torceu o pé, e vai no médico. Pede um remédio, uma recomendação, um atestado. Médicos são coisas detestáveis: você está mal, doente, fragilizado de alguma maneira, e tudo o que está em questão é que você enquadre-se dentro de determinadas expectativas clínicas. Hoje em dia está em moda a virose: tossiu muito à noite? Sente dor de cabeça? Fraqueza? É um vírus. Muito comum no verão. Compre este antibiótico. Não se preocupe, o genérico é o mesmo preço. Até as ciganas me conhecem melhor, quando se trata de conhecimento genérico sobre mim. Por isso, confio mais nelas, embora nunca pague pelas previsões....
Enfermeiros são legais. Existem os puxa-sacos, eles existem em todos os lugares, mas geralmente estão do lado da gente e não do médico. Prefiro os cuidados dos enfermeiros do que os dos médicos. Médicos são chatos, e enfermeiros são mais despachados, fazem piadas (inclusive sobre o médico), contam causos, dizem que não vai doer (todos sabem que é mentira, mas enganam bem).
Se não me falha a memória, Nietzsche foi enfermeiro. Sei lá onde, mas cuidou dos feridos de guerra em algum conflito ocorrido antes de 1900. Dizem que enlouqueceu e quis salvar um cavalo ferido no meio da rua. A) ele enlouqueceu B)quis salvar um cavalo ferido no meio da rua C) disso NÃO se conclui que enlouqueceu. Foi seu lado enfermeiro que foi posto em ação, aposto. Até, hoje em dia, não entendo como não é cultuado, como não virou ainda ícone desta nova ética dos animais. Imagine: o malvadão Nietzsche precursor de Peter Singer! Meigo.
Mas ele foi enfermeiro. O enfermeiro é um médico sem a burocracia, me parece. Não acho que todo médico deveria ser, na verdade, enfermeiro; ao contrário, os enfermeiros deveriam ser as cabeças da medicina. Uma enfermeira sabe de longe se o enjoô se resolve com leite de magnésia ou com um pré-natal. Os médicos, talvez não todos, também sabem, mas precisam de muitos exames para confirmar, e ai de quem sentir-se diferente do que atestam os exames.
A filosofia de Nietzsche é, entre outras coisas, uma manutenção das forças. Difícil explicar isto assim, acho que este texto vai servir somente de introdução porque estão acabando meus cigarros e se levantar do computador, não volto.
Mas toda esta questão das forças reativas X modos de valoração nobres é uma questão de forças, e saúde é um estado no qual se está de posse de suas forças, está forte, está saudável.
O que é saúde? Não pergunte ao seu médico. Pergunte a Nietzsche - ou a algum outro enfermeiro.

Comparações toscas
(que comparação não será tosca?) Nietzsche também foi o precursor do blog, com seus aforismas. Se bem que de um aforisma para um post a queda é grande, dependendo do post. (anotação para o futuro: que mania de encontrar precursores, ainda mais precursões assim, criativas)

Comments:
Gosto da tua maneira de escrever.

Mas indo ao assunto: uma vez eu estava lendo uns códigos de ética de Enfermagem e descobri que é apenas neles (códigos da Enfermagem) que são citados os pacientes. Em todos os códigos de ética médicos, desde a Antigüidade Clássica (já que gostamos tanto de nos comparar aos gregos), os códigos de Medicina tratam apenas dos médicos: seus direitos, obrigações, proibições.

Deve ser por isso que os médicos não nos tratam como pessoas, mas como organismos biológicos sujeitos a variações químicas, infecções e a viroses. Quase uma ciência exata do homem consertando o computador que trava de vez em quando. (Até acho que a anologia do "corpo como uma máquina" continua em voga na Medicina.)
 
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